Papaceia...
Não sei se sonhei naquela noite. Mas pouco importa,
valeu pelo embalo. Verdade foi que fiquei excitado com
a gentileza de Tia Isabel em me botar na cama e,
atendendo pedido meu, levar-me o café-com-leite e um
pedaço de pão sovado, para que eu não dormisse com a
barriga vazia.
Costumeiramente era tia Justiniana que ficava conosco
nas noitinhas, quando coincidia de papai e mamãe
estarem digladiando com os teares da fábrica. Ela era
paciente no trato e boa para contar casos, que se iam
juntando como os retalhos de uma colcha interminável.
Já tia Isabel, mais sisuda, temperava o pouco traquejo
e molejo com algum esbravejo. Daí, aquela minha
surpresa em receber na cama o café, que valia mais que
um cafuné.
Só uma coisa me deixou no entanto, meio encabulado. E
não foi a certeza de não ter que escovar os dentes
após aquela `quase-ceia de alcova`(imagino que mamãe,
lendo isso agora, ainda me puxe as orelhas), mas sim a
recomendação que Tia Isabel fez, ao me passar aquele
ágape, contido na caneca esmaltada e no pedaço de pão:
- Quando terminar de beber o seu café, não precisa me
chamar. Bote a caneca debaixo da cama, e vá dormir.
Guardei aquele conselho, mas logo me assaltou uma
dúvida, que quase me fez chamar de a tia de volta para
me esclarecer: tá bem, quando terminar, deixo a caneca
debaixo da cama, mas e o pão, onde o boto?
Não cheguei a chamá-la. A caneca sei bem onde a meti,
mas e o pão sovado, tão macio, tão docinho...que o comi!