Macunaíma para as crianças Júlia e Miguel
No meio do mato, lá onde o “Judas perdeu as botas,” Macunaíma nasceu. Era filho de índia, feio feito a noite escura sem lua. Ele já nasceu com preguiça. Passou seis anos sem falar uma palavra. Quando finalmente ele falou, disse: - Ai que preguiça!
Macunaíma tinha dois irmãos: Maanape, que era feiticeiro, e Jiguê, homem forte que namorava Sofará. Um dia a mãe de Macunaíma não quis passear com o filho e pediu que Soforá fosse com ele. No meio do mato, ele se transformou em um belo príncipe e brincaram muito. Depois disso, bastava ele choramingar que Soforá passeava com ele.
Um belo dia Macunaíma fez uma armadilha bem escondida para apanhar uma anta. Assim conseguiu pegar a anta antes de Jiguê. Jiguê ficou chateado e quando foi dividir a carne, reservou apenas tripas para Macunaíma. Ele ficou com raiva e quis vingar de Jiguê. No dia seguinte Jiguê viu Macunaíma com Sofará brincando no mato. Ficou com muita raiva, bateu muito em Macunaíma e mandou Sofará embora da aldeia.
Todos da aldeia caçavam, um dia Maanape decidiu caçar um boto, mas o pai do animal, Maraguigana, se enfureceu e enviou uma enchente para acabar o milharal.
Macunaíma teve uma ideia. Ele iludiu sua mãe, pediu que ela fechasse os olhos e, quando ela os abriu, os dois estavam na outra margem do rio, rodeados de alimentos fartos. Mas a índia quis levar uma parte da refeição para os outros filhos.
Macunaíma ficou com muita raiva da mãe e quebrou o encanto e todos voltaram a ficar com fome.
A Mãe de Macunaíma para castigá-lo, o levou para o meio do mato e o deixou sozinho.
Após uma semana sem rumo, ele encontrou o Curupira. Ele lhe deu um pedaço da própria perna para comer e depois passou a caçar o herói, sempre se guiando por sua carne, já na barriga de Macunaíma; ela respondia aos seus apelos e denunciava a localização do nosso herói. Ele gritava: - Carne da minha carne! E a carne respondia: - Que foi? Que foi? Macunaíma consegui libertar do monstro ingerindo lama e vomitando a carne.
Logo em seguida encontrou a Vó Cotia, que fabricava farinha. Ela lhe deu de comer, mas ao saber do que ele havia feito com a família, derramou caldo de aipim envenenado no corpo dele e assim Macunaíma cresceu. Apenas a cabeça não foi atingida pela farinha, permanecendo em estado infantil.
Ele voltou para a tribo e passou a brincar com Iriqui. Jiguê descobriu tudo, mas diante do novo corpo do irmão, agora vigoroso, decidiu não criar problemas. A índia, mãe de Macunaíma morreu. Ele e os irmãos, após muito sofrer, enterraram o corpo sob uma pedra no Pai da Tocandeira. Os irmãos saiam mundo afora e levaram Iriqui junto com eles.
Enquanto andavam pela mata, eles encontraram com Ci, Mãe do Mato. Que estava dormindo à beira do lago. Macunaíma logo quis brincar com ela, mas Ci (índia que vivia à volta do lago e que tinha as pedras verdes, muiraquitãs.) despertou e brigou com Macunaíma. Após levar a pior, ele recorreu aos irmãos, que deram um golpe na cabeça dela. Macunaíma ficou admirando Ci enquanto ela estava dormindo. Ele se tornou o novo Imperador do Mato-Virgem.
Ci retirou de seu colar uma muiraquitã célebre e deu a Macunaíma. Depois ela ascendeu aos céus por meio de uma corda; a Mãe do Mato se transformou na estrela, a Beta do Centauro.
Macunaíma perdeu a pedra verde, a Muiraquitã. Um uirapuru o encontra triste e lhe conta que a joia foi parar nas mãos de um mercador peruano chamado Venceslau Pietro Pietra. O proprietário desse objeto mágico enriqueceu, se tornou fazendeiro e reside em São Paulo. Macunaíma decidiu ir para a metrópole atrás do amuleto e os irmãos o acompanharam.
Antes de ir para São Paulo, Macunaíma deixa sua consciência na ilha de Marapatá. Ele toma banho em uma água mágica e sua pele fica branca, os olhos azuis e os cabelos loiros. Jiguê também decide se banhar na piscina natural, mas como o irmão já tomou banho nela, o máximo que ele consegue é obter a cor do bronze. Maanape fica com o restinho da água e só molha a palma das mãos e dos pés. O herói (Macunaíma) descobre que Pietro Pietra é o gigante Piaimã, que come as pessoas e vive com a Caapora.
Macunaíma se disfarça de francesa e vai a um encontro com o gigante. Piaimã tenta seduzi-lo; ele se aproveita e pede para ver a muiraquitã. Pietro Petra lhe mostra a pedra. Ele diz à falsa francesa que adquirira a jóia da própria Imperatriz das icamiabas. Depois Venceslau quis brincar com a francesa e o herói fugiu pelo jardim. Piaimã o seguiu e o aprisionou em uma cesta. Macunaíma conseguiu se libertar e foi caçado por Xeréu, o cachorro do gigante. Ele acabou indo parar na Ilha do Bananal. Em um formigueiro o animal o deixou sem saída. Piaimã tentou de tudo para tirá-lo daí, mas o herói resistiu. Só conseguiu fugir quando teve a ideia de tirar toda a roupa e jogar pela entrada do seu esconderijo. Quando já não restava mais nada, ele ofereceu a própria mão. Cego pela fúria, o gigante não percebeu o ardil e lançou o mais longe possível a mão, com Macunaíma junto. Ele retornou para a mata.
O herói passa a sofrer com a solidão em sua choupana. Todos partiram, até os papagaios que sempre estavam ao seu lado. Só restou um, o Aruaí. É para ele que o protagonista conta toda sua história. Mas, no fim, até esse pássaro vai embora. Para aliviar o isolamento, Macunaíma decide brincar com a Uiara no fundo de uma lagoa. Mas neste embate ele perde partes do corpo e a muiraquitã. O protagonista reencontra tudo, menos a pedra e a perna.
O herói sobe ao céu por um cipó, mesmo sem a perna. Só leva com ele uma gaiola com o casal de galinhas que trouxera de São Paulo. O herói encontrou a lua, pediu que o abrigasse, mas ela recusou guarida. Enfurecido, ele bateu no rosto da lua. Foi então procurar a estrela-da-manhã, porém a mesma também o rejeitou. Então Macunaíma foi pedir ajuda para o Pai do Mutum. Embora essa entidade gostasse muito dele, não pode acolhê-lo. Com pena do protagonista, ele inventou uma mágica e transformou Macunaíma e seus bens na Constelação de Ursa Maior.
Um dia um homem passou pelo Uraricoera, agora uma terra desabitada. Uma voz chegou aos seus ouvidos. Tratava-se do Aruaí para quem Macunaíma contara sua história. A ave reproduziu toda essa saga para o viajante e depois partiu.
O ouvinte era o escritor, Mário de Andrade, que contou essas aventuras nesse livro, e eu depois de ler, adaptei para vocês