Pedrinho era um menino muito curioso que adorava mexer em tudo que via à sua frente. Ele revirava a casa a procura de uma pista que o pudesse levar até o rio.
Desde que entrou para a escola esse era o seu sonho: ver o rio se encontrar com o mar. Em sua cabecinha era impossível que isso acontecesse, afinal o rio era sujo e o mar limpo.
Como morava numa aldeia no litoral da Bahia, raramente ia até a cidade. Descendente de índio como era, mantinha seus costumes para não ofender os costumes tão preservados pelo pajé. Ele morava numa maroca e vivia em comunais, que eram grandes propriedades com uma abertura no centro, onde aconteciam as festas tradicionais.
Pedrinho tinha apenas 8 anos e por isso não podia participar dos rituais do gênero masculino, pois era considerado uma criança. Mas Pedrinho não se conformava e vivia escondido entre as palmeiras ouvindo as conversas dos adultos.
Certa vez, estava sentado no canto de uma maroca quando ouviu o avô, que era a figura paterna mais importante da tribo, dizer que era preciso “correr atrás do rio” para que a abundância e a prosperidade voltasse à tribo e, com isso, os indígenas menores poderiam se tornar homens de verdade, aprendendo o ofício deles, senão estariam fadados ao extermínio. Mas que em meio a tantas misérias, antecipar a maioridade seria um desastre, pois causaria pânico e tristeza na aldeia. O menino, ouvindo a conversa do avô, voltou-se para as estrelas e acenando para o universo, afirmou em voz alta:
- Minha missão é salvar essa tribo! Vou correr atrás do rio. Não posso deixá-la morrer!
O menino foi até a maroca, pegou um embornal, encheu-o de aipim e cenoura, pegou um cantil, várias sementes e foi se aventurar no meio da floresta que se encontrava a quilômetros dali. Sem que ninguém pudesse vê-lo, saiu de mansinho, para não gerar nenhuma desconfiança.
O menino, acostumado a andar no máximo dois km, já havia caminhado 17 e estava exausto. Sentou-se no meio do caminho e começou a chorar. Tinha medo de que a pobreza pudesse assolar a tribo que, cada vez mais, ficava sem recursos por causa da ação do homem. Mas o que o fazia chorar de verdade era o cansaço. Não podia desistir, mas não aguentava mais continuar. E foi assim, até que, por um atalho, o menino ficou de frente com o rio numa atitude de alegria, surpresa e preocupação. Olhou pro rio e gritou: Vou correr atrás de você, por favor, espere-me! O rio não respondeu nada. Ele tentou duas, três, quatro vezes até que, cansado, o menino sentou-se numa rocha, às margens do rio, e começou a orar, como seus ancestrais, pedindo ajuda à divindade. Foi aí que a terra começou a tremer o rio aumentou assustadoramente o seu volume e começou a pervorrer violentamente o seu curso.
O menino começou a correr atrás do rio, sem parar e já perdendo o fôlego, avistou uma terra calma, rio limpo, e ficou imóvel. Ele acreditava que tinha achado a terra santa, muito citada pelo Pajé.
Como era muito menino e não saberia voltar pelo caminho em que se aventurou, foi jogando sementes para que pudesse traçar uma rota. Assim, depois de tudo, ele foi seguindo os rastros da semente até um trecho onde encontrou um bando de veados que haviam comido as sementes. O menino então não conseguiria voltar pra casa.
Na aldeia, o pajé estava preocupado com o sumiço do menino e viu que as sementes de plantio haviam sumido. Como estava anoitecendo e não sabendo o que fazer, o pajé sentou-se diante das imagens dos seus ancestrais e meditou pedindo auxílio, quando à sua mente vieram palavras que havia dito em conversa com os demais homens da tribo, entre elas, que precisavam correr atrás do rio, e como o menino era curioso e esperto, e desde os 4 anos sempre quis conhecer o rio, pensou que ele poderia ter fugido para encontrar o rio. Fez uma reverência aos ancestrais que o mostraram o caminho e seguiu rumo ao riacho mais próximo.
No meio do caminho, avistou de longe, uns veados que estavam rodeando uma criança. O pajé correu, temendo que o menino fosse atacado pelos animais, quando se aproximou, viu que era seu neto. Abraçou-o e disse:
- Nunca mais saia da aldeia sem permissão. Todos estão em pânico.
Pedrinho, arrependido, permaneceu em silêncio até a chegada à aldeia.
Quando encontrou seus pais falou sobre a “terra prometida” que havia encontrado quando corria atrás do rio. O pai ficou surpreso com a fala do menino e resolveu, junto aos homens da tribo, ir atrás da terra vista pelo menino.
Quando enfim, chegaram no local, viram um grande terreno onde poderiam viver com a ajuda da mãe natureza, usando dos recursos naturais. E assim todos os membros da aldeia foram morar na terra prometida.
No primeiro dia, após a mudança das terras, houve uma grande festa comemorativa e o pajé avô foi agradecer ao menino que, logo lhe perguntou:
- O que você quis dizer quando disse que precisávamos correr atrás do rio?
O pajé riu e disse:
- Correr atrás do rio é um ritual feito pelos homens da tribo,meu filho, em volta do riacho que fica na aldeia, oferecendo aos deuses nosso esforço e cansaço em prol de uma visão de prosperidade. Não é correr atrás de um rio de verdade, menino. Por isso, não podemos escutar conversas de adultos. E nem fazer as coisas antes do tempo. Tudo tem sua hora! Agora vá brincar e nunca mais ouse tentar entender o que falo, porque se for afoito, antes da hora, o risco de ser morto na floresta é muito grande. Cuide apenas do que é seu dever: aproveite para ser criança. E por falar nisso, vá brincar, essa fase passa logo!
Desde que entrou para a escola esse era o seu sonho: ver o rio se encontrar com o mar. Em sua cabecinha era impossível que isso acontecesse, afinal o rio era sujo e o mar limpo.
Como morava numa aldeia no litoral da Bahia, raramente ia até a cidade. Descendente de índio como era, mantinha seus costumes para não ofender os costumes tão preservados pelo pajé. Ele morava numa maroca e vivia em comunais, que eram grandes propriedades com uma abertura no centro, onde aconteciam as festas tradicionais.
Pedrinho tinha apenas 8 anos e por isso não podia participar dos rituais do gênero masculino, pois era considerado uma criança. Mas Pedrinho não se conformava e vivia escondido entre as palmeiras ouvindo as conversas dos adultos.
Certa vez, estava sentado no canto de uma maroca quando ouviu o avô, que era a figura paterna mais importante da tribo, dizer que era preciso “correr atrás do rio” para que a abundância e a prosperidade voltasse à tribo e, com isso, os indígenas menores poderiam se tornar homens de verdade, aprendendo o ofício deles, senão estariam fadados ao extermínio. Mas que em meio a tantas misérias, antecipar a maioridade seria um desastre, pois causaria pânico e tristeza na aldeia. O menino, ouvindo a conversa do avô, voltou-se para as estrelas e acenando para o universo, afirmou em voz alta:
- Minha missão é salvar essa tribo! Vou correr atrás do rio. Não posso deixá-la morrer!
O menino foi até a maroca, pegou um embornal, encheu-o de aipim e cenoura, pegou um cantil, várias sementes e foi se aventurar no meio da floresta que se encontrava a quilômetros dali. Sem que ninguém pudesse vê-lo, saiu de mansinho, para não gerar nenhuma desconfiança.
O menino, acostumado a andar no máximo dois km, já havia caminhado 17 e estava exausto. Sentou-se no meio do caminho e começou a chorar. Tinha medo de que a pobreza pudesse assolar a tribo que, cada vez mais, ficava sem recursos por causa da ação do homem. Mas o que o fazia chorar de verdade era o cansaço. Não podia desistir, mas não aguentava mais continuar. E foi assim, até que, por um atalho, o menino ficou de frente com o rio numa atitude de alegria, surpresa e preocupação. Olhou pro rio e gritou: Vou correr atrás de você, por favor, espere-me! O rio não respondeu nada. Ele tentou duas, três, quatro vezes até que, cansado, o menino sentou-se numa rocha, às margens do rio, e começou a orar, como seus ancestrais, pedindo ajuda à divindade. Foi aí que a terra começou a tremer o rio aumentou assustadoramente o seu volume e começou a pervorrer violentamente o seu curso.
O menino começou a correr atrás do rio, sem parar e já perdendo o fôlego, avistou uma terra calma, rio limpo, e ficou imóvel. Ele acreditava que tinha achado a terra santa, muito citada pelo Pajé.
Como era muito menino e não saberia voltar pelo caminho em que se aventurou, foi jogando sementes para que pudesse traçar uma rota. Assim, depois de tudo, ele foi seguindo os rastros da semente até um trecho onde encontrou um bando de veados que haviam comido as sementes. O menino então não conseguiria voltar pra casa.
Na aldeia, o pajé estava preocupado com o sumiço do menino e viu que as sementes de plantio haviam sumido. Como estava anoitecendo e não sabendo o que fazer, o pajé sentou-se diante das imagens dos seus ancestrais e meditou pedindo auxílio, quando à sua mente vieram palavras que havia dito em conversa com os demais homens da tribo, entre elas, que precisavam correr atrás do rio, e como o menino era curioso e esperto, e desde os 4 anos sempre quis conhecer o rio, pensou que ele poderia ter fugido para encontrar o rio. Fez uma reverência aos ancestrais que o mostraram o caminho e seguiu rumo ao riacho mais próximo.
No meio do caminho, avistou de longe, uns veados que estavam rodeando uma criança. O pajé correu, temendo que o menino fosse atacado pelos animais, quando se aproximou, viu que era seu neto. Abraçou-o e disse:
- Nunca mais saia da aldeia sem permissão. Todos estão em pânico.
Pedrinho, arrependido, permaneceu em silêncio até a chegada à aldeia.
Quando encontrou seus pais falou sobre a “terra prometida” que havia encontrado quando corria atrás do rio. O pai ficou surpreso com a fala do menino e resolveu, junto aos homens da tribo, ir atrás da terra vista pelo menino.
Quando enfim, chegaram no local, viram um grande terreno onde poderiam viver com a ajuda da mãe natureza, usando dos recursos naturais. E assim todos os membros da aldeia foram morar na terra prometida.
No primeiro dia, após a mudança das terras, houve uma grande festa comemorativa e o pajé avô foi agradecer ao menino que, logo lhe perguntou:
- O que você quis dizer quando disse que precisávamos correr atrás do rio?
O pajé riu e disse:
- Correr atrás do rio é um ritual feito pelos homens da tribo,meu filho, em volta do riacho que fica na aldeia, oferecendo aos deuses nosso esforço e cansaço em prol de uma visão de prosperidade. Não é correr atrás de um rio de verdade, menino. Por isso, não podemos escutar conversas de adultos. E nem fazer as coisas antes do tempo. Tudo tem sua hora! Agora vá brincar e nunca mais ouse tentar entender o que falo, porque se for afoito, antes da hora, o risco de ser morto na floresta é muito grande. Cuide apenas do que é seu dever: aproveite para ser criança. E por falar nisso, vá brincar, essa fase passa logo!