O Espantalho e a Vassoura na Festa Junina

Era uma vez um espantalho que vivia na roça, com sua roupa xadrez esfarrapada e seu chapéu de palha já desgastado pelo sol. Dia e noite feito estátua, o espantalho solitário, já andava cansado de sua fatigante atividade no servir-se de espantar passarinho.

O espantalho sonhava poder sair dali, e poder conhecer outras pessoas, pois só vira algumas vezes o dono do roçado, sempre sério e calado a plantar sementes de milho.

Ali sozinho, sem amigos tomava chuva e muito sol, e via o milho nascer e crescer. Ao tempo de colher as espigas de milho verdinhas, o roceiro trouxe consigo os filhos, três rapazes bem diferentes do pai. Um ao fazer o trabalho de quebrar as espigas cantava, outro enchia os sacos e antes de colocar na cabeça dançava. O terceiro gostava de falar em versos rimados bem alto:

-Cuidem do serviço,

Que hoje é dia de São João

Deixem pra dançar à noite

Que quadrilha é tradição.

O espantalho que ouvia tudo, imóvel e sem chamar atenção de nenhum deles queria muito saber como era uma quadrilha, pois estático como era, gostou muito de ver os rapazes numa alegria, no movimento de cantar e dançar.

Quando estavam finalizando de encher os sacos com a grande montanha de milho verde e outras já secas, ele viu que sobre a lona restava alguns muitos grãos, e prontamente para juntar e ensacar, um dos rapazes foi na caminhonete pegar uma vassoura. Voltou cantando, dançando com ela e varria, juntava os grãos, cantava e dizia:

_É hoje que eu me acabo de dançar no arraial.

Os outros irmãos riram e disseram:

_ Só se seu par for a vassoura!

Os rapazes apressaram-se para voltar a cidade, subiram os sacos de milho na carroceria da caminhonete velha. Pegaram a lona, cobriram o milho e foram embora esquecendo a vassoura e o espantalho que a tudo assistia.

Quando tudo se fez silêncio, o espantalho que já tinha a costura da boca rota e desalinhada, pode falar e cumprimentou a vassoura, quis saber dela como era poder se movimentar, dançar, e o que era uma quadrilha. A vassoura que era acostumada a limpar os salões de festa contou-lhe da alegria da festa junina, das comidas feitas com o milho, das danças e da música, do forró de Luiz Gonzaga, da grande cultura Nordestina.

O espantalho ficou tão feliz que sonhou acordado, queria fazer parte desta festa e poder se movimentar. Mas sua sina era está ali de braços abertos, fosse inverno ou verão, espantando os passarinhos para não invadirem a plantação.

Conformado com sua lida, triste agradeceu a vassoura por lhe contar tudo. Já ia voltar a sua obrigação quando ouviu ao longe um barulho de carro. Eram os irmãos voltando. O que teriam esquecido? Havia ainda milho ainda para colher ou plantar?

O carro quase desenfreado parou. Da cabine saltou o rapaz trovador e correu, pegou a vassoura esquecida, que sorriu ao espantalho e disse adeus. Mas por sorte, e para a alegria do espantalhinho, o outro rapaz que amava dançar, de sorriso no rosto, do carro também desceu, veio e lhe tirou do pau em que estava pregado e o jogou junto à vassoura, os dois em cima da caminhonete e falou:

_ Vamos embora, que hoje pra festa vocês vão, e eu também vou!

E foi assim que o pequeno espantalho virou enfeite nas festas juninas, e sempre é tradição, de mãos dadas com a vassoura, enfeitarem o salão. Mas o que ninguém vê, disfarçados de caipirinhas, em meio à multidão, a vassoura e o espantalho, rodopiam a noite inteira e gritam: _ Viva São João.

Paula Belmino