A DANÇA DA FADA AZUL

- Venham! Venham ver a Fada Azul! – gritava Maria Luiza, de seis anos, para seus dois irmãos menores, correndo na direção do jardim da casa.

- Eu não estou vendo nenhuma Fada Azul. – reclamou Serginho, o irmão de quatro anos.

- Eu também não...! – exclamou, choramingando, Marcinho o outro irmão de apenas três anos.

- Ora! “É preciso usar os olhos da alma para tudo que não está visível”. Não é assim que a vovó diz quando a gente pensa que não vê aquilo que muito se deseja? Então! Andem! Vamos fechar os olhos de fora e abrir, bem abertos, os olhos da alma para apreciar a beleza das flores deste jardim e assim estaremos preparados para receber a Fada Azul. Aspirem, com toda a força de seus pulmões, o ar e sintam o perfume das flores: huuum... sentiram?

- Eu senti, eu senti, maninha...! – gritou alvoroçado o Marcinho.

- Ponham a mão em forma de concha na orelha para ouvir melhor o canto dos passarinhos.

- Por que, maninha? – perguntou o Serginho.

- Porque se você ouvir bem o canto dos passarinhos, também ouvirá a voz da Fada Azul. – respondeu a menina.

- E precisa fazer tudo isto para ouvir a voz de uma fada?

- Vamos logo, deixa de tanta pergunta. – apressou ela.

E os três irmãos fecharam os olhos e ouviram os passarinhos, entre as árvores, entoando uma sinfonia de louvor à natureza. Depois de alguns minutos, Maria Luiza perguntou aos dois.

- Então? Ouviram os passarinhos?

- Eu ouvi, mas Fada Azul que é bom eu ainda não vi... – respondeu o Serginho fazendo cara de quem não acredita em nada.

Enquanto as crianças conversavam, algo acontecia no canteiro das hortênsias azuis, azuis como o céu de um conto de fadas. Um bando de fadinhas, todas vestidas de branco e de asas translúcidas, faziam um zunzum que terminou por chamar a atenção das crianças.

- Eu não disse! As fadas chegaram...! – exclamou Maria Luiza sorrindo feliz da vida. – Eu ouvi o barulho delas.

- Eu também... – confirmou o Marcinho.

- Eu também ouvi, parecia zumbido de abelha... – disse o Serginho rindo.

E o bando de fadinhas batia as asas sobre o canteiro de hortênsias declamando uma estrofe que assim dizia:

“Deus criou as flores: branca, amarela e azul,

E deu a todas agradáveis odores.

E, aos pássaros cantores,

O dom de cantar os amores

Em louvor a nossa rainha Fada Azul.”

Terminada a declamação, aconteceu uma explosão de luz surgindo, deslumbrante, a Fada Azul. Trajava um finíssimo vestido azul salpicado de pedras preciosas, suas asas transparentes brilhavam a luz do sol como se fossem de cristal. No manto esvoaçante estavam bordadas, com o mais fino fio de ouro, as flores existentes no jardim da casa. As crianças estavam maravilhadas. Correram para o canteiro de hortênsias a fim de dar boas vindas à fada que sorria para elas de braços abertos.

E ali, ao redor das hortênsias, a Fada Azul falou do seu mundo:

- O luar é furta-cores, a neblina é como um véu de noiva, as nuvens são camas macias para o descanso de fadas e elfos. O vento é só um sopro que não desarruma os cabelos. O sol é um grande espelho que reflete a inocência dos sonhos das crianças. A chuva é só um orvalho que dá de beber as plantas.

- Que mundo encantador! Eu posso ir até ele quando eu quiser? – perguntou o Marcinho.

- Meu mundo é de todas as crianças, e qualquer uma delas pode visitá-lo. Basta que tenha o coração puro e os olhos da alma bem abertos. – respondeu a fada, encostando a varinha mágica na cabeça do menino.

- Eu reparei que o seu manto é enfeitado com flores diferentes. Por que não tem hortênsia? – perguntou Maria Luiza.

- Querida, em meu manto eu carrego todas as flores da terra, mas as hortênsias, elas são do céu das fadas, assim como é o arco-íris de chocolate, os pássaros de alfenim, a tartaruga de jujuba e tantas outras personagens que se inventa na infância. Muitas vezes, ao olhar o céu, você vê tufos de nuvens que se parecem com hortênsias, saiba que aqueles tufos são as verdadeiras hortênsias e estas aqui - apontou a fada para o canteiro -, são cópias feitas pela mamãe Natureza. Entendeu, pequenina?

E girando no ar, começou a executar uma dança elegante, acompanhada pela música dos sininhos das fadinhas vestidas de branco. O pé da fada tocava as flores com tanta delicadeza que elas nem se moviam. Os passarinhos, pousados nos arbustos do jardim, abriram as asas e, juntando-as à frente, mais pareciam mãos postas em oração, as abelhas interromperam o seu trabalho, as formigas fizeram fileiras como um exército, tudo para assistirem a dança da Fada Azul.

No auge da dança, um bando de elfos, com roupa verde e gorro vermelho, saiu do meio das hortênsias lançando no ar o pólen das flores do jardim que se transformava em minúsculas estrelinhas coloridas. O espetáculo estava simplesmente divino.

As crianças, envolvidas pela magia da Fada Azul, só perceberam que já era tarde quando a mãe as chamou. O encanto foi quebrado e tudo desapareceu. Então os irmãos fizeram um pacto.

- Não contaremos a ninguém. Esse é o nosso segredo. – afirmou Maria Luiza.

- Ora, maninha! E quem iria acreditar na Fada Azul? As pessoas grandes não acreditam... – disse o Serginho fazendo uma cara muito séria.

- Mas nós acreditamos... – respondeu a menina. E fazendo cócegas no irmão foi entrando, na maior alegria, para o jantar que já estava à mesa esperando por eles.

09/11/07.

(histórias que contava para o meu neto.)