Coruja andando de dia
Coruja andando de dia
Dessa vez foi uma aventura do papai. Revivemos cada detalhe enquanto o chimarrão passava de mão em mão, fazendo companhia. Foi o Renan que lembrou para colocar no nosso livro de Grandes Historinhas.
Bem de manhãzinha... Na verdade, 10:00h da manhã para um bom gaúcho... Aparece sorrateiramente uma (que tipo de adjetivo se dá para uma corujinha?) tá, apareceu uma enrugada corujinha. Vamos dizer assim para evitar de contar de onde veio o termo mamãe coruja. Se você não sabe, pergunte para a professora que ela ou Freud explica.
Bem, voltemos ao momento em que o papai viu a coruja. Era na verdade um bebê coruja, mas os olhos eram enormes... Andava pela grama piando ou será chorando? Bem, isso não vem ao caso agora, o fato é que saímos todos correndo para pegá-la, exceto a mamãe que dessa vez ficou para enfrentar o fogão.
Para muitos, aquele bichinho tinha passado como algo insignificante, mas pra nós não! Visto pelos meus olhos de oito anos, era como uma grande provação de Deus. A vida dele ou dela dependia do que nós íamos fazer, ignorar ou socorrer.
Não falei ainda, (não me dou bem com as palavras, isso é coisa de mulher), mas fizeram questão de que eu contasse essa história. Bem como eu ia dizendo, moramos em frente a um lago, e na verdade é tão ou mais bonito que o da Escócia, onde vive o tal monstro do Lago Ness. Mamãe brinca dizendo que a diferença é que aqui em frente ao nosso castelo, temos mais do que um monstro, e que há vultos andando de madrugada em volta do lago...
Pois bem, imagina que coube a mim a tarefa de pegar o bichinho horrível na mão, já que minha irmã já queria sair nos gritos enquanto a mamãe deixava a aventura pra nós três indo lá pra dentro, como se fosse fazer algo na cozinha! De repente no micro ondas! Mas voltemos de novo ao que eu ia falando... Fomos andando em direção a entrada principal do lago, imaginando que só poderia ser por ali a tal casa, ou melhor, o buraco do bichinho.
Então ele, (ou será ela) começou a piar mais alto como se estivesse pedindo socorro, nos denunciando! O bicho só podia ser menina!
Ainda bem que não era um animal pré-histórico, imagina a mãe dele vindo resgatá-lo! Foi o suficiente para andarmos mais rápido.
- Nan, acho que ele quer mamar... Será?
De repente fiquei a imaginar a cena e falei em voz alta das tetas cheias de leite esperando a corujinha, que estranho por debaixo de tantas penas...
Foi só gargalhadas...
Naquele momento, fazíamos papel de escoteiros, na nossa primeira boa ação do dia. Tínhamos o refém nos braços. Se pelo menos ele parasse de piar...
Nós já conhecíamos o buraco, ou melhor a casa dela. Pelo menos se não fosse, seria de algum parente. Ficava lá do lado da escada, no caminho do lago bem na descida, e já até virou ponto turístico. Sabem por que?
Por que todos os que se aproximam tem que correr. Pois a mamãe coruja grita bem alto abrindo as asas quando alguém se aproxima. Ela fica de guarda no buraco, protegendo os "lindos" filhotinhos como nobre soldado. De certo os filhos se acham até bonitinhos... Feinhos arrumadinhos...
E foi bem brava que ela nos recebeu. Será que o filhote na minha mão tinha sido deserdado ou algo assim? E se ela não o quisesse? O que nós iríamos fazer? Que nada, coruja é tudo igual... Será que ela estava pensando o mesmo de nós?
O papai estava todo orgulhoso, como se estivesse devolvendo um urso, leopardo, animal em extinção de volta ao habitat.
Ele já tinha sido cativado pela fragilidade do bicho. A Stephanie então, já vinha com a vozinha de bebê fazendo biquinho. Cabia a mim, único sensato, devolver o ser à sua suposta mãe e voltar à era do computador...
Aproximei me bem depressa, e enquanto a dona do buraco entrava pelo escuro buraco. Aproveitei e soltei o tal perdido encontrado e ele imediatamente correu sumindo lá pra dentro. Nem agradeceram o tal de bicho feio de volta.
Ficamos por um tempo ali esperando, de repente ele voltar quem sabe pra acenar e dizer obrigado. Acho que estou ficando sentimental! Isso é coisa de mulher, não de menino!
Enquanto caminhávamos calados, tentei imaginar o que estava escrito em cada balãozinho acima da cabeça de pensamento do papai e da minha irmã. Voltamos em silêncio brincando de chutar as pedras pelo caminho. Ninguém falou nada até chegarmos com a missão cumprida em casa. De minha parte, devo confessar que a tal coruja, nem era tão feia assim!