AS LIXEIRAS

Enfileiradas em rua de muito movimento estavam várias latas de lixo. O aviso dizia: “Deposite aqui o seu lixo”, mas a rua estava suja. Lixo por todos os lados. Pessoas passando nem ligavam para o aviso, simplesmente jogavam papéis, copos plásticos e qualquer coisa que não quisessem mais. Um homem apressado descascou uma banana e jogou a casca no chão. Foi então que uma das latas de lixo gritou.

- Moço, jogue a casca na lata de lixo sujo.

- Não seja boba. Acha que ele vai ouvi-la? – repreendeu outra lata.

- Se nós não gritarmos nada mudará.

- Isso é questão de educação, amiga. Ninguém dá o que não tem.

Dito isso as latas se calaram. Minutos depois um velhinho, apoiado em uma bengala, escorregou na casca de banana e caiu. Um menino correu para ajudar o homem a se levantar.

- Você viu? Perguntou a primeira lata de lixo.

A outra lata nem respondeu. Isso acontecia todos os dias naquela rua com tantas latas de lixo e muito lixo no chão. E a conversa continuou:

- Como pode jogar lixo na rua! – reclamava uma das latas.

- Acho que a culpa é do governo. – disse a lata de lixo limpo.

- Você deve ficar calada. Não vê que isso é um caso de educação? Pergunte a qualquer um desses passantes se quando estão em suas casas eles jogam o lixo na cozinha, nos quartos ou na sala.

O bate-papo das latas de lixo se estendeu por muitas horas, e as pessoas continuaram a jogar detritos por todos os lados. Mas as latas de lixo teriam uma surpresa. A Natureza resolveu dar uma lição nos porquinhos que sujam tudo. Começou a chover. Uma chuvinha fina que aos poucos foi se tornando muito forte alagando as ruas e carregando o lixo para os bueiros entupindo tudo. As ruas mais pareciam rios volumosos. As latas de lixo boiavam assustadas.

- Será que seremos levadas para o mar? Perguntou medrosamente a lata de lixo limpo.

- Não sei. Mas calculando a força da água, logo estaremos no oceano e desapareceremos em poucos minutos. Choramingou a lata destinada aos vidros.

A chuva parou e o sol brilhou no céu. As latas de lixo não foram levadas para o mar, ficaram espalhadas pelo meio da rua atrapalhando o transitar dos carros. O lixo foi acumulado, pela água, na porta de cada casa daquela rua. Para sair era preciso pular o “muro” de detritos. Veio a limpeza pública e fez a faxina. Em pouco tempo a rua estava limpinha, as latas de lixo arrumadinhas uma ao lado da outra. À tardinha, uma senhora bem vestida e com uma bolsa grande passeava com seu cãozinho pela calçada. O animal parou, como de praxe, para fazer seu cocozinho básico. As latas de lixo estavam de olho na cena. A senhora, com um saquinho plástico, apanhou a caca e embrulhou. As latas aplaudiram o gesto.

- Bravo! - gritou a lata de lixo sujo.

- Nem tudo está perdido. – disse a lata de lixo limpo sorrindo.

Mas a senhora bem vestida passou pelas latas de lixo e foi jogar a caca do cão no canteiro que circundava uma árvore plantada na calçada. A lata de lixo sujo gritou:

- Dona, ponha sua caca aqui.

- Não adianta. – disse a lata de lixo limpo.

- Sabe colega, a minha vontade é pegar a caca do cão e jogar dentro daquela bolsa grandona. Imagine a cara de senhora tão elegante enfiando a mão bolsa. KKKKKK. Educação vem de berço e cidadania se aprende respeitando as leis. Meninas, vamos esperar. Talvez mude um dia.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

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