O FLOCO DE NEVE
A menina Lili, bem de leve, no raiar da manhã, pisa num floco de neve com seus patins revestidos de lã. Lili nem olhou para ele. O coitado sofreu calado, e Lili foi correndo pela rua forrada com um tapete de gelo. O vento levantava seus cabelos. Lili, fazendo piruetas, patinava velozmente imaginando a rua uma gigantesca barra de chocolate branco.
Olhando para o céu, ela ainda pôde ver a lua sorrindo na manhã gelada. Cansada, ela senta no frio banco da praça. A neve cai. O floco, que ficara no começo da rua, foi crescendo, com o acúmulo de neve, ficando bem grande. Parecia um enorme algodão-doce.
- Quem sabe agora ela preste atenção em mim. Talvez, agora, ela saiba que eu existo e, antes de passar por cima de mim com os patins, me dê um pouco de atenção. Brinque de fazer boneco, de fazer castelo de gelo. Quem sabe!
Mas Lili, lá do banco da praça, avistava o começo da sua rua e viu o monte de neve que se formara a partir do floquinho. A menina sorriu pensando:
- Que bom se fosse chantili para rechear um grande bombom.
O floco de neve, captando o pensamento da menina, choroso resmungou:
- Ela não me vê... Só pensa em guloseimas... Como posso acreditar nas crianças?
Outras crianças chegaram e Lili retomou a brincadeira de patinar. Já eram onze horas. O sol brilhava no céu aquecendo as coisas e as pessoas. O monte de neve começou a derreter levando consigo a tristeza de não ser notado quando era somente um floco. Lili, despedindo-se dos amigos, patinou de volta a sua casa e, bem perto do monte de neve, inesperadamente ela disse:
- Adeus, meu querido floquinho de neve. Espero te ver no próximo inverno aqui, neste mesmo lugar. Saiba que, da minha janela, eu te vi descer do céu como uma pluma e pousar suavemente na rua.
O monte de neve tremeu, chorou de alegria e emoção. O pranto era representado pelo seu derretimento acelerado:
- Ah! Meu Deus! Ela prestou atenção em mim – dizia soluçando -. Ah! Minha doce menina! Como pude pensar que não me notara? Esta minha cabeça...!
E, derretendo-se em lágrimas, o floquinho, que se transformara num monte de neve, deslizou pelo canto da calçada indo na direção do bueiro de onde prosseguiria seu caminho engrossando as águas dos rios e dos mares.
Ah! Seu floco de neve! Nunca subestime uma criança.
11/11/07.
(histórias que contava para o meu neto.)