A bonequinha preta, um conto de Charliza

Infantil-->A bonequinha preta -- 24/11/2003 - 03:35 (Charliza Collina)

Era fim de outubro ainda, mas aquele passeio - na caixa - da fábrica de brinquedos à Loja dos Sonhos das Crianças foi a coisa mais esperada e mais memorável para aquele grupo de bonecas, fresquinhas - e prontinhas para serem admiradas e adotadas pelas meninas da cidade - e até mesmo do interior.

A chegada à loja, a desembalagem, a acomodação nas prateleiras, tudo feito com calma e bom jeito, no cair da noite, com a loja já fechada ao público só serviu para aumentar a excitação das bonequinhas.

E não é que ao se apagarem as luzes e se retirarem os humanos, aí é que a festa foi legal!

As bonequinhas, eram tantas, se reuniram, sob a iluminação da árvore de natal e tanto brincaram que só voltaram para seus lugares quando ouviram chave passada na porta, quase ao amanhecer. E era só o vigia, mas melhor não arriscar.

E assim foram passadas as noites seguintes, até que já em meados de novembro começaram a ser menores as rodas de folguedos noturnos, cada dia menores: as bonequinhas estavam sendo vendidas rapidamente.

E um belo dia, chega mais uma turma nova, de reforço, já era dezembro afinal. E mais outra leva ainda chegaria já quase na véspera do Natal. E tanta era a alegria de seus folguedos que não viam passar a noite. Contando as horas e os minutos para caírem nas mãos de um comprador - não sem antes passarem pelo olhar admirador das pequerruchas.

Só Alvina é que desde que chegara não experimentou aquela sensação e viu, com alguma lágrima escondida, partirem as amigas de farras.

Alvina era preta, pretinha feito ela só.

Sua noite mais triste foi na véspera do Natal. Sozinha na prateleira não tinha com quem brincar ao menos. Até que chegou, de repente aquele menino, que parecia ter entrado magicamente na loja, sem passar por porta ou janela. Mas um menino aqui, pensou ela? Que faz? Não é a seção dos carrinhos e bolas que os satisfaz?

Mas veio o menino, " ... e veio sem muita conversa e sem muito explicar...", ela só sabe que cheirava e gostava de amar - e brincou com ela até fartarem-se de tanta alegria. E ela adormeceu em seu colo. Ele muito gentilmente a recolocou na prateleira, não sem antes dar-lhe um beijinho na testa.

Charliza
Enviado por Paulo Miranda em 04/10/2020
Código do texto: T7079138
Classificação de conteúdo: seguro