A LEBRE E A TARTARUGA DE ESOPO
A LEBRE E A TARTARUGA
(Fábula grega, traduzida do ingles conforme a versão original de Esopo).
A LEBRE E A TARTARUGA I – 27 MAIO 2019
A lebre, com orgulho, mostrava ser veloz,
Pois a raposa não a apanhava, realmente;
Até a alcateia a fitava, indiferente,
Mesmo que a fome já sentisse atroz,
Enquanto os lobos murmuravam a uma voz:
“Os coelhinhos são mais lentos, certamente,
De algum veado fazemos refeição frequente,
Mas a lebre é mesmo mais rápida que nós...”
Então a lebre diariamente se gabava:
“Ninguém consegue correr mais do que eu!”
E se exibindo, em volta ali correu,
Enquanto cada animal observava.
Claro que a águia, lá do alto, até troçava:
Quando eu quiser, será um petisco meu...
Mas ocultava o pensamento seu,
Discreta sendo enquanto o voo alçava.
Mas a lebre continuava a se gabar:
“Estou disposta a apostar corrida,
Quem quer que seja, eu levo de vencida,
Quem se dispõe a me desafiar?”
Era acolhida por silêncio embaraçado:
Cada um seria facilmente derrotado.
A LEBRE E A TARTARUGA II
Até que um dia, já cansada de escutar,
Uma vozinha aceitou o desafio:
Era logo a tartaruga, em triste brio,
Bem conhecida por seu lento caminhar.
Ficou a lebre surpreendida ao escutar,
Mas a seguir pôs-se a rir horas a fio:
“Logo você? Nem solte mais um pio,
De que modo poderá me ultrapassar?”
“A seu redor, eu posso até dançar,
Enquanto move essas patinhas lentamente.”
“Por que não espera a corrida terminar,
Para depois se exibir perante a gente?
Está com medo de ser derrotada?
Não vai ganhar de mim na gargalhada!”
A LEBRE E A TARTARUGA III
Porém a lebre não se convencia:
“Tartaruga, isso até é vergonhoso,
Deaafiar-me com seu passo vagaroso,
Até me ofende!” E agora já não ria.
A tartaruga, contudo, ainda insistia:
“Ponha de lado esse seu jeito desdenhoso
Para depois da corrida, de orgulhoso...
Até que ponto nossa prova chegaria?...”
“Até a beira o rio, lá no carvalho,”
Disse a lebre, com seu máximo desprezo.
“Você consegue chegar até amanhã?
‘Por mim, pode até pegar algum atalho,
Se quiser, ponho nas costas algum peso,
Não está vendo que tal disputa é vã?”
A LEBRE E A TARTARUGA IV
“Guarde seu fôlego para se gabar,
Depois que a prova tenha chegado ao fim.
Podemos começar agora, enfim?
Corra depressa, que eu corro devagar...”
Logo alguém foi o trajeto demarcar.
Disse a lebre: “Está muito bom para mim,
Vou esperar um dia e meio assim
Até essa tartaruga me alcançar...”
Para o começo, a coruja deu um grito
E a lebre logo saiu em disparada,
Logo se achava na metade do caminho.
E a tartaruga, em seu passo sem agito,
Foi passando lentamente pela estrada,
Cada metro a percorrer devagarinho...
A LEBRE E A TARTARUGA V
Ficou a lebre, bem de longe, contemplando
E de minuto em minuto fazia troça...
Mas zombaria só não causa mossa
E a tartaruga seguia caminhando.
De tanto olhar, foi a lebre se cansando:
Lambeu o focinho, depois as pulgas coça,
Foi beber água com calma numa poça
E sob o sol, enfim, foi-se enroscando...
Para mostrar seu desprezo, adormeceu
E a tartaruga se veio aproximando,
Até a lebre, finalmente, ultrapassar...
A convencida nem ao menos percebeu,
Até que enfim acordou-se, bocejando
E viu a outra no carvalho já a chegar!
A LEBRE E A TARTARUGA VI
Levantou-se depressa, em sobressalto,
Para a chegada correndo a bom correr,
A concorrente não conseguiu vencer,
Por mais que avançasse em seu assalto!...
Quando chegou até o carvalho alto,
A tartaruga descansando pôde ver,
A corrida ela acabara de perder,
Cada animal zombando em seu ressalto...
“Não é justo! Eu até peguei no sono!”
Disse a lebre, mas ninguém a apoiou,
O focinho em careta até arreganha!
Mas não pôde fugir ao desabono
E a tartaruga apenas comentou:
“É devagar e sempre que se ganha...”