Rita e o Desafio das Rifas

Capítulo 1: O Cheiro de Pão de Queijo e o Livro de Rifas

Era uma manhã ensolarada na Escola Sol de Primavera, cuja arquitetura brutalista se destacava com suas linhas retas, concreto exposto e ausência de enfeites desnecessários. Para Rita, aquela escola era como um símbolo de verdade: sem distrações, focada no que era realmente importante — as pessoas e suas histórias.

Enquanto a professora Sra. Carmem explicava o desafio das rifas, Rita olhou ao redor. Cada parede e pilar parecia contar uma história. “É como o vôzinho diz,” pensou Rita, “o que importa é o que sustenta, não o que enfeita.”

“Hoje é dia de desafio!” anunciou a Sra. Carmem, segurando um livro de rifas coloridas como se fosse um troféu. “Cada um de vocês vai vender rifas para ajudar na nossa festa da escola. E lembrem-se: cada ‘não’ que receberem é um passo mais perto de um ‘sim’!”

Enquanto a professora falava, o cheiro de pão de queijo quente subia pelos corredores, invadia as salas sem pedir licença e fazia até os mais desanimados suspirarem. Rita pegou seu livrinho de rifas, apertou-o contra o peito e pensou: "Essa vai ser uma aventura!"

Capítulo 2: Portas e Desafios

As portas da escola refletiam o espírito do lugar: simples e funcionais, mas sempre firmes. Cada uma era um novo desafio para Rita. Ao bater nas portas, ela não estava apenas vendendo rifas. Estava aprendendo que, assim como na escola, a força vinha de dentro — não de enfeites, mas de como você encara cada obstáculo.

Na biblioteca, encontrou a Sra. Gertrudes. “Bom dia! A senhora quer ajudar a nossa festa da escola comprando uma rifa?” perguntou Rita, esticando o livrinho como quem oferece um presente.

A Sra. Gertrudes olhou para Rita e, por um momento, viu-se refletida naquela menina de cabelos cacheados e olhos curiosos. Lembrou-se de sua própria infância, quando participava das atividades da escola com o mesmo entusiasmo. Aquela memória aqueceu seu coração.

“Ah, Rita, você me lembra tanto de mim mesma quando eu era pequena. Sempre animada, sempre disposta a ajudar. É claro que vou ajudar! Me dê duas rifas, e boa sorte nas suas vendas!”

Rita, surpresa e encantada, agradeceu calorosamente. Saindo da biblioteca, sentiu que algo especial havia acontecido. Mais do que vender rifas, ela havia criado uma conexão verdadeira.

Mas, ao virar a esquina de um corredor, algo a fez hesitar. Lá estava um professor discutindo com um entregador, gesticulando e falando alto. Ao lado deles, uma enorme caixa com uma TV parcialmente quebrada chamava a atenção. O entregador tentava explicar, mas o professor não parecia disposto a ouvir.

Rita respirou fundo. “Essa porta vai ser mais difícil”, pensou, mas reuniu coragem e bateu suavemente. A porta se abriu rapidamente, revelando o professor ainda irritado, com as sobrancelhas franzidas e a voz dura: “O que é agora?”

Rita ficou paralisada por um instante. Seu coração batia forte, mas então ela lembrou do que sua mãe sempre dizia: “Tratar os outros com carinho é como plantar sementes no coração deles.”

Ela sorriu com gentileza e disse: “O senhor tem razão em estar bravo. Não é nada bom receber algo que veio quebrado. Isso realmente deixa a gente chateado, não é?”

O professor, que parecia pronto para descarregar sua raiva em alguém, foi pego de surpresa. Ele olhou para Rita e, por um momento, sua expressão se suavizou. As palavras dela, tão simples, pareciam ter tocado algo dentro dele. “É... você está certa. Não é bom mesmo. Só queria que as coisas fossem como deveriam.”

Rita assentiu, mantendo o olhar carinhoso. “Todo mundo merece ser tratado com cuidado, não é? Eu sei que o senhor tem razão.”

O professor respirou fundo, como se soltasse junto com o ar parte de sua raiva. Ele olhou para o livrinho colorido nas mãos de Rita e perguntou: “O que é isso que você está vendendo?”

“São rifas para a festa da escola! O senhor quer ajudar?” disse ela, estendendo o livrinho com esperança.

O professor riu levemente, agora com uma expressão muito mais tranquila. “Sabe de uma coisa? Vou levar três. Quem sabe isso melhore meu dia?”

Rita agradeceu calorosamente e saiu dali com um sorriso, sentindo que algo especial havia acontecido. Mais do que vender rifas, ela havia plantado uma sementinha de calma e compreensão no coração de alguém.

Capítulo 3: As Lições do Vôzinho

Enquanto caminhava para a próxima porta, Rita encontrou João, um de seus colegas, que parecia preocupado. “Rita, você não vai acreditar no que aconteceu!” disse ele, com os olhos arregalados. “O Pedro desceu correndo a rua do mercado, e sabe o que aconteceu? Tinha areia no asfalto, daquela que a chuva trouxe, e ele escorregou feio! Se arrastou no chão e machucou o rosto, a orelha, e ainda rasgou toda a roupa.”

Rita parou, sentindo um aperto no peito. “Nossa, João, isso deve ter doído muito. Ele está bem?”

João balançou a cabeça. “Estava chorando muito. Fiquei com pena, mas não sei se vai ficar tudo bem.”

Nesse momento, Rita se lembrou do que seu vôzinho sempre dizia: “Rita, a vida é um parque de diversão. Tudo tem solução, só precisa de um pensamento bom.”

Ela olhou para João com um sorriso confiante. “Ele vai melhorar, João. O rosto pode estar machucado agora, mas vai cicatrizar. E as roupas rasgadas... bem, essas podem ser trocadas. Você sabe o que seria bom? Quando ele voltar, a gente pode conversar com ele e ajudá-lo a se sentir melhor.”

João parecia mais calmo. “É... acho que você tem razão, Rita. Pedro sempre melhora rápido.”

“Claro que sim!” disse Rita, enquanto sentia o perfume de capim santo e alecrim vindo do jardim da escola. “E enquanto isso, vamos continuar com as rifas. Hoje é um bom dia para ajudar!”

E assim, com as palavras do vôzinho ecoando em sua mente, Rita seguiu em frente, sabendo que até os piores tombos podem ser superados com um pouco de cuidado, paciência e um pensamento bom.

Capítulo 4: A Festa e a Reflexão

Quando a festa finalmente chegou, o pátio brutalista parecia uma obra de arte moderna, decorado com balões coloridos, flores e luzes que piscavam como estrelas.

Rita olhou ao redor e pensou: “Assim como a nossa escola, o que importa não são os enfeites, mas a estrutura que sustenta tudo. Hoje, aprendi que o mais forte é aquilo que vem de dentro.”

A Sra. Carmem reuniu os alunos e perguntou: “O que vocês fizeram hoje que os fez se sentir mais felizes?”

Rita levantou a mão. “Hoje, eu vendi rifas. Mas também fiz amigos, aprendi a ouvir e descobri que, às vezes, é o nosso sorriso que abre as portas. Isso me deixou muito feliz.”

E ali, entre o perfume das rosas, as risadas dos amigos e o barulho de um cachorro que insistia em latir no fundo, Rita percebeu que tinha aprendido algo muito importante: a felicidade está em como enfrentamos os desafios, não em evitá-los.

O que você fez para ter um dia melhor hoje?

Fim.

Erogat C
Enviado por Erogat C em 05/01/2025
Reeditado em 06/01/2025
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