Minino abiúdo...?
Filho único, arrumadinho e penteadinho, o pirralho Robson, lourinho como ele só passou seus últimos anos pre-escolares à volta da casa dos pais, o Zé do Vô, barbeiro e dona Adi, operária na fábrica de tecidos da cidade de Pitangui.
O Beco dos Canudos então era uma rua sossegada naquela já remota primeira metade dos anos sessenta, em absoluto descompasso com o bulício que se passava em Brasília, com a dupla Jan-Jan no poder.
Passeando sob a da sombra matinal da rua, Robson saía de casa para um lado ou para o outro observando e interagindo com tudo o que estava ao alcance de seus olhinhos azuis...volta e meia batia um papo com algum amiguinho ou respondia à caçoada de algum passante...
Um dia, com o sol já alto, deu de cara com o respeitado senhor Aurélio
apoiado gostosamente no para-peito do alpende de sua casa, apreciando o movimento da rua...Robson não esperou nem pelo cumprimento, que na certa viria...lascando de chofre a pergunta:
- Ô moço, o papai já foi pro trabalho, o sêo Neném já saiu também, o Darci saiu correndo também, e até o tio Dininho já foi...e o senhor...o senhor não trabalha não...?
Aurélio, já aposentado, não se conteve, rindo a bandeiras despregadas, mal conseguiu estancar a gargalhada, para explicar ao peralvilho o que era uma aposentadoria...conquista e benefício que no futuro, sim, no futuro, se extinguiria...