HISTÓRIA DE UM POVO
Um certo dia Taninho passou um vexame. Na escolinha do bairro onde estuda sua professora, resolveu fazer um pequeno teatro para comemorar a abolição dos escravos. Assim contar como tudo se procedeu. Taninho era um negrinho inteligente e logo quis tomar parte da peça teatral.
- Tia! Não me esqueça de incluir, também, está certo?
- Não se preocupe Taninho. Você será envolvido.
-Obá, obá. Saltitando de alegria sai Taninho ao encontro dos colegas de sala.
- Não disse que participaria! Cheio de auto estima e felicidade gritou com voz estridente.
No dia seguinte na sala de aula a professora organiza sua tarefa e assim expõe aos alunos que sentados estavam e muitos ansiosos.
- Pois bem pessoal. Continuou a professora. Quanto ao nosso teatro: Gilberlande será a bela princesa da casa grande. Marcelo o forte cavaleiro que lutará contra a escravidão. Assim como lutou Dragão do Mar, Pedro Pereira e tantos outros...
- E eu tia! Que serei ? curioso interrompe Taninho a professora.
- Calma, Taninho, Calma. Respondeu automaticamente a mestra dos pequenos aprendizes naquela manhã de maio.
Pela Janela da sala de aula dava para ver um céu todo azul e ainda sentir um vento frio que arejava toda a sala e ainda fazia reboliço nos papéis amassados e amarelados da professora que todos os dias trazia junto com sua enorme bolsa de pano.
A professora ao olhar para Taninho falou sem titubear:
- Tu serás o escravo filho da mucama, mãe de leite. Ficarás no canto a mendigar...
- Escravo coisa nenhuma! Interrompe impaciente Taninho a professora.
- Quero ser , sim um negrinho forte, lutador. Impõe uma decisão no plano de curso da professora.
- Um quilombola. Conclui ele com ar de graça e completa:
- Desse que fundou um lindo quilombo. Disse ele com seus olhos arregalados e convictos. E prossegue:
- Como João Mulungu, herói negro do estado de Sergipe. Foi assim que meu avô foi. E que meu pai é.
Meu avô e o avô do meu avô foram negros nascidos na Guiné, mas nunca escravos. Eles lutaram, foram quilombolas. Assim é meu pai. E quero ser como eles. Conclui e deixa a professora embaraçada.
- Mas, Taninho, tencionas mudar a história? Tenta, a professora, sem modos acalmar o garoto.
- Não tia. Eu quero apenas que a senhora conte a história de verdade, como ela aconteceu. Ou a senhora não sabe? O garoto deixa acuada a mestra.
- E o que você sabe, Taninho? Toma a professora as rédeas.
O interroga irritada.
- O que sei é o que meu pai me disse e que o avô dele contou a ele. De que o povo que veio da África para o Brasil era um povo forte, bonito e estudioso. Foram trazidos a ferro para cá. As famílias negras foram divididas para evitar união entre eles. Muitos negros morreram. Foi uma destruição à África. Contudo, o povo sofrido se organizou e lutou pela sua liberdade.
- Já vi que você conhece um pouco de sua história, Taninho. Exclamou a professora.
- Sou Macuas, professora. Disse ele.
- Macuas?! Assustada interrompe a professora.
- que vem a ser isso, garoto?
- Macuas é um povo africano inteligente e falador. Afluíram para cá diversas nações africanas. Proveram cultura Bantos, sudaneses, nilólicos, tsonga e changonês. Disse ele e continua:
- Cultura sudaneses representada pelos povos iorubanos da atual Nigéria, nagô, ijechá, eubá e até negros maometanos. A tia sabe disso?
- Muito pouco, Taninho, mas você me fez entender o quanto devemos aprender. Agora compreendo porque o Brasil é tão rico culturalmente. É alegre com suas músicas e grupos que só nesta terra se tem.
Então pessoal, é momento de ver diferente a abolição dos escravos. Disse a professora a sua turma.
-Nossa peça de teatro versará como enredo principal a organização do povo negro. Disse ela toda cheia de graça.
E daí surgiu no espetáculo a capoeira, o maculelê com sons de Olodum e Abogun Bólu. Além de tocarem Timbalada, Ara Ketu e batuque, misturados com ritmos afros cearense.
Ah! Eles não esqueceram dos toques e fantasias do maracatu cearense, inclusive organizaram uma ala da coroação da rainha.
E imagina quem era o rei do maracatu. Pois é, era ele mesmo o Taninho. O pessoal se empolgou. Foi uma aula rica, alegre e descontraída.