MEMÓRIAS DE UMA VELHA VASSOURA

Prefácio

É engraçado e ao mesmo tempo preocupante, Qual o valor que temos; diante das mãos dos humanos? É... talvez seja muito difícil obter uma resposta concreta, ou seja; convincente. Em meus anos de existência, tenho observado e muito, tantos desaforos e descaso. Mas nada, e em momento algum, me fez entrar em pânico ou desistir de ser uma vassoura. Mas em nossa existência não deparamos só com descaso e desaforos; pelo contrário, temos muito mais aventuras e alegrias, do que tristeza. A coisa chata nisso tudo é porque não dá nos, nenhum valor.

E como dizia minha amada Vovoca... "QUEM NASCEU PRA LIMPEZA; JAMAIS DEVERÁ ACEITAR EM SER ENTULHO..."

1. Bem...; que eu me lembro, nasci das mãos de um marceneiro chamado Ribas. Eu jamais soube se era nome ou apelido dele. Ele era moreno, calvo, barba sempre bem feita e usava um boné confortável para proteger e sustentar os poucos fios de cabelos que lhe restavam na cabeça. Ah... ia me esquecendo, tinha uns braços fortes, fumava charuto cubano, gostava de beber tequila -não durante o trabalho-. Enfim, era um grande homem, -embora tivesse apenas 1,60m de altura-.

Ufa! Falar de Ribas não é fácil. Ele, às vezes; era meio rude. Certa vez, um senhor conhecido pelo nome de Austres, fisionomia camponesa, aparentava ter uns 80 anos, foi a oficina fazer uma reclamação:

-Ribas!!! Olha que serviço horrível você fez em meu banquito... O senhor Austres mal terminou a frase, e o Ribas veio doido da vida. -Que foi que fiz, Velho de lá Paris? Ele gostava de usar esta expressão para as pessoas que vinham lhe fazer reclamação. Ele se achava certo em tudo. -Como assim??? Respondeu também alterado o senhor Austres. -Será que não dá para enxergar o péssimo trabalho que fizeste aqui??? Levantando o banquito, mostrava a perna quebrada e o assento todo arrebentado. Ribas tentou e já estava todo enrolado... -Tenha paciência senhor...Lustres. e até errou o nome. -Austres!!! corrigia lhe o senhor. -De Pierrô Alcântara Austres. Ribas tentou ser mais amável. -Me desculpe, ainda ando meio sonolento. Logo passa. E o senhor prossegue. -Se o senhor Ribas, anda dormindo tarde, por motivos de farras; a culpa é toda sua. No início, sua oficina era um exemplo de organização e você,em cumplicidade com os clientes, mas passando o tempo as pessoas mudam, fazer oquê? Simplesmente mudam!

-Não! eu continuo o mesmo. Tentou novamente o Ribas.

-Ah filho; deixa de explicações. Acho que é eu estou meio chato hoje. Mas; espero até o final do dia melhorar. Passando a mão nas barbas e no cabelo grisalho, tentava animar seu próprio semblante, o senhor Austres.

-Tudo bem senhor Austres. Tudo bem! Mas; já que o senhor teve problema com seu banquito, deixa o aqui e eu o consertarei sem mais problemas. Ah... e tem mais; antes que eu me esqueça; e para preservar nossa amizade, tenho um presente pra você.

-Oquê??? Ficou todo eufórico o senhor Austres.

-É simples, mas de bom grado. E entregando em suas mãos, Ribas lhe passa um pacote.

-Uauá!!! Isso é para mim??? Vibrava o senhor Austres comigo nas mãos. Ele, me pegava com tanto carinho e dedicação, que parecia eu ser: um quadro de artes, ou um vaso de flor ornamental, ou um aquário; contendo só peixes nobres. Disse Ribas.

-Sinceramente senhor Austres, nem de longe, imaginaria que pudesse ficar tão feliz, por ganhar uma simples varre varre.

-Talvez seja simples pra você que a fez, pois pra mim é de um valor incalculável!

-Bom, se é assim... fico feliz por ter gostado e estimado o meu nobre presente, sendo por você nomeado.

Depois de toda aquela prosa e verso e agradecimentos intermináveis o senhor Austres foi pra casa, feliz da vida, comigo nos braços. Deixando o banquito na oficina para o concerto.

EdSilver
Enviado por EdSilver em 12/01/2019
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