Fiel Fidélio
Fidélio foi um fila formidável. Silente e discreto, impunha um tal respeito que muito rottweiler bombado e estressado não seria capaz. E Sônia se sentia segura em sua companhia e mais segura ainda em saber que nenhum hóspede seu seria jamais incomodado por aquele fiel companheiro, pois incidente algum se registrara em seus domínios, por anos e anos a fio.
E se tranquilizadora era a presença de Fidélio para sua sempre zelosa dona, seus visitantes tinham justificadas desconfianças, que buscavam , mas não logravam demonstrar ostensivamente, por conhecerem a fama dos filas que mesclava absoluta fidelidade a uma por vezes resoluta ferocidade. Dali, um pé atrás, quando menos, mais mal não faz...
E o andamento para o almoço natalino corria tranquilo desde as onze da matina quando os hóspedes começaram a chegar
e a se movimentarem entre as mesas espalhadas pelo relvado quintal, à sombra do acolhedor arvoredo. Bebidas e tira-gostos fluíam soltos, assim como os ensaios de boas gargalhadas e algum arroto. E no meio de tudo, Fidélio transitava sem aparentemente se importunar com novas piadas, e novas chegadas. Olimpicamente, e o apreço generalizado sobre sua afabilidade crescia como massa de rosca-da-rainha ao sol do meio dia.
Após saudar e conversar com todos , Sõnia deu mais uma ida à cozinha para se certificar do bom e tempestivo andamento do almoço que seria servido na tenda central, e, ao voltar, sorridente, fez a convocação:
- À table, mes chers amis!
Fidélio, cujo nome se inspirava numa belíssima ópera de Beethoven e de quem ninguém por seu francês dava um só vintém, ergueu as belas orelhas, e saltou à frente de todos ...para com a agilidade de um leopardo abocanhar a obra mais requintada do ágape de Sõnia; la dinde à Noël, farcie au four!