Lagoa da Prata - Belo Horizonte
Considerada era a família do Doutor Menezes naquela ainda bucólica Lagoa da Prata, MG, nos anos cinquenta e comecinho dos sessenta. Uma prova cabal desse prestígio se podia deprender do simples fato de que quando a matriarca, Dona Elza, resolvia levar as crianças, formavam uma perrada considerável, quase incontável, à capital do Estado, o ônibus das seis da matina, mal saído da rodoviária municipal fazia a cortesia de parar defronte à residência dos Menezes para que todos pudessem embarcar confortavelmente.
Não é que Dona Elza fosse impontual, ela fazia naturalmente o seu melhor esforço, mas havemos de convir aqui que mesmo a trepidação de um passeio àquela hora da manhã, é insuficiente para botar um pelotão infanto-juvenil em concatenada marcha...
E assim, à medida em que a meninada ia embarcando, se podiam observar os variados graus de dificuldade dessa ingente tarefa. Elzinha que já ia desabrochando sua extraordinária beleza, na pressa, esquecia-se de abotoar o vestido, para concentrar-se na finalização do pedaço de pão amanteigado que ia mastigando como Deus era servido, e, naturalmente, sem a facilitação do café para descer goela abaixo...
A despeito da ansiedade dos passageiros, inconformados, mas calados,
ao fim e ao cabo, a tarefa se completava. E o veículo arrancava, naquele estradão de terra batida, com umas seis horas de viagem pela frente - caso não houvesse transtornos adicionais...
E pouco demorava para esse quase infalível pressagioso augúrio acontecesse: as inumeráveis curvas e os infalíveis sacolejos logo levavam a meninada à vomitação inevitável. Mas ali, pelo menos, diferentemente do prolongado processo de embarque, havia uma perfeita sincronização: todos vomitavam de uma vez...