A peromba não veio...
No Brumado de outrora, eu me achava com a bola toda naqueles meados dos anos cinquenta... fedelho ainda pre-escolar já havia ganho do entusiástico Luiz Velu aquela bola de couro argentino, um luxo que não era pra qualquer menino...mas condescendia, levava a pelota para a rua, e naquele espaço exíguo que separava o casario miúdo, entre o arenoso e o chão batido, compartilhava momentos de lazer com a meninada da vizinhança...quase sempre nos finzinhos de tardes, que nem eram de lindeza ou de Lindóia...até a horinha do crepúsculo quando, lavapés, ou até banho...janta e reza se juntavam para nos tornarem todos conscritos...senão...ah, senão... proscritos...
E o nosso beabá ludopédico era bem singelo então, antes de se desenvolverem em dibras, chaleiras, puxetas, ou chapéus ...
Todo mundo, meninos e até meninas, se postavam agachados, em fila indiana para ver se agarravam o chute que alguém, desferido a uma dezena ou dúzia de metros, a partir de um montinho artilheiro. Dali, testemunhado por papai, que vinha chegando da fábrica, tive reconhecida a minha primeira bicuda... que passou gloriosamente sobre aquela sucessão de mãozinhas eretas...e frustradas...
Mas quando o Jadim da Nita do Tõe Pinto, já grandote de seus 13 ou 14 anos pegou na bola...seus irmãos menores, Diquim, Zé Augusto, Zé Ricardo, Zé Reinaldo, gritaram em uníssono: peromba, Jadim, peromba... comecei a imaginar o que estava por vir... certamente algo mais potente, que quem sabe, riscando os ares, fosse inalcançável, feito o legendário cometa de Halley, em sua badalada aparição de 1910...que entrou para a história mundo afora...
Mas a peromba não veio... a tremeluzente luz dos postes apagou subitamente, em cadeia...e, a partir dali, prevaleceram as chamadas de dentro das casas para os rituais crepusculares...sem direito a ouvir a Ave Maria do Júlio Louzada, as Histórias do Tio Janjão, o Anjo, o Jerônimo, Herói do Sertão, o Mundo da Bola e a Hora do Brasil...a vez foi do terço, puxado por papai, com a recitação dos mistérios, as jaculatórias, que os entremeavam, os padre-nossos, as ave-marias, as glórias...a ladainha, a salve-rainha, as intenções e finais devoções...