Os gatos terão sempre mais ração...?
Sarita encanta com a sua naturalidade e perspicácia para uma menina de seus oito anos. A narrativa da aventura que experimentou ao provar meio clandestinamente duma ração de gatos, com as suas próprias palavras, e que ouvi, tendo até preterido uma emissão mozartiana da Rádio MEC, seria candidata irresistível a um Jabuti infantil. Ou adulto mesmo. A descrição da consistência, do gostinho e até do after-taste da iguaria felina, pareceu dar água na boca das priminhas Loló e Malu, de 9 e 6 anos respectivamente.
Se a pandemia da covid-19 as manteve dolorosamente afastadas por um par de anos, o reencontro, a retomada de afetos compensou plenamente com inusitado vigor. Verdade é que Sarita tem um irmão também, a quem idolatra, só que vinte anos mais velho, já dono de seu próprio nariz, e de, aparentemente, mais distinto paladar.
Mas exotismo a parte, o que conta, ou contaram, é a sensatez de Sarita. Quando ela descreveu para a mãe em igualmente deleitosos pormenores, o seu encantamento com a casinha de bonecas das primas, a primeira reação da progenitora foi anunciar que ela a regalaria com uma igual... ao que Sarita ponderou, judiciosamente:
- Mamãe, tanto as primas quanto a mamãe delas me acolhem tão bem e me deixam brincar tão à vontade com elas, que eu não vejo necessidade de ter uma casinha só para mim ... quem sabe a senhora não investe mais naquela ração importada para o nosso gatinho...?