O Louva-a-Deus de Tênis

Não muito longe daqui, havia uma floresta brilhante, cheia de flores coloridas e pássaros cantantes, onde vivia Fred, um louva-a-deus muito especial. Fred não era como os outros louva-a-deus que saltavam de galho em galho ou conversavam animadamente enquanto comiam folhas. Ele gostava de coisas diferentes: observar o balançar das folhas ao vento, contar gotas de orvalho nas pétalas e admirar os padrões simétricos nas asas das borboletas.

Mas havia algo que chamava ainda mais atenção em Fred: ele usava um par de tênis azuis! Não porque precisava para andar, mas porque os tênis o faziam sentir seguro. Para Fred, o mundo era cheio de sensações e ruídos que às vezes o assustavam, mas seus tênis o ajudavam a se conectar com o chão e a lembrar que ele estava bem.

Fred tinha uma rotina bem definida. Todos os dias, ele visitava as mesmas flores, fazia os mesmos caminhos e descansava em uma velha concha escondida atrás de uma pedra. Mudanças na rotina o deixavam desconfortável. Certa vez, os ventos fortes derrubaram a flor que Fred sempre visitava pela manhã. Ele ficou parado por horas, olhando para o lugar vazio, sem saber o que fazer.

Os outros insetos tentaram ajudá-lo. “Venha, Fred, há outra flor ali perto!”, disse a borboleta Lia. Mas Fred não conseguia se mover. Ele queria sua flor de sempre. “É como se algo dentro de mim ficasse fora do lugar”, explicou mais tarde para a Joaninha Elisa, que sempre tentava entender seu jeito.

Fred tinha dificuldade para falar com os outros insetos. Muitas vezes, ele queria dizer algo, mas as palavras não saíam. Quando alguém o chamava para brincar, ele olhava para baixo ou ficava em silêncio. Isso fazia alguns insetos pensarem que Fred não queria ser amigo deles, mas não era verdade. Fred só não sabia como expressar o que sentia.

“Por que você não fala com a gente, Fred?”, perguntou o grilo Téo. Fred deu um sorriso tímido e respondeu: “Às vezes, falar é muito difícil. Parece que as palavras fogem.”

Além disso, Fred tinha dificuldade em entender as emoções dos outros. Quando Elisa ficou triste porque perdeu um jogo, Fred olhou para ela e disse: “Mas por que você está chorando? O jogo acabou. Não precisa ficar assim.” Ele não entendia por que os outros ficavam tristes, felizes ou nervosos tão facilmente.

Fred também era muito sensível a sons e luzes. Uma vez, enquanto todos os insetos estavam reunidos para uma festa no jardim, os vagalumes começaram a piscar suas luzes rapidamente e os grilos fizeram um som alto para comemorar. Fred ficou tão incomodado que precisou se afastar. Ele se escondeu em sua concha, fechou os olhos e ficou mexendo as antenas repetidamente, um movimento que o ajudava a se acalmar.

“Está tudo bem, Fred?”, perguntou Elisa, preocupada.

“Está. Só preciso de um tempo. O mundo ficou muito barulhento agora”, respondeu ele.

Fred era fascinado por padrões. Ele podia passar horas observando as linhas perfeitas nas asas das borboletas ou o formato de uma teia de aranha. Enquanto todos os outros insetos voavam e brincavam, Fred preferia ficar quieto, analisando cada detalhe.

“Por que você não vem brincar, Fred?”, insistia o gafanhoto Zeca.

“Estou ocupado. As asas dessa borboleta têm linhas muito bonitas. Quero entender como elas funcionam”, explicava Fred.

Embora os outros não entendessem, para Fred, esses momentos eram mágicos.

Fred também tinha problemas na coordenação motora. Enquanto os outros louva-a-deus saltavam facilmente entre os galhos, Fred tropeçava ou caía. Ele demorou muito mais tempo para aprender a voar e, mesmo depois de adulto, evitava grandes alturas.

Uma vez, ao tentar alcançar uma folha alta, ele caiu e ficou envergonhado. “Tudo bem, Fred, você tentou!”, disse Elisa, tentando confortá-lo. Mas Fred não respondeu, apenas ajeitou seus tênis e voltou a caminhar.

Certo dia, o céu da floresta começou a escurecer. Nuvens pesadas surgiram, o vento soprou forte, e os outros insetos ficaram assustados. Eles voavam de um lado para o outro, procurando um lugar seguro. Fred estava sentado sob uma flor, observando as gotas de chuva que começavam a cair.

De repente, ele se lembrou da velha concha atrás da pedra, seu lugar seguro. Ele sabia que ali o vento não os alcançaria. Então, mesmo com medo, Fred chamou os outros insetos.

“Sigam-me!”, disse ele, correndo com seus tênis azuis pela floresta molhada. Alguns insetos hesitaram, mas logo perceberam que Fred sabia o que estava fazendo.

Quando todos estavam seguros na concha, Elisa disse: “Fred, você nos salvou! Você é incrível!”

Fred ficou tímido e respondeu: “Eu só sabia que era um bom lugar. Fico feliz que ajudou.”

Depois da tempestade, os insetos começaram a ver Fred de uma maneira diferente. Eles perceberam que seu jeito único de pensar e agir era um presente para todos. Eles aprenderam a valorizar as pequenas coisas, como contar gotas de orvalho, admirar os padrões nas asas das borboletas e respeitar as rotinas e necessidades uns dos outros.

Fred, por sua vez, percebeu que ser diferente era algo especial. Ele podia não fazer as coisas como os outros, mas isso não o tornava menos importante.

E assim, no jardim, todos entenderam que cada um tem sua própria maneira única de ver e viver a vida.

Tubarão Mecânico e Izabela Assis
Enviado por Tubarão Mecânico em 05/01/2025
Código do texto: T8234677
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