OS TRÊS PORQUINHOS -- PRIMEIRA PARTE

OS TRÊS PORQUINHOS 1

(Conto folclórico inglês)

Primeira Parte – 21 junho 2019

Eis uma história já bastante conhecida,

Em que me atrevo a meter o meu bedelho,

Sem, no entretanto, recusar o meu conselho

De outra versão ter mais fama merecida;

Não obstante, hoje me sinto complacente

Para impor minha porcaria a toda a gente!

Ora, uma porca velha do chiqueiro

Tivera mais de uma dúzia de leitões...

Quem saberia de que forma tantos pões

Para mamar de suas tetas o bom cheiro

Do forte leite que Mamãe Porca produzia,

Que certamente mais de dúzia não cabia!

De algum modo, a ninhada prosperou,

Os bacorinhos estavam todos desmamados,

Só lavagem a comer eram forçados

E “porco a porco” aos poucos engordou,

Até ficarem maiores e mais fortes,

Sem nem ao menos pensar nas próprias sortes

Naturalmente, os suínos não se criam

Como prova de amor e caridade,

Transformam-se em comida, na verdade,

Em linguíça, chouriço, churrasco virariam,

Um a um, os bacorinhos da ninhada,

Até deixar a Porca Mãe bem abalada!

OS TRÊS PORQUINHOS 2

Pois, finalmente, só restavam três!

Dona Porca chorara amargamente

Ao escutar os gritos de um valente

Porquinho a ser comprado por freguês,

Ou os ginchos mesclados com gemido,

Quando um deles ali perto era abatido!

Certo dia, ela enxergou o fazendeiro

A apalpar os lombos dos porquinhos,

Últimos três a sobrar nos cercadinhos,

Interpretada a intenção em tom certeiro...

E ela pensou: “Pelo menos estes três

De Mr. Thompson eu vou livrar... talvez!”

Ela explicou a situação aos Três Porquinhos

E lhes disse: “Eu vou a cerca perfurar,

Que o fazendeiro os pretende devorar

Ou então os irá vender a seus vizinhos,

Que os matarão sem sentir dó nem piedade,

Extremamente cruel é a humanidade!”

“Desse modo, dêem um jeito de fugir

E para longe se escapar depressa!

Lá na floresta comida se acha à beça,

Há trufas e alfarrobas, avelãs a reluzir,

Que ali não podem encontrá-los os humanos

E poderão viver então por muitos anos!

OS TRÊS PORQUINHOS 3

“E a senhora, mamãe, não vai conosco?”

“Já estou gorda demais e muito velha;

Pela abertura que aqui farei, parelha,

Vocês três podem passar em passo tosco,

Mas eu não posso... E depois, o fazendeiro,

Logo a seguir, trará o marrão parceiro,

“Pai de vocês e de novo estou com cria...

Mr. Thompson não me abate, certamente,

Pois belos partos posso ter frequente,

Nova riqueza para essa gente fria!

Porém em quero que vocês achem guarida

Lá na floresta e que tenham longa vida!

Desse modo, após tombar a noite,

Rapidamente, Mamãe Porca abriu buraco

E para cada filhote deu um saco

Com provisões, que saíssem com afoite!

Assim, os Três Porquinhos se espremeram

E bem depressa no terreiro se esconderam,

Dizendo: “Adeus, Mamãe!” “Fujam depressa,

Antes que o cão seu cheiro bom fareje;

Não esperem seu carinho ou que ele os beije,

Irá mordê-los, que sua fome nunca cessa!”

Deste modo, os bacorinhos se afastaram

E na floresta bem rápido se acharam!

OS TRÊS PORQUINHOS 4

Por entre as árvores seguiram, bem contentes,

Mascando cogumelos, bolotas, mil frutinhas,

Comendo sem parar até que as barriguinhas

Se enchessem de alimentos suficientes,

Pensando estar em perfeita segurança,

Mas um perigo, contudo, em breve alcança!

Um lobo cinza morava ali bem perto

E quando viu chegar os Três Porquinhos,

Quase não creu; “Três ambulantes presuntinhos!

Hoje o alimento tenho já por certo!”

Mesmo avançando de modo sorrateiro,

Quando chegou, esqueceu-se de seu cheiro!

E os Três Porquinhos, de longe, o perceberam;

Claro que nunca haviam antes visto lobo,

Mas o instinto não deixou que fosse bobo

O porquinho mais velho e então fugiram!

(Só era mais velho por nascer primeiro,

Todos nascidos no mesmo dia de Janeiro!)

Mas não haviam engordado por demais

E o lobo ainda não tinha muita fome.

”Que desaforo! O presunto assim me some,

Mas não preciso de saltos radicais,

Vou deixar para caçá-los amanhã,

Não há razão para correr com tanto afã!”

OS TRÊS PORQUINHOS 5

Mas os porquinhos, ora conscientes do perigo,

Bem escondidos, foram logo conversar

E decidiram que ao relento assim ficar

Era imprudente, precisavam de um abrigo.

No dia seguinte, assim que o sol raiou,

Cada qual um esconderijo procurou.

O primeiro descobriu numa clareira,

Abandonada, talvez, meda de palha

E disse aos outros: “Achei o que nos valha,

Vamos fazer uma casinha bem maneira!”

O mais velho, porém, sendo prudente,

Não achou fosse segura o suficiente...

Mas o porquinho não quis se convencer:

“Eu vou fazer aqui a minha casinha!

Faço depressa! Se o lobo se avizinha,

Sem dúvida escaparei ao seu poder!”

Os outros dois procuraram convencê-lo,

Não conseguindo, contudo, demovê-lo.

E desse modo, o porquinho se enfiou,

Muito contente, no meio dessa palha,

Que amarrou com cipós e maravalha

E até mesmo portinhola adaptou!

E sendo preguiçoso, não fez mais,

Saindo em busca de alimentos naturais...

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Os outros dois continuaram caminhando,

Até encontrarem madeira abandonada,

Que à serraria não fôra ainda levada,

Talvez o dono nem estivesse mais lembrando.

“Vamos fazer uma casinha de madeira!

Vai ficar firme, bonita e verdadeira!”

Mas o terceiro porquinho, o mais prudente,

Não concordou. “Essa madeira é velha,

Tem muito menos resistência que se espelha,

Não dará certo, vamos seguir em frente!”

Mas o porquinho também era preguiçoso

E foi andando a passo vagaroso...

Logo em seguida, parou: “Eu vou voltar

E fazer minha casinha de madeira,

Será bem forte, protegerá certeira,

Se demorarmos muito, vai o lobo nos pegar!”

Só que o terceiro não se convencia:

“Coisa melhor esta mata nos daria!”

Mas o segundo porquinho era teimoso

E foi erguer, aos poucos, sua casinha,

Com quanta força o pobrezinho tinha,

Cravando os paus de um modo vagaroso,

Sem de fato os prender com segurança,

Mais apoiados uns aos outros em aliança...

OS TRÊS PORQUINHOS 7

Mas o terceiro porquinho, que era esperto,

Foi procurar um material mais forte

E mais adiante encontrou tremenda sorte:

Uma olaria se erguera ali por perto,

Mas os oleiros tinham ido descansar

E seus tijolos, bem ligeiro, foi roubar!

E planejou de modo cuidadoso:

No chão, primeiro, bom alicerce abriu,

Muitas pedras, com esforço, ele reuniu

E encontrou cal e cimento primoroso,

Ao rio desceu para ali buscar areia,

Pois não queria qualquer casinha feia!

Completou o alicerce com cuidado

E logo após foi erguendo suas paredes,

Voltou depressa, buscou telhas em redes

E enfim o abrigo se achava terminado!

Por ser prudente, não colocou janela,

Mesmo assim, ficou a casinha muito bela!

E construiu até mesmo chaminé,

Com pedras fortes que buscou no rio;

Só uma abertura permitiu seu brio,

Bela portinha e resistente até.

Depois achou uma fazenda abandonada

E trouxe os móveis para sua morada...

OS TRÊS PORQUINHOS 8

Você pode pensar, “Mas tão depressa?”

Não se esqueça que esta é só uma historinha,

Quem sabe havia até Porca-Madrinha,

Que vê o porquinho e por ele se interessa...

O fato é que completou rapidamente

E se instalou bem confortavelmente...

Como os irmãos, foi procurar comida:

Sendo verão, ali tudo era abundante,

Reuniu depressa suprimento interessante,

Guardando tudo na despensa construída,

Lembrando mesmo de iniciar hortinha,

Que ajudaria com bastante comidinha!

Enquanto isso, o lobo se acordou,

Sem conseguir achar os Três Porquinhos.

“Para onde foram meus três presuntinhos?”

Com impaciência, o bicho levantou

E começou a andar pela floresta...

Quando os achasse, faria bela festa!

Não conseguiu descobri-los de imediato

(Talvez a Porca-Madrinha o atrapalhasse!)

Mas como a fome já o espicaçasse,

Esforçou-se em encontrá-los pelo mato

E finalmente, viu a casinha de palha,

Amarrada com cipó e maravalha!...

OS TRÊS PORQUINHOS 9

Perto avistou o porquinho ali fuçando;

Logo pensou: “Encontrei o meu presunto!”

E sem querer entabular assunto,

Para cima do bichinho foi pulando!

Mas o porquinho farejou seu cheiro

E correu para a casinha bem ligeiro!...

“Abre a porta, porquinho, eu quero entrar!”

Não abro, não abro, não abro,

Pelos pelos de minha barbicha, icha, icha, icha!”

Zangou-se o lobo com tal resposta micha:

“Pois eu bufo, eu sopro e tua casa vou derrubar!”

E o lobo bufou e o lobo soprou:

Num redemoinho, a casinha desabou!

Ficou o porquinho um tanto emaranhado,

Mas com o medo, soltar-se conseguiu!

Faminto, o lobo então o perseguiu,

Mas num cipó ficou preso e atrapalhado!

O porquinho correu, com mil grunhidos:

Sabia o que acontece aos perseguidos!

Tanto correu, que chegou até a casinha

Em que morava seu segundo irmão.

Com alfarrobas um balaio tinha à mão.

“Mano, depressa!” Com quanta força tinha,

Ele gritou: “Vem o lobo atrás de mim!”

E se trancaram os dois, depressa assim...

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Chegou o lobo, já meio esfalfado.

“Não posso agora perder os meus preseuntos!”

E se lançou, sem querer outros assuntos,

Contra a porta que por dentro haviam trancado!

Talvez os protegeu a Porca-Madrinha,

Porém gritou com quanta força tinha:

“Abre a porta, porquinho, eu quero entrar!”

Não abro, não abro, não abro,

Pelos pelos de minha barbicha, icha, icha, icha!”

Zangou-se o lobo com tal resposta micha:

“Pois eu bufo, eu sopro e tua casa vou derrubar!”

E o lobo bufou e o lobo soprou:

Mas no começo, a casinha suportou!...

Bem que o lobo tentou quebrar a porta!

Andou em volta, bufando e assoprando;

Por dentro os dois estavam até firmando,

As paredes, mas logo a casa ficou torta!

E foi o lobo ficando entusiasmado,

Soltando o ar num sopro desusado!...

Ora, a casimha ficara bem malfeita,

Os paus e tábuas espalhando-se ao redor

E logo o lobo avançou com mais ardor!...

Talvez a Fada Porca ali estivesse à espreita,

O fato é que a dupla de porquinhos escapou

E nas madeiras o lobo se enroscou!