Guloseimas da Umbrelina
HISTÓRIA INFANTIL – DIA DA CRIANÇA
Título: GULOSEIMAS DA UMBRELINA
Amélia Luz
Umbrelina ficava triste na prateleira do Bazar do Seu Quinzinho. Era bonita, cabo de madeira envernizado, pano colorido em motivo floral, mas ninguém a escolhia. O tempo foi passando até que um dia a avó de Vivi resolveu comprá-la para levar para a sua neta. As chuvas estavam chegando.
Saiu embrulhada da loja e foi recebida com muito descaso. Ganhar um presente daquele no Dia das Crianças? Que absurdo! Que mal gosto! Desejava um patinete igual ao da Laura Jane e não aquilo.
Foi novamente colocada em um armário esperando o dia de ser usada. Ninguém mais se lembrava dela e sua tristeza foi aumentando. Nem via a luz do sol.
Certo dia um forte temporal caiu de repente na hora da saída para a escola. Só então lembraram dela. A mãe da Vivi apanhou-a na despensa e pela primeira vez, aberta, ela viu a luz do dia, um dia cinzento, chuvoso e feio. Que pena! Não era o que ela desejava.
Sonhava sair num dia ensolarado percorrendo praças e canteiros floridos para aproveitar os últimos dias da primavera. Em dia de sol quem se lembraria dela? Umbrelina pensava em silêncio o quanto desejaria ser até um feio guarda sol remendado para sair e ver o mar, os barcos, o céu e as crianças brincando e as gaivotas.
O tempo foi passando até que ela foi novamente lembrada. A menina estava com alergia de pele e não poderia sair sem proteção naquele dia de sol forte.
Pirracenta, Umbrelina armou um plano. Tão logo saiu à rua ficou pretinha de raiva, com cara mesmo de guarda-chuva velho. As amiguinhas de Vivi, em risadas, gritavam:
- Olha que sombrinha esquisita! Se fosse minha estaria no lixo.
Vivi ficou furiosa. Como poderia aquela sombrinha ter mudado de cor? Era estampada! Seria feitiço, coisa-feita, maldade assim, sem explicação? Ao chegar da escola antes de entrar em casa jogou-a na lixeira da rua sem nenhum pesar. Disse à mãe tê-la esquecido no pátio na hora do recreio.
No latão do lixo ficou a pobre Umbrelina dias e noites até que o caminhão da coleta enfim apareceu e a levou sujinha e abandonada. Enfim saiu dos “istos e aquilos” de sujeira e mal cheiro que a incomodavam
Um gari ao vê-la assim tão rota e no meio de tanta sujeira apanhou-a para a sua filha que não tinha sequer um guarda-chuva furado.
Ao chegar na nova casa Umbrelina foi recebida com imensa alegria. Lilica, sua nova dona, sonhava ter uma sombrinha.
Umbrelina também ficou contente e se curou da embirração embora a casa fosse muito pobre. Dia de chuva ou de sol lá estava ela com a sua nova dona vendendo doces, balas e pirulitos no farol da esquina da igreja. Aberta sobre a carrocinha de doces sentia-se realizada. Mostrava toda a sua alegria na estampa floral de belas margaridas brancas em fundo vermelho, já desbotado. Atraía a freguesia. Milagre!
Nunca mais teve descanso. Vivia contente pelas ruas do bairro sendo útil para todos. Subia e descia ladeiras, passava por ruas compridas, por praças arborizadas e ia até o calçadão da praia, enfim!
Lilica gritava:
- Olha a doceira! Olha a baleira da sombrinha! Quem prova meus doces sempre ganha uma figurinha!
Foi um sucesso de vendas. Até que Lilica, tão animada com as vendas, comprou uma outra carrocinha de segunda mão, mas não dispensou Umbrelina.
No verão, antes do Natal a carrocinha nova saiu da comunidade e chegou à Praia de Copacabana. Umbrelina não se conteve e gritou entusiasmada:
- O mar! O mar! Copacabana! Eu sonhava tanto vir aqui.
As gaivotas fizeram uma revoada sobre a carrocinha e a criançada fazia fila para comprar os doces.
Assim por todos os dias as mesmas cenas aconteciam. Lilica empurrando a carrocinha de guloseimas e Umbrelina agitada ao vento vivendo os melhores momentos de sua vida. No velho fogão a mãe de Lilica caprichava nos doces que ficaram tão famosos com o tempo, que até abriram uma confeitaria.
A família de Lilica prosperou e várias confeitarias foram abertas pelas imediações do bairro. Sabem vocês o nome das confeitarias?
“Um dia da caça e o outro do caçador”.
“GULOSEIMAS DA UMBRELINA!!!”