OS TRÊS PORQUINHOS -- SEGUNDA PARTE -- FINAL
OS TRÊS PORQUINHOS 11
Chegou o lobo, bufando de aloprado:
“Não posso agora perder os meus presuntos!”
E se lançou, sem querer outros assuntos,
Contra a porta que por dentro haviam trancado!
De novo os protegeu a Porca-Madrinha,
Porém gritou com quanta força tinha:
“Abre a porta, porquinho, eu quero entrar!”
Não abro, não abro, não abro,
Pelos pêlos de minha barbicha, icha, icha, icha!”
Zangou-se o lobo com tal resposta micha:
“Pois eu bufo, eu sopro e tua casa vou derrubar!”
E o lobo bufou e o lobo soprou:
Mas a casinha era forte e suportou!...
Depois que o lobo se foi, desapontado,
Os dois porquinhos agradeceram ao irmão:
“Maninho velho, é você que tinha razão!
É forte a porta, é forte o seu telhado,
O lobo aqui entrar não vai poder,
Sem sua ajuda, ele nos iria comer!”
“É bem verdade, ainda bem que já reuní
Comida farta que dará para nós três
Até semanas, quem sabe mesmo um mês...
Já esperava receber vocês aqui;
Porém não vai para sempre nos durar,
De minha hortinha teremos de cuidar!”
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“O Lobo Mau sempre estará rondando,
Fica um de nós o tempo todo de vigia!”
Perto dali até trufas havia,
Que os Três Porquinhos acabaram encontrando.
Enquanto isso, o lobo conseguiu
Alguns ratinhos caçar e então dormiu.
Porém da empresa nunca desistiu
E volta e meia na caçada persistia,
Mas os porquinhos pegar não conseguia
E assim nova estratégia constituiu:
“Fazer eu tenho que vão para distante
E então eu posso agarrá-los nesse instante!”
Então chegava por perto, sorrateiro,
Mas um porquinho sempre estava de vigia
De avisar os outros nunca se esquecia,
Por mais que o lobo viesse bem ligeiro.
Ele chegava, sem mostrar grande insistência,
Embora ainda gritasse com paciência:
“Abre a porta, porquinho, eu quero entrar!”
Não abro, não abro, não abro,
Pelos pêlos de minha barbicha, icha, icha, icha!”
Exausto o lobo de tal resposta micha:
“Pois eu bufo, eu sopro e tua casa vou derrubar!”
E o lobo bufava e o lobo soprava:
Mas a casinha era forte e suportava!...
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Assim, um dia, chegou com bandeirinha
Branca de neve, fazendo-se de amigo:
“Porquinhos, não serei mais um perigo,
Não vou fazer vocês de comidinha!”
Não aceitaram os porquinhos tais reclamos:
“Vá-se embora, porque não acreditamos!”
“Vocês não gostam de nabos?” – indagou.
“Eu sei de um campo em que amadureceram,
Os camponeses não os recolheram,
Belo farnel para nós ali ficou!”
“E por que você não foi lá para arrancar?”
“É que amizade com vocês quero formar!...”
“Porcos e lobos sempre foram inimigos!”
“Mas na floresta eu me sinto solitário,
Vamos mudar o dever consuetudinário,
Não mais precisam esperar de mim perigo!”
Ele insistiu na mais pérfida eloquência.
“Qual é a proposta?” Responderam com paciência.
“Vamos os quatro fazer nossa colheita!
Venho chamá-los amanhã pela manhã,
Se todos nós trabalharmos com afã,
Conseguiremos um banquete desta feita!”
Mas os porquinhos estavam desconfiados
E facilmente não seriam enganados...
OS TRÊS PORQUINHOS 14
“E onde é que fica esse campo?” – lhe indagaram.
Pensou o lobo podê-los enganar
E os detalhes um a um, foi revelar
E cada volta do caminho ali escutaram.
“E no caminho não vai querer nos apanhar?”
“De modo algum, vou apenas ajudar!...”
“Está certo,” – Disse o porquinho mais velho.
“A que horas nos virá então chamar?”
“Às seis horas vocês podem levantar...”
“Pois muito bem, aceitamos seu conselho...”
Saiu o lobo, feliz com a mentirinha,
Desta feita, ele encheria a barriguinha!
“Mas, Maninho,” – falaram assustados
Os outros dois porquinhos. “É muito perigoso,
Esse lobo é malvado e mentiroso,
Se sairmos, os três seremos devorados!”
“De forma alguma! Vamos sair mais cedo
E cada nabo apanharemos em segredo!...”
Dessa forma, às cinco horas, todos três,
Carregando dois sacos e uma cesta,
Foram ao campo e fizeram linda festa,
Para a casinha retornando por sua vez...
E quando o lobo às seis horas chegou,
O trio de porcos depressa gargalhou!
OS TRÊS PORQUINHOS 15
“Agora é tarde, pegamos já os nabos,
Somente os podres ficaram pra você!”
Ficou o lobo furioso, já se vê,
Os Três Porquinhos a retorcer os rabos...
“Por que vocês por mim não esperaram?”
E os Três Porquinhos mais ainda galhofaram!
O triste lobo precisou comer minhoca,
Que se viravam dentro da barriga!...
“Mas os presuntos é preciso que eu consiga!”
Gemia o lobo, enroscado na sua toca.
E desta forma imaginou segundo ardil
Que enfim saciasse seu apetite vil!
No outro dia, ele se apresentou
E os Três Porquinhos depressa se esconderam,
Mas o lobo ali parado perceberam,
Que a correr atrás deles nem tentou...
“Porquinhos, vocês ontem me enganaram,
Mas minhas boas intenções se conservaram...”
“Eu sei onde encontrar lindo pomar,
Que está cheio de maçãs maduras,
Quero mostrar ter intenções bem puras,
Para as colher eu os venho convidar...”
“E onde é que fica esse pomar bendito?”
Ele explicou todo o trajeto bem bonito...
OS TRÊS PORQUINHOS 16
“Em Merry Garden fica esse pomar,
Venho chamar vocês às cinco horas,
Então levantem-se sem grandes demoras,
Antes que os donos possam acordar!”
Os porquinhos concordaram outra vez,
Pensou o lobo ter enganado os três...
Só que os porquinhos, em plena madrugada,
Saíram da casinha às quatro horas,
Colheram as maçãs sem mais demoras,
Deixando para o lobo quase nada!
E quando, às cinco, o lobo apareceu,
Eles falaram: “Tudo a gente já colheu!”
“Só te deixamos as maçãs bichadas!”
Ficou o lobo furioso, é natural,
Porém fingiu que não levava a mal,
Embora os porcos soltassem mil risadas!
Mas novamente a fúria ele escondeu,
Com o rabo entre as pernas, nem gemeu!
Mas só pôde comer umas formigas,
Que o picaram na boca e na garganta,
E nem do estômago a acidez espanta.
Ainda vivas nas tripas, longas brigas!
Passou a noite a remoer assuntos:
“Ainda preciso comer esses presuntos!’
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Depressa um novo plano elaborou.
Sabia onde estava uma panela de dinheiro,
Escondida na raiz velha de um pinheiro
E com cuidado, as moedas cavocou,
Mais uma vez indo a casinha visitar,
Com a panela na boca a carregar!
Ali chegando, parou completamente,
Que não queria caçar só a fingir,
Porém o trio depressa foi fugir
E se trancou de novo, firmemente.
“Porquinhos, eu só desejo ser amigo,
Porém parece que convencê-los não consigo!”
“Pois amanhã a feira anual de Shanklin
Será aberta, muita coisa a se encontrar,
Vamos os quatro até lá para comprar
Roupas, talheres, o que se quer, enfim...”
Mas os porquinhos responderam, bem ligeiro:
“Não vamos a Shanklin sem ter dinheiro!”
Como uma prova de sua boa-vontade,
Disse o lobo, parado junto à porta:
“Eu vim trazer esta panela torta,
Mas está cheia de dinheiro, na verdade!
Eu podia ter guardado para mim,
Mas com vocês vou repartir assim!...”
OS TRÊS PORQUINHOS 18
“Eu venho às quatro horas, desta vez,
Assim chegamos da feira no começo
E podemos conseguir o melhor preço,
Descansados, têm paciência com o freguês!”
“Está certo,” --- disse o mais velho, ligeiro,
Desde que nessa tal panela haja dinheiro!”
“Podem olhar, estou mesmo a ir embora,
A porta podem abrir bem sossegados,
Não há perigo de serem atacados,
Eu volto às quatro, então, marquem a hora!”
Mas às três horas da manhã seguinte
Disse o mais velho aos outros, com acinte:
“Desta vez, à feira eu vou sozinho,
Vocês se escondem aqui, sem nem falar,
Nada respondam quando ele chamar,
Que o lobo é bobo, porém muito daninho!”
E pegando a tal panela de dinheiro,
No outro dia levantou-se, bem ligeiro,
Às duas da manhã e foi depressa,
Até chegar de Shanklin na feira,
Onde comprou uma bela batedeira
De manteiga e já voltou, rolando a peça.
Porém o lobo quis bancar o espertalhão,
Na feira, às três, apareceu então!
OS TRÊS PORQUINHOS 19
Logo o porquinho viu o lobo que chegava
E bem depressa se enfiou na batedeira,
Virou de lado e rolou pela ladeira:
Com o barulho, logo o lobo se assustava!
E bem depressa, chegou na sua casinha.
Disse aos irmãos: “Abram logo, depressinha!”
Mas logo o lobo percebeu o acontecido
E veio atrás, de fúria já bufando,
Só que o porquinho já estava se trancando,
Sabendo estar sendo perseguido!
Então o lobo perdeu toda a paciência,
Gritando então com a maior veemência:
“Abre a porta, porquinho, eu quero entrar!”
Não abro, não abro, não abro,
Pelos pêlos de minha barbicha, icha, icha, icha!”
Zangou-se o lobo com tal resposta micha:
“Pois eu bufo, eu sopro e tua casa vou derrubar!”
E o lobo bufou e o lobo soprou:
Mas a casinha, mesmo assim, não derrubou!
“Vamos depressa aquecer o caldeirão!”
Disse o porquinho. “Se ele vir a chaminé,
Por ela abaixo vai se jogar até
E nos ataca, na maior irritação!”
E logo o lobo já subia no telhado,
Que estava forte e muito bem pregado!
OS TRÊS PORQUINHOS 20
Só então ele notou a chaminé
E então pensou: “Achei o meu caminho,
Vou pegar logo cada presuntinho!”
E se enfiou, para cair em pé.
O caldeirão estava já fervendo
E ali o lobo bem depressa foi morrendo!
Os Três Porquinhos acrescentaram sal
E começaram a mexer o caldeirão.
“Queria nos comer, lobo bobão,
Mas vais ser canja para nosso festival!”
A canja estava pronta ao meio-dia,
Porém à porta mais alguém então batia.
Foram olhar: “Ah, é só a Chapeuzinho
Vermelho, nossa amiga...” Eles falaram,
A porta abriram e logo a convidaram
Para comer a canja num pratinho...
Disse a menina: “Ah, estava saborosa!
Como fizeram essa canja deliciosa?”
Os Três Porquinhos toda a história lhe contaram
E indagaram a razão de sua visita.
“Ora, queridos, estou um pouco aflita,
A Vovozinha sumiu e não a acharam...”
E de repente, surgiu-lhe uma suspeita:
“Vocês abriram a barriga, desta feita...?”
EPÍLOGO
Os Três Porquinhos só se entreolharam:
O Lobo Mau haviam cozido inteiro,
Sem a barriga lhe abrir primeiro!
Todos os quatro depressa se engasgaram!...
??? ??? ???
Mas a seguir, chegaram caçadores...
Gritou a Vovó: “Estou viva, meus amores!”