Volta ao Mundo com Judith (XLVIII)
Nossa ante-penúltima etapa do périplo proposto por Judith Schalansky, em seu repto, Pocket Atlas of Remote Islands, ou "Fifty Islands I have not visited and never will", é a Deception island, ou ilha do Desapontamento, que se situa a cem kms da Península Antártica e cobre 98,5 km2 de território coberto de geleiras.
Deception, isla Decepción para os hispano-hablantes, sobretudo hermanos argentinos e chilenos, não tem habitantes fixos, mas abriga importantes estações de estudos e pesquisas antárticos. E a janela de oportunidade para atividades de exploração, e até visitas turísticas, em razão da singularidade do ambiente é curta. Vai de novembro a fevereiro...e olhe lá onde estamos...no calendário... Hora de dar razão a Judith...
O que primeiro salta aos olhos dos prospectivos visitantes, ou mesmo só estudiosos da ilha, é o seu formato, semelhante a uma ferradura, ou seja, uma porção territorial que circunda uma enormíssima caldera, ou cratera mesmo de um hipervulcão extinto, porém cercado de vizinhos menores que quando despertam podem ter alto poder destrutivo.
E entretanto, uma vez achada a boca da ferradura, que é bastante estreita para os padrões navigacionais, sobretudo de baleeiros e foqueiros que tanto obraram no passado, a ponto de praticamente extinguir a população de focas, essa passagem é de uns quinhentos metros de largura, e em meio aos constantes nevoeiros que assolam a região, requer muita cautela e experiência, e não é à toa que é denominada Neptune´s bellows, ou no meu entender, o baixo-ventre de Netuno...o Deus das profundezas.
Mas vencida a entrada, a grande baía é a pura calmaria, águas tranquilas e muitos pontos de atracação, e sobretudo, repositório de uma fauna marinha incrivelmente rica e exótica, de grande interesse de cientistas e oceanologistas. E à volta dessa lâmina d´água tão fecunda, quanta geleira não abunda...