O porco humano
Eram duas as mais caudalosas fontes de histórias que tínhamos na casa de vovó: Ticintina e Tirrita. A primeira, mais abundante, nos relatava casos, causos e caos de uma infância e adolescência vividas na Onça de Pitangui, e no Brumado, porquanto da segunda, se retransmitiam, maior e fidelissimamente estórias ouvidas no rádio…
Vamos a um gulim de Tirrita, que tinha a particularidade de nos reunir em torno de uma mesa de passar roupas, já com o ferro elétrico titular absoluto, deixando pra trás o seu predecessor, a brasas…que dum canto da cômoda, nos mirava de esgueira…
E uma das mais recorrentes lembranças é a do homem que odiava religião. E odiava a tal ponto de num domingo, justamente no horário da santa missa haver forçado o filho, ainda um neninote, a correr à igreja e, no ato da consagração e passar a seguinte mensagem de desespero:
- Sêo padre, o pai mandou chamá-lo lá em casa porque é um caso de morte, e precisa da bênção do senhor…senão vai direto pro inferno…
Incontinenti, diante da atônita legião de fiéis, o celebrante, baixou a hóstia consagrada, já então o Corpo de Cristo, e zarpou para prestar o sacrossanto viático ao moribundo … sem, contudo, desconfiar que
o anti-clericalista queria pregar-lhe a peça de assistir a execução de um rubicundo capado que mantinha no chiqueiro…
E qual não foi a surpresa de, ao chegarem, padre e menino, não mais encontrarem o apelante na casa ou mesmo em seu terreiro, mas tão somente um par de porcos absolutamente iguais, a fuçarem no chiqueiro…?