Aracnídeo de araque...?

E deixamos Lolly sozinha no apartamento naquela noite. A saída era para um compromisso oficial e não deveria durar mais do que duas horas. Lolly já tinha tido essa experiência em Brasília e agora, em Cingapura, cidade-estado bem mais segura, não "havera" de ser grande ou arriscada aventura. Demais, com seus treze para catorze anos, vivia agora no seu quarto continente, e era estudiosa e imaginativa. E tinha nosso telefone.

O que não contávamos, e Lolly muito menos, era com o passeio daquele aracnídeo que quando não está na teia, deve sentir-se como peixe fora d'água...e pode, eventualmente, fazer o que lhe dá na teia...

E assim, fortuitamente, os olhinhos de Lolly despregaram-se da tela do computador, quiçá para um reabastecimento na cozinha e, se depararam com aquele bichinho bem delgado, de oito patinhas, e vai ver que mais do que oito olhinhos, surfando na parede de seu quarto...

Gelou, ou possivelmente gelaram-se ambas e o confronto que poderia ter sido resolvido com uma chinelada ganhou contorno mais complexo... Ambientalista por índole, Lolly não queria carregar aquele remorso, como tampouco admitia estar à mercê de um ataque traiçoeiro que mais tarde, ou mesmo mais cedo poderia - e a seu ver iria... - acontecer...

Daí, surgiu a ideia de isolar aquela teteia. O frasco de hair-spray espumante de mamãe Lina estava ao alcance e quando chegou descreveu um círculo em torno da invasora...

Vinte sete anos depois, ou dispois, como sempre dizia Tia Rita, se esse conceito pudesse ser aplicado em torno de mentes ensandecidas, seriam hoje melhores as nossas vidas tão transgredidas...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 11/09/2021
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