Moara montou na loba “menina”, espécime de lobo-guará,
e correu para socorrer seus amigos da mata.
A mata que tanto ama, com seus rios e cachoeiras,
com seus verdes exuberantes e suas flores perfumadas e
graciosas correm o risco de sumir.
“Menina” avisa seu bando, com um uivo que alertou a
alcateia atrás do morro.
Como ficar sem os encantos dessa flora nativa?
Sem bromélias, orquídeas, guajuviras, os capins-forquilha,
grama unhas-de-gato, araucárias, palmeira anã, e tantas
outras que Moara ainda nem sabia o nome, mas amava
e rolava feliz entre suas folhas e flores.
O fogo está crescendo e queimando tudo, ela assoviava,
apitava com seu apito de madeira e estalava os galhos para
avisar sobre o calor e a fumaça que vinha, sabe-se Deus da
onde, trazendo destruição;
Era o único jeito, junto com “Menina”, de salvar seus
amigos: os tigres, as ariranhas, onças, os bichos-preguiças,
os gambás, os furões, macacos, lobos, gatos-do-mato,
cachorros-do-mato, as cobras, lontras, tatus, papagaios,
passarinhos, borboletas, tartarugas. Tantos amigos que
moram na mata, a sua mata.
Ao ouvirem-na eles saiam em disparada, com seus sons
característicos pedindo socorro a Moara, que sempre foi
amiga de todos.
Ela chorava e com seu apito fazia sons entre as lágrimas
que corriam por seu rosto.
A sua casa, rodeada de belezas e tesouros, cheio de amigos...
E agora aonde irão morar os animais, as plantas e as
flores?
Voltou a apitar, e todos os bichos correram para perto
de lagos, rios e cachoeiras, mas as árvores e plantas não
conseguiam fugir. Que tristeza!
Ela chegou na aldeia exausta e os índios da tribo da lua
já estavam reunidos batucando seus instrumentos, chocalhos,
catacás, paus-de-chuva, tambores, num ritual a pedir
chuva a Tupã, ele senhor dos trovões e tempestades e a
Jaci, deusa da lua e da noite, para trazer novamente beleza
à mata destruída. Assim ficaram toda noite, cantando e
dançando até que o fogo se apagasse.
No outro dia havia muitas partes da mata queimada, os
animais foram salvos graças à Moara e à “Menina”, mas ela
não pode salvar a tudo e a todos.
Moara ouvia sempre de seus pais, de sua mãe Thainá
e de seu pai Kauê, da tribo Guarani, em rodas da aldeia,
sobre a preocupação deles com os animais em extinção e
que o ser humano está acabando com as florestas. Que ser
humano é este?
No que depender dela vai lutar contra isso.