A lisonja
Eu tinha nove anos, quando me deparei com ela, a lisonja. Grafada num texto de livro didático, com alguma ilustração, que podia bem ser o adotado na segunda série primária pelo Grupo Escolar Professor José Valadares, em Pitangui, naquele ano de 1959, quando a mestra era a saudosa Maria José de Oliveira, a Dona Zinha, na forma mais costumeira. Há sessenta anos agora.
Da história que envolvia o texto, a lembrança é tênue e nebulosa. Digo vagamente que (ela) reprovava esse comportamento e, no entanto, vim a saber, anos depois, que o adjetivo derivado da lisonja - lisonjeiro - tem conotação positiva maiormente. As palavras, muitas vezes com cara de faceiras, podem chegar a traiçoeiras...
Não me lembra agora tampouco se consultei papai sobre aquela novidade vocabular. Acho que não achei tempo, e naturalmente, menos ainda, para consultar o nosso quase infalível dicionário. E papai era bamba em desbruncar significados de palavras e expressões pouco usuais. Vai ver que era porque lia quase que religiosamente cara e verso da folhinha do Sagrado Coração de Jesus, das Edições Paulinas, que tinha um folhículo para cada dia do ano...
E nunca usei a lisonja em meus escritos. A palavra em si, ao menos. E agora, depois de ouvir conje da boca de um Ministro de Estado, para produzir uma rima com conja, me vejo estimulado...