A CASA DO SOL CAP 1
A CASA DO SOL
FOLCLORE IRLANDÊS, ADAPTAÇÃO E VERSÃO POÉTICA DE
WILLIAM LAGOS
Capítulo Primeiro – 1º julho 2021
Tempo houve em que a Irlanda inteira
em muitos reinos era dividida;
lá em Donegal, bem no extremo norte,
ficava Innishowen, pequeno território,
povoado entanto por gente forte e altaneira,
que não se permitia ser vencida,
mas combatia até inimigos de bom porte,
sem jamais deixar cair a sua bandeira.
Ora, o Rei Murphy, já bastante velho,
foi com grande cerimônia sepultado
e em seu lugar Murphy Segundo coroaram,
de pouca idade e mesmo ainda solteiro;
que deveria casar ouviu logo o conselho:
com um herdeiro seria seu trono preservado
e seus nobres tratativas até iniciaram,
mas o reino era pequeno e assim o herdeiro
foi sendo adiado, pela falta de uma esposa;
sua velha ama, que tinha filha bela,
começou a convencê-lo que devia
casar com moça do reino sem tardança;
seria assim rainha-mãe a presunçosa!...
Fazia a filha espiar pela janela
a cada vez que Murphy II saía
e tal conselho de repetir não cansa...
Mas o rei insistia que era moço,
melhor seria esperar alguma dama
de sangue nobre, difícil que lhe fosse,
e alguns anos assim foram passando.
Numa caçada, parou junto de um poço:
que era solteiro se espalhara a fama
e três pastoras chegaram com sua posse
de cabras e ovelhas, ali esperando.
Uma delas, com seus negros cabelos,
afirmou, em um ato de ousadia:
“Ai, meu Deus! Se casasse o rei comigo,
com fios de ouro toda sua roupa eu bordaria!”
A segunda, com cabelos de ouro belos,
ficar atrás da outra não queria:
“Eu tenho um jarro de ouro do inimigo,
que para casa meu avô nos trouxe um dia...”
“Se o rei casasse comigo, eu lhe daria
esse jarro de ouro tão precioso:
seria o dote de meu casamento...”
A terceira ficou quieta no começo,
sua cabeça em rubro cobre reluzia:
“Eu lhe daria um dote mais formoso,
tão logo fosse pronunciado o juramento:
com dois filhos lhe provaria o meu apreço...”