Nay, uma Árvore muito especial
Era uma vez uma sementinha linda, vivia sonhando em ser semeada e virar uma árvore como as que via do lado de fora da janela do quarto onde o jardineiro a deixara junto com outras sementes, essa semente era Nay, ela amava passar o dia sonhando ou conversando com as outras sementes. Ela falava em dar frutos e vivia querendo ser útil.
Até que chegou o grande dia, o jardineiro entrou no quarto e pegou as sementes, estava animado para mais uma semana de plantio e aquelas sementes estavam prontas para germinar. O sol raiava num belo dia, as flores brincavam com o vento e os passarinhos, o jardineiro veio, olhou cada local do seu terreno, as sementes que tinha consigo precisavam de espaço, levou-as para o pomar.
A terra fofinha do pomar estava preparada para o cultivo, o jardineiro espalhou cuidadosamente as sementes, Nay caiu num buraco, foi coberta pela terra, um pouco temerosa com seu destino e se vendo sozinha sentiu medo de não conseguir ser o que desejava, uma bela árvore cheia de frutos para ofertar.
No escuro do seu cantinho Nay adormeceu, dias passaram, logo as sementes deram lugar a pequenas mudas verdes que despontavam cada uma no seu lugar, quase todas pois Nay demorou um pouco mais para romper-se e dar lugar a um talinho verde. Enquanto isso o Jardineiro vinha visitar o pomar e observava cada local onde semeara, profundo conhecedor das plantas via que uma das árvores que plantara ainda não rompera, era seu fruto preferido, preocupava-se ela iria para frente, mas não desistiu de cuidar, trouxe adubo, preparou mais um pouco a terra e deixou-a esperançoso de vê-la dando frutos.
Era uma manhã ensolarada quando Nay abriu seus olhos e espreguiçando-se percebeu que estava ao ar livre, ela finalmente rompera, era um talinho verde agora. A pequena Nay olhou ao redor, viu as outras plantas mais viçosas e tímida experimentou sentir seu novo espaço, ficou muito feliz, o céu azul, as borboletas brincando, ao seu redor também haviam árvores cheias de frutos e ela ficou extasiada, "um dia vou ser grande e dar muitos frutos e sombra fresca".
Os dias passavam, ela via as outras plantas desenvolvendo e ela indo no seu ritmo, sentia-se insegura, as laranjeiras já davam frutos e ela ali crescendo, seus galhos ainda finos, Nay ficava triste, o jardineiro fazia seu trabalho, colocava adubo em cada uma de suas plantas, pacientemente conversava com elas, sorria e ia embora, mas Nay ficava triste, não sabia que fruta ela iria produzir e o jardineiro talvez nunca pudesse comer algo de seus galhos, de longe ouvia as outras plantas conversando e o vento indo e vindo entre suas folhas, parecia que ouvia risos, assim ela se entristecia, suas folhas já não brilhavam mais. O jardineiro quando veio numa certa manhã se assustou com a planta, parecia descaida, frágil e ele ficou preocupado, a princípio não soube o que fazer, saiu com receio que a planta morresse, era estranho porque não vira nenhum sinal de ação de formigas, nem pulgões.
O jardineiro Pedro tinha uma netinha, a pequena Melinda, ela tinha uns sete anos e viera visitar o avô certa tarde, o jardineiro levou-a para conhecer seu orgulho: O Pomar. Melinda ficou encantada com as plantas, correu para comer as laranjas, as mexericas, "Que delícia!" As plantas estavam felizes, Nay porém não compartilhava dessa alegria, ela nada tinha a oferecer. Quando a criança cansou de comer, já satisfeita viu aquela pequena árvore ainda do seu tamanho, os galhos pareciam convidá-la para brincar, correu para a planta e começou subindo nos galhos, ali ela ficou por muito tempo, imaginou muitas coisas, foi princesa, depois uma guerreira daquelas dos filmes que via com seu irmão, ela foi tudo, mas o melhor foi ter sido ela mesma, uma criança feliz.
Nay não queria que a menina fosse embora, mas Melinda teve que ir, a pequena planta ficou feliz de ter sido tão útil para Melinda, "Queria que todos os dias fossem assim ". Seu Pedro vinha todos os dias visitar o pomar, passou a conversar com Nay, ele sentia que aquela planta era muito sensivel e passou a cuidar dela da melhor forma possível, mas num determinado dia ele não veio, Nay ficou aflita, enquanto que suas companheiras apenas continuavam ali na sua existência, Nay se sentia extremamente só. Seu Pedro adoecera e precisou de repouso, angustiado por não poder ir cuidar do pomar, preocupava-se com a tímida planta com quem ele passara a conversar, temia que ela morresse, parecia tão frágil.
Nay sentiu muita falta do jardineiro e por pouco não morreu, suas folhas e seus galhos pareciam não ter firmeza para ela, sentia-se incompreendida e queria muito que não fosse assim, algum tempo passou e num determinado dia Nay passou a receber a visita de um beija-flor. O beija-flor vinha rapidinho e começou a cumprimentar a planta, disse que precisava de ajuda, queria fazer sua casa para receber sua companheira, Nay voltou a sentir a emoção de ser útil, disse que ele era bem vindo, o sonho de Nay era ser útil.
Os galhos de Nay passaram a abrigar um ninho de beija-flor e ela ficou emocionada quando nasceram os filhotinhos, naquele dia ela chorou, Pedro já havia se recuperado e percebeu o que acontecia nos galhos da planta, viu também que dela saiu um líquido mas não soube o que era. Como a planta era mais frágil o jardineiro temia que ela não crescesse como devia, trouxe adubo, fez tudo que podia. Nay percebia que era querida, o beija-flor Rod continuava a visitando, seus galhos foram o palco da aprendizagem de vôo dos filhotes de beija-flor, ela se alegrava em vê-los voando em torno dela, toda cuidadosa oferecia suas folhas para amortecer a queda dos pequenos beija-flores. Eles aprenderam e ela os via voando, seu coração se sentia cheio de alegria, ela então fazia versos, cantava, as outras plantas a viam tão diferente delas e algumas gostavam daquele ritmo, o pomar finalmente estava bonito, Nay encontrara sentido em existir, um ano se passou e flores começaram a nascer entre as folhas, Nay crescera e era a árvore que sonhara, logo estava dando frutos, ela era uma bela goiabeira, seus frutos eram excelentes.
Seu Pedro trouxe Melinda para comer das coisas, ele estava muito feliz, era sua fruta preferida, Melinda também ficou muito feliz, subiu na árvore comeu as deliciosas goiaba, depois descansou deitada junto ao tronco aproveitando da sombra oferecida, Nay sentiu -se realizada, seu processo fora um pouco difícil mas ela estava bem agora, conheceu novos pássaros, sorriu mais vezes com as borboletas, Nay ficou muito comovida quando foi escolhida por Marcos, um menino muito sapeca, para ser seu lugar de inúmeras brincadeiras, um balanço foi amarrado em um dos seus galhos e Marcos vinha todos os dias brincar ali, viera morar com seu avô Pedro e o seu lugar favorito era o pomar. O beija-flor Rod também continuava visitando Nay, ele acreditara nela primeiro, Nay gostava muito de vê-lo voando com sua cor brilhante, o corpinho azul e preto, voando rápido a deixava fascinada. Marcos também gostava do beija-flor, as vezes tentava alcançá-lo, mas era em vão, o menino não podia competir com as ágeis asinhas do beija-flor e a árvore sorria feliz, nesses momentos suas folhas se agitavam e era como se tocasse uma música, Marcos sorria também ouvindo a melodia, era fascinante e àquela cena era gravada no coração do garoto e no da árvore.
Seu Pedro também estava sempre ali, gostava muito da árvore da qual cuidara com tanto desvelo desde que a semeara no pomar, para ele ela era única e tinha todo seu valor. Nay descobriu seu valor, passou a acreditar em si mesma, claro que não seria igual as outras árvores, cada um oferece o que tem, ela era Nay uma goiabeira com galhos acolhedores e frutas deliciosas;
Fim.