Pedro Diniz e as vozes dos animais

O poema foi escrito por Pedro Diniz (1839?-1896) e recolhido por Antero de Quental no Tesouro Poético da Infância.

Vozes dos Animais

Palram pega e papagaio

E cacareja a galinha;

Os ternos pombos arrulham;

Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca; berra o touro;

Grasna a rã; ruge o leão;

O gato mia; uiva o lobo,

Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo;

Os elefantes dão urros;

A tímida ovelha bala;

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Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa

(Bichinho muito matreiro);

Nos ramos cantam as aves;

Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras

O canto seu variar;

Fazem às vezes gorjeios,

Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,

Não aprendeu a cantar;

Como os ratos e as doninhas,

Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita;

Zune o mosquito enfadonho;

A serpente no deserto

Solta assobio medonho.

Chia a lebre; grasna o pato;

Ouvem-se os porcos grunhir;

Libando o suco das flores,

Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças;

Pia, pia o pintainho;

Cucurica e canta o galo;

Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros;

O cordeirinho, balidos;

O macaquinho dá guinchos;

A criancinha, vagidos.

A fala foi dada ao homem,

Rei dos outros animais.

Nos versos lidos acima,

Se encontram, em pobre rima,

As vozes dos principais.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 02/01/2024
Código do texto: T7967146
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