O ELEFANTINHO PERDIDO
A floresta está em crise. Os desmantelos sem precedentes, as queimadas e as caçadas criminosas contra os animais tornam a floresta frágil e indefesa. Homens com suas máquinas e serras cortantes insistem na destruição. Poluem os rios, desrespeitam a natureza.
Alguns animais e até insetos escapam para outros locais na busca da sobrevivência. O jacaré irritado, foge rio abaixo. As graúnas partem em bando e emitem um tom de adeus.
O leão adoece. Parece estar estafado. Por isso resolveu procurar o doutor Coelho para consulta. Ele lhe passa uns calmantes e o aconselha a renunciar o trono, para o bem da saúde dele.
- Mas como, compadre Coelho? Interroga o Leão assustado, ao ouvir o conselho do médico.
O doutor Coelho tenta convencê-lo:
- Compadre Leão sua saúde não está boa. Você precisa de um tempo de repouso, longe das decisões. Renuncie ao trono.
- Mas quem poderia assumir o comando da floresta a não ser eu, o Leão? Persistiu o rei.
- Meu caro amigo Leão, análise os fatos. O tempo está mudando. A floresta está sendo aniquilada. Não se faz nada. Pense nisso. Falou o doutor Coelho.
O leão retorna à floresta muito triste. Sua saúde já não era mais a mesma. Mas sua preocupação agora é quem irá substitui-lo. Ele começa a pensar:
- Poderia ser a onça. Murmurou o leão.
-Não, ela não tem a garra dos leões.
- O tigre! Meditou o leão. Não, ele é muito impaciente. É um rei não pode esse defeito. Conclui o Leão.
O Leão fez então uma relação de cada animal da floresta. E, em nenhum deles encontrou habilidades para um rei.
Mas, será que um candidato a rei deverá ter todas as virtudes? Ou isso será construído através do esforço e da experiência do dia a dia?
De repente, lá no alto da floresta, o Leão avista um elefantinho perdido que caminhava lentamente, sem destino.
Ele aparentava estar atordoado, mas andava de cabeça erguida como se estivesse procurando algo. O Leão o observou por horas e de repente teve um estalo:
- É ele! O elefante poderá me substituir. É enorme, grande e forte. Sabe decidir no diálogo ou na força. Todos irão respeitá-lo. Finalizou o rei.
E convocou uma grande assembleia para eleger o elefante como rei da floresta.
Na assembleia a discursão foi longe e durou vários dias. Todos queriam a palavra. Não houve entendimento. Foi uma verdadeira algazarra.
Alguns animais não gostaram nada daquilo. Como poderia o elefante ser o rei dos animais. Só por causa da influência do Leão? Do apoio dele?
- Não. Sussurravam eles.
- O elefante até que poderia ser um rei. Mas, da maneira como está sendo conduzido esse processo eu não concordo. Gritou o búfalo.
-É ! Meio pensativo disse o Tatu.
-Desse jeito ele será um marionete. Com jeitão de Tatu malandro, afirmou o Tatu impaciente.
- Não governará nada. Será um rei faz de contas. Concluiu insatisfeito o Tatu.
- Deixa como está, meus amigos animais. Disse a preguiça.
- Não esquenta ! prossegue ela calmamente.
- Mudar para que? Não adianta. Prossegue ela.
- O que é isso, não diga asneira, comadre Preguiça. Disse uma ovelha ao assistir tudo.
- Mudanças hão de ser aceitas. Confirmou a ovelha.
- Agora, de uma maneira democrática. Acrescentou a ovelha
- Concordo. Completou o cavalo.
- Mas deste jeito, não. Dou patadas, mesmo. Irritou-se o cavalo
- O leão quer empurrar essa votação na marra.
- Tem sua turma que acredita nos desmantelos dele e pensa que vai levar essa desses modos. Disse a girafa
- Estou olhando, sempre daqui do alto, não se esqueçam. Conclui e girafa com um sorriso sinistro.
Na votação a maioria votaram contra a decisão do Leão.
O elefante que havia se entusiasmado com o poder, não gostou da votação.
Ficou triste, descontente. Parecia ter perdido a cabeça. E sua trompa que sempre erguia estava quando andava, caiu por terra.
Depois daquele dia o elefante que vivia de cabeça erguida, passou a andar cabisbaixo, roçando a sua trompa ao chão.
Por certo aquela assembleia reconheceu que para ser candidato a rei, a decisão não deve ser só pela postura.
Nem somente pela vontade de um governante que se eterniza no poder como o Leão. Apesar de inconformado, o Leão continua sendo o rei da floresta.
Será que estamos formando reis (seres de conhecimento e cultura) para vislumbrar o perigo e as ameaças?
Ou martelamos em construir seres tratores, máquinas que enferrujarão na virada do século e mendigarão empregos falidos?
Elefantinhos perdidos nessa selva tecnológica que nos inunda.