AS DUAS CARTAS
Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estavam aprovados para o ano seguinte e, como disse a professora, agora era só brincadeira.
Num desses dias, a professora começou a falar sobre a festa de Natal, presentes, igrejas e tudo mais que envolve esta bela data. Séria, ela perguntou aos alunos se eles já haviam escolhido seus presentes. Foi uma agitação total. Todos falavam ao mesmo tempo e ninguém entendia nada. A professora então disse:
- Calma, crianças! Falem um de cada vez para que todos possam ouvir e entender.
A ordem foi estabelecida. A primeira a falar foi a Aninha. Ela pediu uma boneca e uma bicicleta, o Arnaldo, uma bola oficial de futebol, o Marcelo queria jogos de armar, o Carlinhos, o menino com cara de intelectual, queria livros porque ler era o seu passatempo predileto. Todos estes pedidos foram enviados, através de carta, ao Papai Noel. A professora percebeu que o Pedrinho não dissera uma palavra.
- Então Pedrinho, você não pediu nada? – perguntou ela.
- Não. Este ano eu é que vou dar presente. – respondeu a criança.
- Para quem?
- Para o aniversariante!
- Pedrinho, o aniversariante é Jesus de Nazaré. Como você entregará o presente para ele.
- Ora, professora, isso é comigo e o Papai Noel. Eu escrevi pra ele e pedi pra ele entregar.
A professora ficou pensativa. Claro que a criança tinha razão, no Natal são poucas as pessoas que se lembram do aniversariante. Enquanto isso, lá no Polo Norte, o correio chegava com milhões e milhões de cartas de crianças pedindo de tudo. Os ajudantes do Papai Noel estavam deveras atarefados, sem tempo nem para comer. Eles precisavam abrir aquela correspondência toda antes do dia vinte e cinco de dezembro para não atrasar a entrega dos presentes. Já estavam quase no fim quando um dos ajudantes disse:
- Engraçado, aqui tem duas cartas da mesma pessoa; uma é para o Papai Noel e a outra é para... Jesus de Nazaré... e tem um pacote também endereçado a ele. – disse o ajudante de olhos arregalados porque nunca havia acontecido um fato deste.
O Papai Noel ouvindo aquilo deu a ordem:
- Abra a carta endereçada a mim.
O ajudante abriu e leu:
“Querido Papai Noel. Este ano eu não quero presentes. Tenho todos e tudo que pedi. Por isso eu só peço uma coisa: dá pro senhor entregar a outra carta e o pacotinho para o filho de Deus? Eu sei que o senhor está mais perto dele, portanto fica mais fácil. Obrigado. Feliz Natal e um beijo do Pedrinho.”
O Papai Noel ficou comovido e se apressou em atender à solicitação da criança. Entregou tudo nas mãos de Jesus Cristo. Jesus abriu a missiva e começou a ler em voz alta.
Senhor Jesus.
Dia vinte e cinco de dezembro é o dia do seu aniversário. Aqui na Terra todos comemoram com festas e presentes, só que eu nunca vi ninguém dar um presente pro senhor. Então eu resolvi que este ano eu vou lhe dar um. Não é uma bicicleta porque o senhor não saberia andar nas nuvens com ela, nem bola, acho que não saberia jogar, nem carrinho, nem pipa ou pião, nada dessas coisas. São as minhas ações praticadas. A obediência e o respeito, a solidariedade, o amor aos semelhantes e a fé em Deus e no senhor. Sei que não é muito porque ainda sou pequeno, mas saiba que tudo é de coração. Eu embrulhei o presente com papel de oração para que não se perca pelo caminho.
Desejo-lhe um feliz aniversário, ao lado dos seus pais e dos bilhões de amigos que o senhor tem. Ah! Não se esqueça de, quando apagar a velinha, fazer um pedido.
Um beijo do seu amigo.
Pedrinho.”
Jesus terminou a leitura. Abriu o pacotinho e lá estavam as boas ações do Pedrinho todas arrumadinhas com muito capricho. Levantou-se e foi até a janela da sua morada e olhando para baixo, deixou que as duas lágrimas que bailavam nos seus olhos caíssem sobre a Terra abençoando tudo e todos no dia do seu aniversário.
- Vovó, eu também posso mandar um presente pra Jesus?
- Pode sim. Todo o bem que você fizer, faça em nome Dele que ele irá juntando tudo e guardando no armário que cada um de nós tem no céu. Este é o melhor presente que podemos ofertar a Jesus em todos os dias da nossa existência.
05/11/06.
(Histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)