O JAGUAR E O PASSARINHO

O JAGUAR E O PASSARINHO

O grande jaguar já havia participado de grandes caçadas e emocionantes entreveros, experimentado em variados cenários e ambientes inóspitos.

O lendário aventureiro cresceu nas terras alagadas, quando jovem desbravou a selva central, quando adulto se especializou nas regiões desérticas, na meia idade ele viajou para a selva ocidental de onde alcançou escalou as montanhas andinas.

O Jaguar travou duras lutas pela sobrevivência, na vida selvagem ele enfrentou criaturas terríveis, cujos ferimentos renderam muitas cicatrizes em sua pelagem.

De caçador afamado o velho jaguar passou a condição de protetor dos animais em dificuldade e os livrava dos perigos da floresta. O jaguar se tornou chefe de família, com companheira e filhotes, mas faltava preencher o vazio em seu coração.

Certo dia foi convocado para uma tarefa fora do seu território, um lugar distante, seria uma honra inestimável para quem lutasse naquele mundo estranho.

Houve grande agitação entre os animais, porém o velho jaguar não estava satisfeito com aquela correria, mesmo sabendo que todos os guerreiros contavam com sua experiência de guerra.

Alguns dias antes da partida para a viagem que duraria 15 luas cheias, o felino foi convidado para uma festa onde estavam reunidos numa clareira todos os filhotes de animais que haviam se perdido dos seus pais por algum motivo (abatidos, capturados ou desaparecidos).

O velho jaguar ocupou um lugar descanteado onde todos lamentavam mais um ano sem ver os pais. O caçador astuto varria a selva com olhos atentos até que notou um movimento estranho em um ninho que parecia abandonado, um buraco escuro em um tronco seco. O jaguar se aproximou cautelosamente e averiguou que um filhote de passarinho, recém-nascido, observava a festa sem saber o que acontecia.

O jaguar o tocou com sua potente garra e o pequeno a segurou com bastante força, causando surpresa ao caçador que o trouxe a claridade para conhecê-lo.

Dona coruja disse que o pequenino órfão estava sem proteção. Sem vacilar responde o felino:

Deus no céu e na terra eu serei por ele, vou amar, educar e proteger com a minha vida caso seja preciso.

O pequeno estava com fome, com sede e com frio, o velho jaguar o acolheu e aqueceu em sua densa pelagem, ao chegar a casa foram recebidos com alegria, pois um novo filho surgiu, um novo irmão, um novo amigo. Os vizinhos espalharam a notícia e de todos os cantos da floresta os visitantes traziam presentes, para novo filhote do jaguar.

Com o tempo as penas do filhote cresciam cada vez mais e com variadas cores que revelaram sua verdadeira identidade, era uma fêmea de uirapuru, na língua tupi significa “pássaro pintado”, são plumas de várias cores e o canto mais lindos e apreciados da grande floresta.

“lança seu canto uirapuru...

suplica a preservação...

Lança seu canto uirapuru ....

e deixa viver essa grande nação “

(Canto do Uirapuru - Toada de boi-bumbá).