Amizade Estelar
Essa é a história de duas estrelas que eram amigas - estrela Alfa e estrela Beta -, mas que acabaram se separando. Isso sempre acontece e ninguém sabe por quê. No Cosmos, isso já ocorreu tantas vezes que as estrelas começaram a supor a existência de uma Lei que separa as estrelas. É algo que não teria como enfrentar.
- Vamos nos separar em algum momento. - disse Alfa.
- Você diz isso porque isso aconteceu com outras amizades estelares? - perguntou Beta.
- Sim.
- Tem que ter um jeito de enfrentar isso.
Alfa era uma estrela estoica. Mas por que estoica? Era uma estrela que compreendia a existência de leis que a transcendiam e apenas aceitava esse fato. Não sofria, era indiferente. Entendia que não se poderia mudar o rumo das coisas. A estrela Alfa sabia que só poderia controlar seus pensamentos, a si mesma. Então, ela precisava dar um jeito de enfrentar internamente a separação da amiga.
Beta, por outro lado, não era uma estrela estoica. O fato de ser separada da amiga estrela lhe causava profundo sofrimento. Ela tinha que encarar essa situação cedo ou tarde. Mas já se atormentava muito antes do dia da separação.
Certa vez, escutou de outras estrelas que havia uma entidade fora do espaço-tempo, que poderia ajudá-la a enfrentar a tristeza: a Grande Metáfora.
Por que esse ser teria utilidade? A Grande Metáfora não tem uma forma constante que a designe. Sabe-se que ela tem o formato abstrato, com múltiplas cores e assume variados aspectos. O seu poder está em transformar o abstrato no concreto. Diante do ente que vai procurá-la, ela transforma-se em seres concretos para que seja possível a comparação. Acredita-se que a comparação ajuda a lidar com a dor, pois materializa sentimentos abstratos como a tristeza. Desse modo, pode-se compreender melhor por que se está triste, o que leva a soluções para lidar com esse sentimento.
Querendo superar a dor de se separar da amiga, Beta foi até a Grande Metáfora. Diante de imagens indecifráveis, Beta viu algo se formar. As formas matemáticas começaram a virar desenhos conhecidos. Formas geométricas ganharam o formato de navios. Logo Beta estava imersa e toda abstração da Grande Metáfora tornou-se concreta.
Beta agora aparecia como um capitão de um navio que acabou cruzando o caminho de outro navio. Ambos os capitães tinham objetivos distintos. Depois de se encontrarem, as duas tripulações festejaram juntas por dias. Foi então que a confusão se manifestou. Pareceu que as duas tripulações tinham um único objetivo. O capitão do outro navio avisou a Beta sobre essa falta de distinção. Beta notou que esse capitão era Alfa, que lhe disse:
- Temos tarefas diferentes.
Assim, cada tripulação voltou para seu navio para que cada um seguisse seu objetivo. Os dois capitães agora compreendiam que talvez nunca mais se vissem de novo. Mas esse encontro ainda era uma possibilidade, embora houvesse o risco de eles não se reconhecerem. Porém, no caminho para se atingir metas, os capitães conheceriam novos amigos.
Quando voltou a si, a estrela Beta entendeu tudo. Ela e sua amiga Alfa possuem objetivos diferentes. Não há uma lei em si; as próprias tarefas acabam separando os amigos. Entretanto, a lembrança da amizade ainda existirá e ela ficará mais sagrada a cada dia que passa.
Compreender isso fez com que a tristeza de Beta diminuísse de forma significativa. Ela estava pronta para lidar com o afastamento de Alfa e estava ciente de que conhecerá outras estrelas na rota estelar rumo ao seu objetivo.
FIM