Doce mãezinha
Homem de muita ação e pouca conversa, era o tio-avô Leopoldo, que provinha de extensa irmandade, lá das bandas da Abadia, que é como o atual município de Martinho Campos antes se conhecia. E até hoje, à revelia.
Era o Leopoldo, na realidade, tio de mamãe, mas seu mais constante prosear, nas poucas vezes que nos visitava, era com papai, que corda e borda lhe dava. E aí, de contido, o tio virava fluido, bem fluído.
Era, por natureza, irriquieto e empreendedor - e sistemático. Após passar alguns anos na boléia dum caminhão e ter rodado o país nas estradas de chão, resolveu botar em prática a idéia de montar uma fábrica de doces. Estabeleceu-a em Divinópolis e, como o negócio se expandia, passou-a para o filho mais velho, e foi procurar outras bandas para se rearejar e a vida continuar. Em Sete Lagoas é que foi dar. E labutar, que era seu princípio salutar. Não podia parar.
A paradinha que se permitiu foi para nos visitar na Velha Serrana e, como gentil oferta, trouxe-nos um pacote de sua nova produção, que antes fora de amendoim, e agora, sim, virara do puro leite, pra nosso antecipatório deleite. Orgulhoso, do conteúdo e embalagem, mimoseou-nos com o Doce Mãezinha.
Enquanto papai o entreteve na sala de visitas, zarpamos com a barra para a copa e a disputa foi engalfinhada, deixamos sobrar quase nada.
Ao voltarmos à sala, quis o tio sistemático ser simpático com a garotada:
- E então, moçada, gostaram do doce?
A resposta imediata - antes não fosse - foi despachada pelo Nacho,
na franqueza de seus seis anos:
- Elé infaroso...