O GALO E O RATO

O GALO E O RATO -- 26 maio 2019

(Folklore italiano, traduzido do livro em inglês, Nursery Tales

Around the World, recontado em prosa por Judy Sierra.

Era uma vez um galo, amigo de um ratinho.

Um dia, Topo, o rato, convidou o galinho:

“Olhe só a Nogueira, as nozes estão maduras,

Vamos os dois comer, são belas gostosuras!”

O galo concordou e saiu junto com o rato,

Os dois muito contentes, gulosos sem recato!

Chegados à Nogueira, logo o rato ali subiu,

O galo bateu asas, porém não conseguiu!

Então, ele pediu: “Ratinho, por favor,

Me jogue algumas nozes, por amizade e amor!”

O ratinho foi jogando as nozes, uma a uma,

Que o galinho, ali embaixo, em seu prazer consuma!

Mas acabou cansado, sem tempo de roer,

Que o galo as engolia inteiras, sem morder!...

O rato então bolou um plano malicioso,

Lançou uma noz bem grande num voo caprichoso

E na cabeça do galo direto ele acertou:

Com a força do choque, no chão ele tombou!

O rato, lá no alto, roendo continuou,

Sem se importar, de fato, se o galo desmaiou

Ou mesmo se morreu, pois só queria comer

E o galo ali estirado começou a se mexer.

“Amigo rato, estou com um tremendo “galo”,

No alto da cabeça, parece até um badalo!”

“Você não é um galo? Devia ter galinha...”

“Por favor, Zio Topo, me dê uma ajudazinha!” (*)

“Não posso fazer nada. Vá ver a Zia Strega, (**)

Que tem bom coração e por você se apega,

Vai passar linimento, vai dar-lhe beberagem,

Tratado o ferimento, lhe faz uma bandagem!”

(*) Tio Rato (**) Tia Bruxa.

“Mas estou muito tonto cá embaixo, amigo rato!”

“Agora estou com fome, não desço neste trato!”

Falando sério, o rato estava é com receio

Da vingança do galo, de muito justo veio!...

Então este se ergueu, sentindo-se estonteado

E foi até a choupana, a lamentar seu fado...

“Zia Strega,” ele falou, “me faça uma bandagem

Para curar minha cabeça, estou já sem coragem

De andar por aí, talvez vá desmaiar...”

A Tia Bruxa falou, depois de o examinar:

“Amigo galo, é certo que lhe faço o curativo,

Mas preciso de dois pelos de um cão bastante ativo!”

“Mas Zia Strega,” ele falou. “E se o cão me morder?”

“Preciso dos dois pelos para o ”galo” lhe atender.”

Assim, o pobre galo foi em busca de um cachorro,

“Zio Canaccio, me ajude, caso contrário, eu morro!” (*)

O canzarrão não tinha fome e quis saber o jeito.

“Quero dois pelos de suas costas, tirados sem defeito!”

(*) Tio Cachorrão.

“Ora, e por que razão vou arrancar meu pelo,

De que modo isso pode trazer-lhe algum desvelo?”

“Amigo Cão, eu irei dar esses dois pelos

Para Zia Strega, que me atenda com seus zelos

E cubra minha cabeça com uma boa bandagem,”

Respondeu o galinho, ainda cheio de coragem.

“Está certo,” disse o cão, “dois pelos lhe darei,

Porém me traga um pão, primeiro eu comerei.”

O galo, ainda estonteado, cambaleou até o Padeiro.

“Zio Fornaio,” meu amigo, me seja um bom parceiro, (*)

Seja bom para mim e me dê agora um pão,

Preciso presentear a meu amigo, o Cão.”

(*) Tio Padeiro.

“Mas e por que o Cão não me vem pedir direto,

Pois sabe muito bem que lhe demonstro afeto!”

“Meu caro Zio Fornaio, um pedaço bom de pão

Eu levarei a seguir a meu amigo, o Canzarrão

“Só então o Zio Cane me dará os dois pelos

Para dar à Zia Strega, que me atenda com seus zelos

“E cubra minha cabeça com uma boa bandagem,”

Respondeu o galinho, ainda cheio de coragem.

“Pois muito bem, então, que bom cuidado tenha,

Eu lhe darei o pão, se primeiro trouxer lenha...”

Então o pobre galo até a Floresta caminhou:

“Zia Foresta, dê-me lenha”, então lhe suplicou. (*)

(*) Tia Floresta.

“Mas e por que motivo eu deva dar-lhe lenha?

Se alguém dela precise, então que aqui me venha.”

“Querida Zia Foresta, irei levar a lenha

Até o Zio Fornaio, que a bondade tenha

De me dar a seguir um pedaço bom de pão

Que levarei depois a meu amigo, o Cão.”

“Só então o Zio Cane me dará os dois pelos

Para dar à Zia Strega, que me atenda com seus zelos

E cubra minha cabeça com uma boa bandagem,”

Respondeu o galinho, ainda cheio de coragem.

“Está bem,” disse a Floresta, “a lenha dou sem mágoa,

Desde que vá à Nascente buscar-me um pouco dágua.”

E então foi o galinho, já quase desmaiando.

Chegando até a Fonte, os passos já trocando.

“Zia Sorgente, pode dar-me um pouco de água?” (*)

“Sem dúvida darei, pois não me causa mágoa,

Mas por que não baixa o bico para se abeberar?

Minha água é cristalina, nela até pode se banhar...”

(*) Tia Nascente.

Assim o bom galinho, cansado de falar,

Por derradeira vez voltou a se explicar:

“Querida Zia Sorgente, hoje eu darei a água

Que agora me oferece de sua mansa frágua

Para a boa Zia Foresta, que me dará a lenha

Que levo ao Zio Fornaio, que a bondade tenha

De me dar a seguir um pedaço bom de pão

Que levarei depois a meu amigo, o Cão;

“Só então o Zio Cane me dará os dois pelos

Para dar à Zia Strega, que me atenda com seus zelos

E cubra minha cabeça com uma boa bandagem,”

Respondeu o galinho, ainda cheio de coragem.

E Zia Fontana, então, deu-lhe a água que queria,

Que guardou no seu bico o melhor que se podia

E depois Zia Foresta lhe deu bastante lenha,

Que guardou sob as asas, como melhor se tenha

E Zio Fornaio, em troca, lhe forneceu o pão,

Que levou bem contente para entregar ao cão!

Então o Zio Cane lhe entregou dois pelos,

Que levou à Zia Strega em troca de seus zelos,

Que lhe passou na cabeça um certo linimento

E deu-lhe beberagem de curador portento;

Depois lhe envolveu a cabeça em boa bandagem,

Restaurando no galinho a força e a sua coragem!

Mas quando retornou até a velha nogueira,

Viu que o amigo Topo a fuga já empreendera,

Com medo que o galinho quisesse se vingar,

Sem que este pretendesse do trote se cobrar!

E sem mais um suspiro, voltou ao galinheiro,

Onde logo se aninhou num sono bem ligeiro!