UMA ÁRVORE DE NATAL DIFERENTE
As crianças da quarta série estavam agitadas. O Natal se aproximava e elas faziam planos sobre os presentes que pediriam ao Papai Noel. A professora ajudava na redação das cartas, mas enfatizava que o amor é o maior e melhor presente que existe. Ela dizia isto porque todo o ano, na época do Natal, levava as crianças para visitar o asilo dos velhinhos instalado na mesma rua onde ficava a escola. Essa visita costumava acontecer uma semana antes do término das aulas. Cada aluno levava um presente para os idosos. Podiam levar roupa, doces, livros, discos, tudo que pudesse dar alegria a um velhinho ou velhinha.
Chegou o dia da visita. A professora, D. Noemi, reuniu as crianças e pediu a ajuda dos inspetores de alunos para transportar os presentes. Chegaram ao asilo. O salão estava preparado para a festinha de Natal que era um grande almoço, cantos, ouvir histórias e depois a entrega dos presentes. Era um quadro comovente ver as crianças abraçando aqueles idosos que choravam lembrando, quem sabe, de filhos e netos. À Aninha coube entregar um presente para D. Cora, a interna mais velha do asilo, um xale de lã azul pontilhado com pedrinhas brilhantes. A velha senhora recebeu o presente e, sorrindo, disse:
- Recebi um pedaço de céu estrelado das mãos de um anjo. Sabe minha filha: o que eu mais queria era ver uma árvore de natal inteirinha iluminada, mas uma árvore de verdade, não essas feitas de plástico. – disse beijando as mãos de Aninha.
Depois de terminada a festa as crianças foram se reunir no gramado em frente à escola, porque Aninha ficara sensibilizada com o que dissera D. Cora.
- Como vamos arranjar uma árvore de natal de verdade e tão grande que possa ser vista da janela do quarto de D. Cora? – perguntou Marquinhos.
- Eu acho que não podemos fazer nada, Aninha... – disse Letícia desanimada.
- Podemos improvisar. Vocês não repararam no jardim do asilo? Lá tem uma árvore alta, embora não seja um pinheiro, mas acho que serve. É só colocar os enfeites, as lâmpadas e acender. – disse o Pedrinho, um menino de óculos com cara de inteligente.
- É, sabidinho! E quem vai subir pra colocar tudo isso? E se a gente cair e se machucar? Como fica? – questionou o Marquinhos.
- É! Então eu não sei como fazer... – respondeu Pedrinho.
E as crianças ficaram discutindo se subiam ou não na árvore quando ouviram um psiu. Olharam para um lado e para o outro e não havia ninguém. Outra vez o psiu.
- Psiu, aqui na grama, crianças. Olhem para baixo.
Era um grilo falante saído de um cantinho do gramado, onde nascem florzinhas bem pequeninas semeadas pelo vento e pelos pássaros. Ele ficara curioso com aquela reunião e se pôs a escutar a conversa. Sabia que era feio ouvir a conversa dos outros, mas, esperto como era, percebeu logo que havia um problema e resolveu ajudar no que pudesse. As crianças contaram tudo ao grilo.
- Gente! Isso não é uma coisa impossível. Se iluminar é o grande problema deixem comigo. Só quero que me mostrem a árvore. – pediu.
As crianças correram, acompanhadas pelo grilo, para a entrada do asilo. Apontaram a árvore e, saltitando, ele disse:
- Na noite de Natal venham todos ao asilo para ver.
Foi embora, pulando para o cantinho das florzinhas, sem mais explicações. O que será que o grilo iria fazer? Um grilo sozinho... tão pequenino... Bem, é melhor esperar o dia para ver.
Aninha contou para a mãe a conversa, mas não mencionou o grilo porque ela não acreditaria. Adulto não crê nessas coisas de criança falar com bicho, com anjo ou com árvores. Só disse que era um amigo, e que através dele a turma faria uma surpresa para D. Cora no dia de Natal.
- Eu só espero que ninguém saia machucado. – disse a mãe.
As crianças conversaram com a professora, D. Noemi, que foi solicitar o consentimento da diretora do asilo para que pudessem enfeitar a árvore do jardim. Autorização concedida, e para evitar acidentes, o jardineiro ficou encarregado de colocar os enfeites natalinos em todos os galhos da árvore. Foi aí que a professora perguntou:
- E a iluminação? Vocês têm as lâmpadas?
- Um amigo... vai trazer... – respondeu Aninha meio sem jeito.
- E quem é esse amigo? – insistiu a mestra.
- Bem, professora, como é uma surpresa para D. Cora, nós não podemos dizer quem é, pois a senhora pensará que estamos inventando coisas. – respondeu o Pedrinho.
- Por que não tenta? – insistiu D. Noemi sorrindo.
Chegou o dia de Natal. As crianças vestiram suas roupas novas e às sete horas da noite estavam entrando no salão de festas do asilo. Elas iam cantar as canções natalinas que ensaiaram durante o ano. Depois do canto, às oito horas, seria o momento da surpresa para a velhinha de 97 anos. Aninha estava nervosa e cochichava uma pergunta no ouvido da Letícia:
- Será que ele vem?
Ninguém sabia. Cantaram como anjos e foram aplaudidas pelos velhinhos emocionados. A diretora queria saber o que significava uma árvore de natal toda enfeitada no escuro, sem iluminação. As crianças não disseram nada, só olharam uma para as outras. D. Cora já estava no seu quarto, em frente a ampla janela, sentada na cadeira de rodas esperando ela não sabia o quê. Os outros velhinhos, desconhecendo o motivo, estavam sentados por toda a varanda. As crianças da quarta série rodeavam silenciosamente D. Cora quando se ouviu um “cricri”.
- É ele... gritou Aninha quebrando o silêncio -, é ele. Ele chegou, pessoal!
– Ele quem? - quis saber a velhinha sem obter resposta.
Outra vez se ouviu o “cricri”, novamente “cricri, e um barulho de insetos levantando vôo. Era como uma nuvem de gafanhotos envolvendo a árvore enfeitada e, na escuridão do jardim, bilhões de vagalumes acendiam e apagavam as suas luzes tornando aquela simples árvore do jardim em uma verdadeira e belíssima árvore de Natal digna de um rei. Palmas e gritos de “Viva!” ecoaram pelo ar. D. Cora ficou emocionada. Do seu rosto corriam as lágrimas mais felizes de sua vida. Uma árvore de Natal verdadeira só para ela.
– Meu Deus, crianças, nunca pensei que teria um Natal tão feliz. Obrigada, meus amores.
E por toda a semana do Natal, a iluminação continuou, pois os vagalumes, a pedido do grilo falante, acamparam por todos os galhos da grande árvore. As pessoas mais velhas diziam que aquele fato se deu por causa da derrubada da vegetação de um grande parque da cidade. Não tendo mais o abrigo natural, os vagalumes escolheram a grande árvore do asilo para ficar por um tempo. E ser dia de Natal, foi só uma coincidência. As crianças riam da história dos adultos, porque só elas conheciam a verdade.
17/09/07.
(histórias que contava para o meu neto).