Quando eu era criança, minha mãe me mandava ir à Padaria de Dona Idalina comprar pão. Eu, toda serelepe, subia no meio-fio e ia me equilibrando até lá. Era um feito enorme para mim... uma alegria! A Lúcia, filha de Dona Idalina, abria um sorriso quando me via. Ela já sabia a quantidade de pães que eu comprava diáriamente. Me entregava os pães embrulhados num papel de pão, amarrados com barbante fino e eu lhe entregava o caderno de "comprar fiado". Eu ficava olhando aqueles doces, chocolates, chicletes, balas e os sonhos que saiam quentinhos... Sabia que não podia comprar, mas não ficava triste. Entendia que tinha um orçamento a cumprir, como minha mãe me explicava.
Então, saía eu, toda serelepe de novo, e subia no meio-fio que me levava até a esquina da rua em que eu morava com os pães fresquinhos.
Chegava em casa, deixava os pães sobre a mesa da cozinha, lavava as mãos e esperava a hora do lanche da tarde. Que delicia! Pão quente, manteiga, leite fresco que eu comprava no Sr. Otaviano e café, as vezes, achocolatado. Dias inesquecíveis! Depois do lanche, sentávamos na sala, eu e meus irmãos, para assistirmos Jeane é um Gênio ou a Feiticeira. Nós adorávamos esses seriados. Depois, estudávamos, fazíamos as tarefas escolares e esperávamos o jantar. Nesse ínterim aprontávamos toda as peraltices normais das crianças.
Eu vivi durante a Ditadura Militar e, por esse motivo, éramos educados a cantar o hino nacional na fila da escola, participávamos dos desfiles escolares e eu pensava: Adoro a minha casa, mas minha mãe parece um sargentão e nós os soldados, pois tínhamos que obedecer à risca suas ordens. Era muita disciplina. Meus irmãos estão por aqui e não me deixam mentir.
Contudo, diante desse mundinho, num bairro pobre, éramos felizes e sonhávamos com um futuro melhor.
De minha parte, acho que conquistei 70% dos meus sonhos. Tive percalços como todo mundo, mas sigo em frente, esperando poder conquistar os 30% que ainda me faltam, se Deus quiser.
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Niterói, 12 de Maio de 2020.
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