Volta ao Mundo com Judith (XXI)
Rapa Iti, a despeito de seus encantos tropicais não entraria em nosso roteiro de visita, proposto por Judith Schalansky, não por causa de um garoto que, por volta de seus seis anos, sem jamais ter saído de sua aldeia ao sopé dos Vosges, bem no miolo da França, aprendeu a falar fluentemente a língua rapaitiana...
Fenômeno extraordinário, analisado à luz da ciência e da paraciência, e paciência, ainda sem explicação satisfatória para um linguista leigo como eu...Marc Liblin passou na tenra infância, noites atormentadas nesse processo, que se atribui a visitas paranormais que recebia de um velhinho durante o sono, ou a tentativa de cair no sossego de Morfeu...
Somente aos 33 anos de idade é que se conseguiu desvendar que língua era aquela para a qual não achava interlocutor...apesar dos ingentes esforços de linguistas e filologistas de renome da reputada Universidade de Rennes.
Justamente um velho marujo, que havia passado por Rapa Iti identificou correspondência cognitiva em seu palavreado. E Marc foi então apresentado a uma cidadã viúva daquela ilhota, Meretuini Make, residente em Paris, e tudo se esclareceu num papo fluente que tiveram, a ponto de não demorar sair uma união entre os dois.
O casal tentou a vida em Rapa Iti e em meio a tantas peripécias, atribuídas tanto a costumes locais quanto à burocracia francesa, não teve experiência exitosa. E um câncer levou Marc aos cinquenta anos, em 1998, sem que o mistério de seu aprendizado pudesse ser esclarecido.
Rapa Iti, já sem Marc, tem 482 habitantes, nativos em sua grande maioria, e com 40 km2, faz parte da Polinésia Francesa, situando-se a 3.620 kms da Nova Zelândia.
Antrópologos, linguistas e outros estudiosos vêem paralelo entre Rapa Iti e Rapa Nui (a ilha de Páscoa) separadas a milhares de quilômetros, em aspectos linguísticos e até da estatuária.
Rapa Iti tem o formato de uma imensa boca cavada num rosto rochoso de bordas íngremes e acidentadas...