o Reino de Mirabolândia
Era uma vez um castelo, no reino distante de Mirabolândia. O rei Mirabólicos II, mirabolava no seu mirabolante trono, sobre o plano mirabolante que faria para acabar de vez com a alegria do reino.
Não suportava felicidade.
Mas o que o rei não imaginava é que o som da flauta, do violão, da harpa e do bandolim pelas ruas mirabolantes de Mirabolândia já era coisa consolidada, coisa de gente feliz, animada e que não se abalava com nada.
Então o rei decidiu baixar um mirabolante decreto em que música a partir de agora era coisa proibida!
Que capricho mais sem graça. Mas a arte sempre dá um jeito e o povo expressou toda sua alegria através de lindíssimos murais, pinturas coloridas, desenharam instrumentos, pessoas dançando, uma verdadeira demonstração de alegria pelos muros da cidade.
O rei ficou furioso! Como ousam desafiar o mirabolante rei Mirabólicos II? Pois que seja decretado então, pintura, desenho, qualquer coisa colorida e desenhada está a partir de hoje proibida.
Ah! Mas o povo não se abateu não. A arte sempre dá um jeito, eu não te falei? Então escreveram cordéis, poemas do todo jeito, crônicas, declarações de amor, poesias e até versinhos sem rima mesmo. O fato é que pelas ruas da cidade só se ouvia o melhor da arte, da mais requintada poesia, os textos mais mirabolantes de que se teve notícia!
Não se dando por satisfeito o rei infeliz, mirabolando do seu trono um plano mirabolante para acabar com toda aquela felicidade, decretou ser proibida todo tipo de poesia, todo texto, todo conto, tudo, tudinho que tivesse letra não podia ser expresso pelas ruas da cidade.
Vocês pensam que o povo se calou? Vocês acham que a arte emudeceu? Pois podem acreditar, vocês,que a alegria jamais cessou!
Logo colchas bordadas, toalhas quilométricas feitas à mão, artesanatos feitos pelas mãos das mais sábias velhinhas, todo tipo de cores e formas estavam expressos feito poesia pelas mãos habilidosas de pessoas cheias de talento.
O rei Mirabólicos II era só raiva e chateação. Sentia um desprezo infinito pela arte, pela felicidade, por tudo o que fosse bom. Não aceitava toda aquela algazarra pela cidade. Em todo lugar que se olhasse as pessoas sorriam! Para todo canto gente animada! “Como esse povo consegue ser tão feliz sendo tão pobre?”
“É a arte, nobre rei!” disse o bobo da corte, como se lesse o pensamento mirabolante do rei que já mirabolava um novo plano para acabar com toda aquela sorte de materialização sorridente de espetáculos. “Agora só me falta chegar por aqui um circo! Onde já se viu tamanho disparate?”
“E não é que chegou mesmo?” arriscou o bobo da corte. “E o senhor é convidado de honra para o primeiro espetáculo. Não pode faltar, nem reclamar, nem se ausentar, nem mirabolar, nem deixar de ir, nem ficar de fora, nem conspirar, o senhor é o grande rei e tem que comparecer ao maior espetáculo da terra”.
E estava certo, o rei Mirabólicos II deveria comparecer ao circo, era uma exigência da lei do reino desde que seu pai Mirabólicos I assinou um decreto afirmando que todo rei deve ir ao circo para verificar com os próprios olhos se algo infringe a lei.
E lá foi ele contrariado. Primeira fila reservada. Cadeira especial e acolchoada. Tudo o que um rei precisa para ficar bem acomodado, até água de côco e lagosta defumada. Um camarote de primeira esperava o rei Mirabólicos II no circo “Espetaculosus de Espetaculices Espetaculares”.
Nem bem foi dado início ao espetáculo e o rei já estava em lágrimas. Chorava de raiva, tristeza ou o quê, meu Deus? Nada disso! Chorava de tanto rir do palhaço!Dá pra acreditar?
O rei ria tanto que por um momento o circo todo silenciou para ouvir ecoar a sua gargalhada real. Aquilo sim era algo real, digno de um rei de verdade.
O rei se divertiu muito com tanta palhaçada. Se apaixonou pela mulher barbada, se assustou com as cambalhotas e piruetas dos malabaristas, deu até pinta de artista se arriscando num pulinho de agitação. A cidade parou embasbacada.
O rei Mirabólicos II desde então acabou com toda aquela amargura da alma. Sorria gratuitamente todas as manhãs, podia estar escovando os dentes ou se coçando no banho, ria, gargalhava, descobriu o quanto é bom ser feliz!
Logo a cidade foi convocada para um pronunciamento em praça pública “toda lei que proíbe a arte está revogada, a partir de hoje a única coisa proibida aqui no reino é ser infeliz”.
E a música voltou a ecoar forte pelas ruas com os menestréis tocando suas trovas de amor, os poetas circulando seus cordéis, as crianças pintando seus painés, as bordadeiras, costureiras, os atores, todos foram para a rua expressar a sua arte e o reino de Mirabolândia se tornou um lugar incrível para se viver.
A felicidade estava em todo canto, as cores, a vida nova que se respirava, o encanto da arte, a magia do teatro, do circo e da alegria que contagia. A cidade permaneceu para sempre em festa!