A lata de pirigo
A "lata de pirigo" -- 22/02/2006 - 06:50 (Il Gobbo)
Da tenra infância à adolescente implicância, minha lembrança recorrente é a `lata de pirigo`: e pouco tinha aquela latinha - penduradinha por uma alcinha de arame ao lado externo da janela da copa,ficava exposta ao elementos, bons ou maus.
Feita de uma daquelas latas de gordura de côco de dois kg - se não me engano marca Tahi, ou Coqueiro, pois a marca Dunorte foi bem mais recente - ela se destinava a comportar tudo o que fosse perigo para o lar como ampolas de injeção, cacos de vidro, pregos enferrujados, lâminas de barbear usadas e enfim tudo o que significasse potencial risco a um acidente.
Na nossa mudança do vilarejo pra cidade - em que havíamos deixado pra trás, coisas como uma passadeira, um pilão e uma torradeira, além do arvoredo que não tinha arredo, a `lata de pirigo` - conquanto vazia - foi nossa companhia.
Esvaziá-la era um ritual, a ser seguido com as precauções devidas, de sorte a se evitar que o gênio do perigo ficasse esparramado pelo quintal e voltasse a fazer mal.
Mas mais que os preguinhos tortos, lâmpadas quebradas ou meias gilettes desaforadas, o que aquela latinha encerrava, além da educação com que mamãe nos instilava, era então tudo quanto fosse perigo no mundo, lá se guardava, lá se isolava.