O GAROTO DO AMENDOIM &+
O GAROTO DO AMENDOIM – 25 (30)/1/2019
Baseado em um conto popular do Zaire,
traduzido e adaptado por William Lagos.
O Garoto do Amendoim (IV) ... ... ... 25 jan 2019
O Galo Sonolento (III) ... ... ... 26 jan 2019
Ciranda de Estrelas (III) ... ... ... 27 jan 2019
Gatos Acordados (III) ... ... ... 28 jan 2019
Tijolos de Montar (III) ... ... ... 29 jan 2019
Faz-de-Conta (VI) ... ... ... 30 jan 2019
O GAROTO DO AMENDOIM I – 25/1/2019
Um garotinho queria enganar seu pai
E uma brincadeira então propor-lhe vai.
“Eu vou me esconder e o Pai não me achará!”
“Pois se esconda onde quiser, que seu pai o encontrará!”
“Só me prometa ficar dentro do quintal:
Há feras no mato que te podem fazer mal!”
“Mas aqui no quintal não há muito lugar!”
“Terá de ser por perto, senão, não vou brincar!”
E o garotinho assim precisou se conformar:
Aqui no pátio em qualquer ponto vai me achar!
Não é justa esta ordem do meu pai!
Fora da choça, de qualquer modo, o guri sai.
Havia uma palmeira, mas com folhas separadas:
Se eu subir até lá, fico de pernas penduradas...
Havia um alguidar emborcado junto à porta:
Se me encolher ali, vou ficar de perna torta!
Mais adiante havia o pilão grande, de se moer farinha.
Se eu entrar aí dentro, minha avó é meio ceguinha!
É capaz de se enganar e pensar que eu sou semente
E vai me bater tanto que eu vou ficar doente!
Pensou em se esconder num saco de aniagem,
Mas era transparente e seria só bobagem!
O que eu queria mesmo é me esconder no mato!
Mas o pai me proibiu e me prendeu de fato!
Enquanto caminhava, tropeçou num amendoim:
Ora, até que ali dentro era um bom lugar pra mim!
E sem pensar duas vezes, um pé enfiar tentou
E para sua surpresa, logo preso se encontrou!
Entrou dentro do amendoim e logo a casca se fechou!
Mas o que eu faço agora? Em vão, ele gritou.
O GAROTO DO AMENDOIM II
Mas a casca era bem grossa e assim ninguém ouviu
Quando o pai chegou por perto, por certo nada viu!
Olhou para o amendoim e achou que estava seco,
Sem saber que seu filho se enfiara nesse beco!
Foi olhar atrás da choça, ele não estava lá!
Foi cotucar a palmeira, mas desistindo já.
Eu veria as pernas dele, caso estivesse lá em cima!
Esse meu garotinho, de fato, é bem traquina!
Olhou para o alguidar e foi logo desvirando,
Porém, naturalmente, ninguém ali encontrando!
Foi olhar para o pilão, na verdade, bem profundo;
Só viu a ponta do monjolo e que o fundo estava imundo!
Depois foi remexer no saco de aniagem,
Se ele estivesse ali, seria uma bobagem!
A seguir, foi espiar no teto de sua choça:
Quem sabe o safadinho está ali, fazendo troça?
Foi até levantar as saias da mulher!
“Marido sem-vergonha, o que é que você quer?”
“Eu quero nosso filho, você não está escondendo?”
“Em que lugar da choça? Está vazia, não está vendo?
“É que ele cismou que hoje ia me enganar
E então me garantiu que eu não o iria achar!”
“Marido, esse garoto não se escondeu no mato?”
“Acho que não! Eu o proibi mesmo de fato!”
“Deve estar por aí, andando agachadinho...
Quando vê você chegando, foge para outro cantinho!”
“Pois sabes de uma coisa? Não vou procurar mais!”
“Ele há de aparecer pela hora do jantar!...”
O GAROTO DO AMENDOIM III
Enquanto isso, o garoto estava preso no amendoim!
Ouvia o pai passando, berrava e, mesmo assim,
O pai não o escutava, que estava bem fechado!
O ar já diminuindo, já meio sufocado!
Porém uma galinha chegou ali, ciscando
E vendo o amendoim, foi logo se atiçando!
A sorte do menino é que a ave era gulosa:
Não deu uma bicada na comida tão gostosa.
Mas foi logo engolindo esse amendoim inteiro,
Com o pobre do garoto ali dentro prisioneiro!
Mas então chegou o galo e falou para a galinha:
“O que você achou que quis comer sozinha?”
“Foi só um amendoim que eu engoli inteiro...”
“Pois cuspa de uma vez, sou o dono do terreiro!”
A galinha era obediente e o amendoim cuspiu
E o galo, bem depressa, também inteiro o engoliu!
O pobre garotinho gritava sem parar,
Nem galo, nem galinha a qualquer bola lhe dar!
E o galo andou em volta, todo se pavoneando
Mas dentro do amendoim o garoto ia esperneando!
Ficou o galo embuchado: Que pesado esse amendoim!
Jamais no meu passado encontrei um outro assim!
Então cruzou a cerca um feroz gato do mato
E engoliu o galo inteiro como se fosse um rato!
O galo estava pesado e não pôde se escapar,
Estava até engasgado, sem poder cacarejar!
E o gato, bem contente, engoliu e se enroscou,
Contudo o galo inteiro no bucho lhe pesou!
E então chegou um cachorro do mato, bem faminto
E viu o gato deitado, enroscado como um pinto.
E de uma só dentada, engoliu o gato inteiro
E saiu muito pesado a andar pelo terreiro!
Então foi tomar água, chegando até o rio
E um peixe muito grande o engoliu, num desafio!
Mas também ficou pesado, nem conseguia nadar
E uma serpente píton veio se aproximar!
E engoliu o peixe inteiro, de uma dentada só!
O garoto lá no fundo, gritando de dar dó!
Mas a galinha não teve pena e o amendoim engoliu
E o galo, sem ter pena, logo o amendoim pediu!
Só o gato desconfiou dos gritos do garoto,
Ficou olhando em volta: De onde grita esse maroto?
E sem sentir dos gritos mais que curiosidade,
Engoliu o galo e os gritos, sem ter qualquer piedade!
A essa altura, o cachorro mal ouviu a gritaria;
E caso algo escutasse, pena alguma ele teria!
Mas ficou tão pesado com a grande refeição
Que foi fácil engolido pelo peixe grandalhão!
Que nem sequer ouviu o gritar do garotinho
E mesmo se escutasse, não mostraria carinho!
E a cobra muito menos, já estava acostumada
A engolir até uma vaca, sem se importar com nada!
Só que ficou pesada, bem mais que de costume,
Não conseguiu subir de sua árvore até o cume...
E escutava alguns ronquinhos do fundo da barriga:
Era o menino gritando, meio morto de fadiga!
Mas a píton, sem ter pena, pela água se enroscou
E digerir a refeição, com calma, ela esperou!
O GAROTO DO AMENDOIM IV
Mas nesse meio tempo, o pai, já bem preocupado,
Olhou por toda a parte: Onde está esse safado?
Às vezes, parecia escutar, bem longe, um grito
E por causa do filhinho já estava bem aflito!
Mas já estava escurecendo e até o rio desceu
E com dificuldade, a sua rede suspendeu.
Mas como está pesada! Decerto eu apanhei
Uma boa quantidade de peixe e me fartei!
Mas quando a rede inteira puxou até a beirada
Só havia uma serpente ali toda enroscada!
Pegou o seu facão e lhe cortou a cabeça:
Serpente perigosa se mata bem depressa!
E viu a grande píton com o bucho bem inchado:
Decerto essa maldita engoliu o meu pescado!
Pegou o seu facão e abriu-a de um só talho
E encontrou o enorme peixe, das tripas no baralho!
Cacarejando, a galinha chegou até a ribeira,
As asas sacudindo para o avisar ligeira!
Ora, ora, essa galinha não quer só o peixe ver!
Vai ver que esse maldito meu galo foi comer!
Pegou o seu facão e abriu o peixe inteiro:
O cachorro do mato saltou fora, bem lampeiro!
Mas ao invés de latir, soltava uma vozinha!
Que acuado bem estranho, até parece criancinha!
Pegou o seu facão e lhe abriu logo a barriga:
Saiu o gato do mato! O pescador fez figa!...
Pensou escutar a voz, já um pouquinho forte,
Pegou o seu facão e lhe deu um grande corte!
E lá de dentro da barriga, apareceu um galo,
Com as penas bem molhadas e um nó no seu badalo!
E nesse mesmo instante, ele cuspiu o amendoim!
A casca se partiu e surgiu o menino, enfim!
Cresceu do seu tamanho, meio ainda a se engasgar!
“Puxa, papai, que bom que pôde me encontrar!”
E o pai até fingiu de propósito ter feito:
“Tomara que a lição lhe sirva de proveito!”
E o menino aliviado, chorava sem parar:
“Papai querido, eu juro, nunca mais vou te enganar!”
O GALO SONOLENTO I – 26/1/19
Na madrugada, o galo, bocejando,
deve cumprir sua função de sentinela;
seu gargarejo escuto da janela
e logo um outro galo está cantando.
Que faz o galo, enquanto está esperando
a hora exata de acordar uma donzela?
(Ou algum rapaz que de noite fora vê-la
e esse é o momento de se ir raspando!)
Junto à sacada conversou, como o Romeu,
sem querer deixar sozinha a sua Julieta,
sua permanência com algo de secreta,
pois Frei Lourenço a permissão ainda não deu!
Será que ao galo contratou nessa ocasião
com muito milho, para cumprir a sua missão?
O GALO SONOLENTO II
Ou ao contrário, tão só impertinente,
acostumado aos tempos medievais,
sua penugem colorida de jogral,
a sua missão ele cumpre alegremente?
Pode avisar os foliões do carnaval
que já chegou a hora, certamente,
de retornarem para um sono descontente,
mesmo querendo ainda pular mais!
Talvez o galo, quando solta o seu bocejo,
Até acredite ser um campanário,
No estridente tanger de seu desejo;
Ou quem sabe, queira ser um catavento
e no seu grito quase solidário,
acorde o monge para rezar seu salmo bento!
O GALO SONOLENTO III
Só imagino o que pensam as galinhas!
ficava o macho da raposa a protegê-las,
de mãos-peladas e gambás, até sem vê-las,
nas horas negras, avisando suas rainhas!
Para o invasor a dizer: “Sei te avizinhas,
mas não permito que ataques minhas belas,
do galinheiro protejo portas e janelas,
com bico forte e esporas bem daninhas!”
Durante o dia, porém, quando o perigo
está na vinda da cozinheira ou do peão,
mais raramente trombeteia o seu aviso,
nenhum humano a se importar consigo,
de algum frango o pescoço torcerão,
como resposta ao cacarejo apenas riso!
CIRANDA DE ESTRELAS I – 27 JAN 2019
Enquanto meus olhos as vidraças vazam,
outros olhos vêm das nuvens cintilar,
meus próprios olhos em estrelas a virar
e as estrelas como olhos o olhar casam;
a escuridão e a noite então embasam,
uma mística de astros a vagar,
com outros astros de menor iluminar
e seus limites deste modo arrasam...
Estrela, estrela, com o olhar a cirandar,
vistas que avistas na estranheza do rodar,
os meus dois olhos como faróis gigantes,
as cem estrelas a lembrar gurias arteiras
que de suas chispas se despiram bem ligeiras,
de igual tamanho a meus olhos triunfantes...
CIRANDA DE ESTRELAS II
Dançam estrelas assim no meu jardim:
primeiro duas com minhas vistas fazem par,
depois mais outras, tais cirandas a invejar,
mas como as posso contemplar assim
se os meus olhos já não guardo, enfim,
que entre os canteiros foram os dois dançar,
quaisquer imagens apenas a oscilar,
remotamente a projetar-se em mim.
No lusco-fusco são iguais a duas lanternas,
algumas flores fazendo despertar,
que para a dança as querem convidar,
já numerosas a descer vistas eternas,
que giram hoje nesta brincadeira,
que em minhalma se reflete toda inteira!
CIRANDA DE ESTRELAS III
Toda ciranda tem sua meia-volta
e assim os astros cessam de dançar,
quando a coruja veem se aproximar
por duas estrelas de cobiça envolta,
volteja em torno, finge igual brincar,
mas sua fome de estrelas deixa à solta
e em vasto bote a dança faz revolta,
cada estrelinha em centelhas a gritar!
Logo revoam para o seu lugar,
ficam minhas vistas apenas, estreladas,
e no meu susto as busco convocar;
veloz retorna uma, a outra devagar,
fica a coruja com suas fomes invocadas:
com algum ratinho se terá de confomar!
GATOS ACORDADOS I – 28 JAN 19
POR TODA A MADRUGADA MIAM BICHANOS.
ALGUNS ESTÃO A DEMARCAR SEU TERRITÓRIO,
SEU MIADO FIRME, SEM NADA DE VANGLÓRIO,
BEM CAPAZES DE DEFENDÊ-LO, SOBERANOS!
SEUS DESAFIOS PROTOCOLOS TÊM ARCANOS,
FICAM OS DOIS A SE ENCARAR, OLHAR FOSFÓRIO,
MAS SEM CRUZAR SEU LIMITE METAFÓRIO,
FANTASMAGÓRICA LINHA MARCA OS PLANOS.
DE MINHA VIDRAÇA OS CONTEMPLO, CERTAS VEZES,
NÃO DÃO A MÍNIMA PARA MINHA PRESENÇA,
MESMO SE ABRA A JANELA E OS ESPANTE;
SÃO MUITO CHEIOS DE SI ESSES FREGUESES
E ALGUMA VEZ ATÉ A URINA EM JATO DANÇA,
EM COMPLEMENTO NECESSÁRIO A SEU DESCANTE!
GATOS ACORDADOS II
SEMPRE É POSSÍVEL USAR CABO DE VASSOURA:
OS DOIS ME OLHAM, PROFUNDAMENTE OFENDIDOS,
MOSTRAM-ME OS RABOS E SE AFASTAM, COMEDIDOS
E ALGUNS METROS MAIS ALÉM, DE NOVO AGOURA
ESSE DUETO EM HARMONIA MOURA,
OS SEUS PONTOS DE COMBATE REASSUMIDOS
E ALI MIAM, EM UIVOS E GEMIDOS,
SEM SE IMPORTAR SE A SINFONIA A MIM DESDOURA!
HÁ O ESTEREÓTIPO DO SAPATO PROJETADO
PARA ESPANTAR OS BICHOS DO TELHADO,
NÃO SEI SE ISSO, DE FATO, ALGUÉM JÁ FEZ,
DISPOSTO ASSIM A FICAR SEM SEU CALÇADO:
POR ENTRE OS DOIS PASSA O OBUS ALADO,
LOGO A SEGUIR JÁ O DESAFIO SE REFEZ!
GATOS ACORDADOS III
MAS MIADO DIFERENTE É O DE SUA CÔRTE,
CALMAMENTE A GATINHA NO TELHADO,
MIMIANDO PARA O NOVO NAMORADO,
MAS ACEITÁ-LO VAI DEPENDER DA SORTE
OU TALVEZ O RITUAL TODO NEM IMPORTE,
DESGOSTOSA, TALVEZ, POR TER CHEIRADO
UM FEROMONE DIFERENTE DO ESPERADO,
TALVEZ QUERENDO ALGUM ODOR MAIS FORTE!
E QUANDO CHEGA O DIA PARA A GENTE,
CADA GATINHO FICARÁ ENROSCADO,
HORAS A FIO, PARA SE REFAZER,
SABE NÃO TER NENHUM TRABALHO URGENTE,
SEU ALIMENTO LOGO SERÁ DEPOSITADO,
RABO ESFREGANDO EM ORGULHOSO AGRADECER!
TIJOLOS DE MONTAR 1 – 29 JAN 2019
Eu vou pegar os fragmentos de meu sonho
E tramsfprmá-los em pecinhas, feito Lego;
Por um certo pagamento, então os entrego
A um cliente mais astuto ou mais bisonho...
Cristalizar um sonho é algo risonho,
Quando ele brilha em meu olhar de cego,
Com mãos imóveis cada lasca eu pego,
Deixo de lado qualquer coisa de medonho!
E um anúncio então ponho da Internet,
No Submarino, em quaisquer Redes Sociais,
No Pinterest as imagens mais reais,
Mais atraentes destas peças de confete
E pelo Mercado Livre, darei preço
Para quem as desejar com mais apreço!
TIJOLOS DE MONTAR 2
Mas é preciso notar que são pedaços,
Como um brinde que oferece a guloseima
E insistentemente uma crinça teima,
Agradecendo com beijos e abraços,
Quando ao Supermercado meigos passos
A acompanham, com dinheiro para a queima,
Outro pedaço comprando para a cena
Da montagem, com amorosos laços!...
E certamente irão comprar os mais brilhantes
Quadradinhos de sonhos, cor e riso...
Talvez consiga aperfeiçoar seu siso
Com perfumes e com sons interessantes:
Não hão de ser pior que um Pokemon,
Esse invisível absurdo em sério tom!
TIJOLOS DE MONTAR 3
Quem sabe algum malvado até prefira
Um fragmento mais feio ou desairado;
Porém tais não ofereço e esse coitado
Por outros sites da Net talvez gira!
Se alguém mais vende sonho então confira,
Quer quadradinho bem menos comportado,
Mas um menino só estará interessado
Por sons alegres de flauta ou falsa lira.
Talvez pefira um que tenha soldadinhos,
Marchando no quadrado em tom marcial
E a menina, como era antes natural,
Qualquer pedaço a mostrar algumas fadas,
No imaginação a buscar pequenos nadas,
Para alegrarem os seus coraçõezinhos!
FAZ-DE-CONTA I – 30 JAN 19
Havia um menino que passava daninhando,
Seu coração sentindo daninhado,
O pai a trabalhar, sempre ocupado,
A mãe na lida, se não estava cozinhando.
Pior ainda, outro nenê estava esperando:
Cada vez mais, ele se achava abandonado,
Era pequeno, para o trabalho inadequado,
Brincar no pátio sua mãe sempre mandando!
“Mamãe agora tem muito que fazer
E não te posso nem um pouco dar um colo,
Já estás grande, minhas costas doloridas!”
E o menino então ira remexer
Nas folhas da horta, para seu consolo,
Comia um pouco, na maioria perdidas!
FAZ-DE-CONTA II
E como tinha de brinquedos muito pouco,
Ia caçar formigas no quintal,
Suas cabeças arrancava, bem ou mal
E as amontoava, com um risinho louco!
E insistia, emitindo um grito rouco,
Para que os corpos se movessem, afinal,
Parecendo até dançar num carnaval,
Estrebuchando os insetos em sufoco...
Ou então entrava pelo galinheiro,
Quebrando os ovos, as galinhas depenando,
Em seu cabelo umas penas colocando,
Feito um cocar, a se enfeitar ligeiro,
Mas quando a fantasia ia mostrando,
Até palmadas levava no traseiro!
FAZ-DE-CONTA 3
Porém, chegando em breve o nascimento,
Chegou a Vovó, para ajudar no parto;
Dessa atenção ao nenê já meio farto,
Mais piorou o seu comportamento!
Até a Vovó deu-lhe colo em algum momento,
Contando histórias do Jabuti e do Lagarto,
Mas o netinho lhe causou quase um infarto,
Ao lhe afirmar ter um pressentimento
De que o nenê ia morrer e ir para o inferno!
Se não morresse, ele mesmo o mataria!
Da Vovó se desmanchou o abraço terno:
“Meu queridinho, mas que ideia mais daninha!
Não é coisa que um bom netinho me diria!”
“Ora, Vovó! A senhora não matou uma galinha?”
FAZ-DE-CONTA IV
Foram então chamar seu Avozinho,
Que as queixas escutou atentamente
E foi brincar com o garoto, bem contente
E até o ajudou a fazer o seu montinho
De cabeças de formiga. “É um bicho bem daninho,
Tens razão em castigar um delinquente!
Faz-de-conta que és carrasco bem potente,
A sentença a executar que leu meirinho!”
“Faz-de-conta?” – indagou o garotinho.
“Nunca ninguém te explicou essa magia?
A gente faz o que antes pretendia,
Mas finge estar a seguir outro caminho:
Essas formigas são um monte de bandidos,
Ao cadafalso por malfeitos conduzidos!...”
FAZ-DE-CONTA V
“E não podemos fazer-de-conta ser bandidos?”
“Claro que sim, um bando de assaltantes,
A caravana das alfaces dois gigantes
Vão assaltar, as viajantes surpreendendo!”
Em faz-de-conta, com os cuidados bem devidos,
Uns pés de alface retiraram, triunfantes
E os levaram até a cozinha, em elefantes
Os dois montados, como dois hindus fingidos!
“Faz-de-conta é bom brincar!” – disse o garoto.
“Pois faz-de-conta que somos duas raposas
Indo caçar galinhas!... – falou, de olhar maroto.
O avô engoliu em seco e perguntou,
Lá na cozinha, se galinhas saborosas
Iriam precisar e a Vovó logo concordou.
FAZ-DE-CONTA VI
E o Vovô e o Garotinho, alegremente,
Levaram a galinha mais gordinha
Para a Vovó: “Faz-de-conta que é a Rainha!”
Disse o Vovô. Ela a matou, devidamente,
Enquanto os dois davam uma volta pela frente
E depois as penas da pobre coitadinha
Arrancaram uma a uma. “É igual erva daninha!”
Falou o Vovô, com seu jeito complacente...
“Faz-de-conta que você é o Rei agora
E eu o seu Vizir muito fiel!
Mas como rei, deve seus súditos proteger!”
E quando nasceu o maninho, nessa hora,
Perfilado como guarda em um quartel,
Jurou o garoto que só o bem lhe iria fazer!
William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog: www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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