Mariana e a bruxa do castelo Vol I/V

E foi assim que tudo começou...

Em uma velha cabana no alto da montanha vivia uma linda menina sonhadora. Seu nome era Mariana e ela estava sempre a sonhar. Às vezes, sonhava que era um pássaro, voando pelos campos verdes da montanha, outras vezes, sonhava que era uma borboleta passeando de flor em flor. Do alto da montanha, ela avistava a aldeia lá embaixo e com suas mãos pequeninas tentava tocar o céu. Quisera ela sair voando nas asas de um pássaro encantado ou até quem sabe: numa vassoura mágica! _Uma vassoura mágica?

Mas o que Mariana não sabia, era que seu destino estava prestes a mudar.

A garota foi tirada de seus devaneios quando sentiu uma mordida em seu calcanhar. Era a cachorrinha Lola, chamando a atenção para os gritos da tia Quitéria.

Tia Quitéria conseguia algum dinheiro lavando roupas para as vizinhas da redondeza. Não ganhava muito, mas o suficiente para que ela e a menina sobrevivessem. Mariana, a ajudava como podia, colhia morangos silvestres para a tia fazer deliciosas geleias e muitas vezes, entregando malas de roupas lavadas nas casas de suas freguesas.

A tia Quitéria chamava pela menina. Ela queria que Mariana entregasse uma mala de roupas limpas em um velho castelo ali perto. Neste castelo vivia dona Charlotte, uma jovem senhora muito alegre e falante e que há pouco tempo havia se mudado para o castelo. Charlotte vivia ali contra a sua vontade e também por que o castelo foi herança deixada por tio Alfredo, o falecido tio de seu marido. Charlotte estava perdendo a alegria de viver, pois, o velho castelo parecia ser habitado por fantasmas e lhe dava arrepios!

Na grande sala do castelo, havia um retrato assustador de tio Alfredo. Era um velhote medonho, de grandes bigodes retorcidos, narigudo e com os olhos frios de um guardião do mal. Parecia até que o sinistro retrato vigiava a sala com seus olhos traiçoeiros e cruéis. Quando Charlotte caminhava pela sala, ela tinha a impressão de que o retrato do falecido tio Alfredo a seguia com aqueles olhos maldosos.

_Cruz credo! Até parece que estou vendo fantasmas me perseguindo!

Falava Charlotte pra si mesma, e fazendo o sinal da cruz se benzendo. Mas o que Charlotte não imaginava era que o fantasma do tio Alfredo estava ali, vigiando o seu castelo.

Mariana chegou com a mala de roupas, quando escutou Charlotte contar uma estranha história para sua empregada Lucinda.

Charlotte dizia:

_ Esta noite escutei tristes gemidos vindos de algum lugar do castelo. Meu marido e eu nos levantamos da cama e fomos à procura destes gemidos. Procuramos por todos os cantos do castelo, mas nada encontramos!

Mariana, escondida atrás da porta, ouviu a fascinante história.

_Será que havia mesmo fantasmas neste velho castelo?

Passado algum tempo Charlotte mudou-se para a cidade. O marido não teve escolha, a não ser segui-la. E durante muito tempo o castelo permaneceu abandonado, entregue a morcegos e fantasmas.

Até que um dia...

Mariana não conseguia tirar da cabeça a história do castelo mal assombrado

_ E se houvesse mesmo alguém aprisionado ali? Perguntava-se.

Mariana precisava desvendar o misterioso caso do fantasma do castelo.

A menina convidou seu amigo Luiz para acompanhá-la nesta “caça ao fantasma”. Luiz ficou meio ressabiado, mas depois de muita insistência, ele acabou topando embarcar nesta aventura maluca. Na tarde seguinte os dois meninos seguiram para o velho castelo abandonado. Luiz resolveu levar sua velha espingarda enferrujada que usava para espantar os passarinhos. Mariana. de súbito, decidiu levar consigo um pequeno punhal de prata muito esquisito. Punhal este, que tia Quitéria insistia em deixar muito bem guardado no fundo do armário na despensa. Quer dizer, não tão bem guardado, pois Mariana há muito tempo já o havia descoberto. Tia Quitéria dava ordens para que a menina se mantivesse longe do punhal.

_Por que tanto cuidado com um punhal velho e fora de moda? Pensava a menina. Ela não tardaria a descobrir.

Na tarde seguinte, Mariana e seu amigo Luiz partiram para o sinistro castelo. O sol já se punha no horizonte e seus raios tingiam o céu de um intenso vermelho- sangue. Parecia que uma terrível tempestade ia desabar sobre o castelo a qualquer instante. Corria um boato pela cidade, de que nas noites de sexta feira treze, desabava uma tempestade de gotas de sangue sobre o castelo.

_Ah! Com certeza eram tolices daquele povo crédulo e mentiroso! Dizia Mariana para si mesma, querendo se convencer de que tudo aquilo não passava de um mentiroso falatório.

Quando as crianças chegaram ao castelo, à noite também chegou junto. Eles subiram lentamente as escadas. As janelas negras do castelo pareciam os olhos frios do falecido tio Alfredo, que fitavam as crianças com muito ódio por elas estarem invadindo a sua fortaleza. Ao chegarem em frente à porta, ela se abriu com um ruidoso estrondo, assustando as duas crianças. Mariana entrou com receio no castelo, mas quando olhou para trás, Luiz corria pela escada abaixo num só galope. Ele não ia entrar! Mariana que o desculpasse, mas ele morria de medo de fantasmas. A velha espingarda enferrujada só funcionava com seres vivos. Com fantasmas, só as rezas brabas da benzedeira Flor. E mesmo assim, olhe lá!

Mariana ficou decepcionada, e não viu outro remédio a não ser se aventurar sozinha pelo castelo.

_ Se pelo menos ela tivesse trazido Lola! Mas Mariana tinha deixado a cachorra trancada em casa, com medo de que seus estridentes latidos despertassem atenção e atrapalhassem a sua caça ao fantasma de voz triste.

_Que saudade de você amiguinha! Suspirava Mariana. Pensando em sua travessa cachorra.

Na grande sala do castelo, havia um tapete feito da pele de urso pardo que despertou a atenção da garota. Era feio e pesado. O urso tinha olhos tristes e muito assustados. Ele devia ter sido um urso muito bonito e valente, até o dia em que teve o azar de se encontrar com o malvado tio Alfredo.

Apesar da pouca força, Mariana conseguiu arrastar o tapete do meio da sala e encontrou um pequeno alçapão escondido debaixo dele. Ela abriu a porta do alçapão e foi descendo por uma escada que parecia não ter fim. Depois de quase uma hora descendo pela escada fria e escura, ela decidiu voltar pra cima. Ao começar a viagem de volta, ela ouviu um pedido de socorro.

_Mariana, venha, por favor! Estou presa no calabouço no fim das escadas! Não me deixe só! Ajude-me!

Mariana ficou assustada com aquele pedido de socorro e decidiu continuar sua jornada em direção àquela voz triste.

_Mas, e se for uma armadilha? E se não for? Podia ser alguém que estivesse precisando de sua ajuda. Mariana, confusa, conversava consigo mesma. Ela teria que ir até o fim das escadas do porão para tentar descobrir de quem era aquela voz.

A menina continuou a descer as escadas do maldito porão, até chegar as suas profundezas. E o que ela vê ao chegar ao fim das escadas a deixa arrepiada. Uma bruxa estava presa a um tronco de ferro no meio de uma pequena jaula. Ela foi amarrada com grossas correntes que cortavam seu corpo magro e machucavam sua pele, já muito ferida. As correntes que a envolviam estavam firmemente presas nas grades da jaula, e a pobre mulher não conseguia se mexer nem para se alimentar e beber água. A bruxa não era feia, apesar de, seus longos cabelos vermelhos estarem sujos e desalinhados. Suas roupas negras estavam esfarrapadas e seu chapéu já não trazia a reluzente fivela que tanto enfeitava os chapéus das bruxas. E amarrada ao tronco junto com sua dona, uma vassourinha mágica suspirava de tristeza. A coitadinha havia sido presa junto com a bruxa.

Mariana perguntou para a prisioneira qual o motivo dela estar presa naquela jaula e por que ela havia lhe chamado pelo nome, se elas não se conheciam. A bruxa então contou à menina, o motivo pela qual foi aprisionada.

_Meu nome é Amélia. Há alguns anos atrás, devido a uma grande confusão, eu acabei transformando um príncipe bom em um sapo asqueroso. Ao perceber que havia cometido um erro e enfeitiçado o príncipe errado, tentei desfazer o feitiço. Só que foi em vão, pois nunca mais consegui encontrar o sapo. Ele havia fugido para o pântano atrás de insetos para comer e desapareceu para sempre. Desta forma, privei o povo do reino de ter um príncipe justo e honesto, pois o rei atual é cruel e tirano. As pessoas estão sofrendo por um descuido pelo qual fui responsável. E este foi motivo da minha prisão. A bruxa continuou a falar:

_Entre as bruxas de meu planeta há um código de honra que as pune com rigor por um feitiço cometido injustamente. Sendo assim, o *Conselho das Bruxas Velhas condenou-me a cem anos de prisão. Ainda falta um longo tempo para terminar de cumprir meu castigo, mas não sei se aguentarei ficar tanto tempo nesta triste escuridão.

Mariana, entristecida com a história da bruxa Amélia decidiu ajudá-la. Mas ao se aproximar da jaula para soltar as correntes, uma estranha força lhe atingiu, jogando-a no chão.

Amélia disse:

_Não adianta minha filha, o guardião Alfredo impede qualquer um que tente nos salvar. Esqueça-me e vá embora daqui. Antes que o guardião Alfredo apareça e te faça também uma prisioneira. Fuja antes que seja tarde demais.

Mas Mariana não sairia dali de jeito nenhum sem levar a bruxa Amélia com ela. Como a bruxa poderia suportar ficar presa por tantos anos naquela cela?E quem seria esse terrível guardião?

A menina então teve uma ideia. Disse para a bruxa que ia embora, mas foi se esconder entre as escadas do castelo. Passaram se horas. A menina chegou a adormecer. Quando de repente chegou até seu nariz um fedor insuportável de carne podre. Era o guardião Alfredo! Ela saiu de seu esconderijo e desceu as escadas em silêncio, quando viu uma criatura medonha. O Guardião Alfredo tinha a cara e o corpo de um hipopótamo, só que ele andava de pé, sem apoiar as patas dianteiras no chão. Esta estranha criatura tinha um terceiro olho no meio da testa e um imenso par de chifres retorcidos.

Antes de se transformar num monstro, o guardião Alfredo havia sido um homem comum, mas era egoísta e mesquinho. Envenenava e matava com crueldade todos os animais que apareciam nas redondezas do castelo. Maltratava os velhos e as crianças que vinham pedir-lhe esmolas. Implicava com todos e só pensava em ficar cada vez mais rico. Ninguém sabia, mas naquele velho castelo havia um tesouro muito bem escondido. Tesouro este, que o tio Alfredo acumulou com muitas lágrimas e sangue.

Pouco antes de morrer tio Alfredo fez um trato com as bruxas!

Para não ficar longe do seu tesouro após sua morte, ele se comprometeu a vigiar dia e noite a prisioneira Amélia, em troca da imortalidade de sua alma. Quando Alfredo morreu, O *conselho das bruxas velhas foi até o seu túmulo para resgatar a sua alma e transformaram o seu cadáver em um monstro imortal, que assombraria para sempre o castelo do arrepio. O que o guardião não sabia é que seu destino também foi selado. Ele jamais sairia das profundezas do castelo! Mesmo possuindo a alma imortal, o corpo físico de Alfredo ficaria preso ali para sempre e nunca mais veria a luz do sol.

De repente, naquele calabouço escuro e sombrio, tio Alfredo farejou um cheirinho doce no ar. Era o perfume de morangos silvestres, usados nos preparos das geleias de tia Quitéria.

Ele perguntou com uma voz de trovão:

_Quem está aqui no meu castelo?

Mariana ficou assustada e se afastou do guardião, mas o maligno já havia farejado sua presença e subiu a escadas atrás dela. Ela, então se abaixou e ficou bem encolhida. O guardião passou por ela, mas não a viu, porque a escada era muito escura. O monstro já descia novamente, quando a menina teve idéia de se ajoelhar na sua frente e ele levou um grande tropeção, caindo e rolando escada abaixo. Como era muito grande e pançudo, ficou bastante machucado. Quando Mariana chegou ao último degrau da escada e ficou diante do guardião Alfredo, ela tirou de dentro do vestido o punhal velho de tia Quitéria e apunhalou com força o terceiro olho do guardião. Como ele era imortal, ele não morreu, ele se transformou em uma nuvem de fumaça preta. Mas antes de desaparecer, três olhos vermelhos e uma boca fedorenta com dentes podres surgiu no meio da fumaça deixando um recado ameaçador para a garota:

_Nós ainda vamos nos encontrar e eu vou te destruir. Sua piralha intrometida!

E deu uma gargalhada tão sinistra que assustou até os morcegos que dormiam no castelo. E assim ele desapareceu.

De repente, como por encanto, as correntes que prendiam bruxa Amélia e a vassoura Tita se romperam e elas ficaram livres. As duas se abraçaram e agradeceram a menina por salvá-las. Amélia disse que tinha ainda outra história pra contar a ela. E o que a bruxa boa contaria a menina, mudaria para sempre a vida de Mariana.

A verdadeira história...

Amélia então começou a contar:

_Quando fui condenada a prisão, eu esperava um bebê. Desesperada, fui pedir ajuda à *bruxa Lila, que era a rainha das bruxas da terra da magia. Eu a implorei que esperasse o bebê nascer para eu poder cumprir meu castigo. Mas a malvada Lila, disse-me que somente esperaria se eu concordasse em dar o meu bebê para ela. Sabendo do coração frio da bruxa Lila e temendo pela vida de minha filha, resolvi fugir da terra da magia para o planeta dos humanos. Para isso eu precisava da ajuda da *Maga Quitéria. A maga tinha o dom do desaparecimento e tudo que ela tocava tornava-se invisível. Eu conseguiria fugir se Quitéria concordasse em me ajudar.

Durante a madrugada, a maga foi ao meu quarto, tornamo-nos invisíveis e partimos para a estrebaria onde dormiam os cavalos voadores da terra da magia. Montei no cavalo *Dionísio, um dos mais velozes cavalos alados, e pedi a Maga Quitéria que viesse comigo. Alguém precisava cuidar do bebê, caso eu fosse capturada. Além do mais, a bruxa Lila ia saber, através de seu caldeirão mágico, que a Maga havia me ajudado a fugir, e ela também estaria em perigo. Maga Quitéria então partiu comigo para o planeta dos humanos. Vivemos escondidas na floresta até o bebê nascer. Mas um dia, ao sair para buscar lenha, fui capturada por Ding e Dong, os capangas do guardião Alfredo.

O guardião procurou a bruxa Lila, que convocou as bruxas velhas do conselho e fez um pacto com elas, jurando-lhes por seu tesouro que haveria de me prender, para assim ganhar a imortalidade de seu corpo. E logo, ao ser capturada pelos capangas do guardião Alfredo fui trazida para o castelo mal assombrado, onde até hoje eu estava presa. E se não fosse por sua coragem eu ficaria aqui para sempre. Mas antes de vim para cá eu deixei cair o meu punhal mágico, para que Quitéria soubesse que fui aprisionada e pudesse buscar refúgio para o bebê, deixando-o em segurança.

De repente, Mariana sentiu que este bebê de quem a bruxa Amélia falava era ela. Será que ela também era uma bruxa?

Mãe e filha se abraçaram emocionadas. A bruxa Amélia pegou a mão da garota e a puxou com força. Elas subiram apressadas às escadas que levava à saída daquele castelo escuro, em busca de ar livre. A vassoura Tita veio logo atrás das bruxas. Felizes, elas partiram ao encontro da Maga Quitéria, que através do punhal mágico, soube que Mariana havia libertado a bruxa Amélia.

Do lado de fora da casa, a maga encilhava o cavalo Dionísio para uma longa viagem. Iam todos retornar ao planeta da Magia. Quitéria e bruxa Amélia concordaram que era hora de voltar e enfrentar a terrível bruxa Lila. Mariana, que também era uma bruxa, já estava na idade de ser iniciada nas artes da magia. Amélia subiu em sua vassoura voadora. Quitéria e a garota montaram no cavalo Dionísio. A cachorra Lola ficou espremida entre as duas, e com medo da cachorrinha cair, Mariana resolveu amarrá-la pela barriga e prendê-la junto ao seu corpo. E assim todos levantaram voo, seguindo em direção a encantada *terra da magia. Mariana gritou antes de partir:

_Iupiie!!!

Continua...

Notas da autora:

*Conselho das Bruxas Velhas: Grupo de bruxas que exerciam o poder na terra da magia. Somente elas podiam decidir o destino das bruxas;

*Terra da magia: Planeta encantado onde viviam os seres mágicos;

*Bruxa Lila: Rainha das bruxas da terra da magia;

*Cavalo Dionísio: Cavalo alado que habitava a terra da Magia;

*Tita: Vassoura voadora da bruxa Amélia.

Siria Malta
Enviado por Siria Malta em 22/02/2019
Reeditado em 07/01/2021
Código do texto: T6581199
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