Pulvolac e Nutrolac

Em Pitangui, o leite em pó Ninho a gente comprava só em farmácias. Um primor de embalagem, e um gostinho irresistível, que as mães consentiam que a gente experimentasse. E o comprávamos com maior frequência na farmácia do Hélio, que não sei se tinha melhor preço, ou apreço, mas lá é que papai era melhor conhecido, e o fiado lhe era permitido.

Numa época, até, enquanto vivíamos no Brumado, papai tentou conciliar as funções de operário têxtil, com a condução de uma seção da farmácia do Hélio. E nossa sala de visitas passou a abrigar uma estante para a remedaiada, uma mesinha amarelinha, os rolos de papel e outros apetrechos para o exercício daquele nobre ofício. Papai era bom mesmo na aplicação de injeções. E se tomava injeção para quase tudo naqueles anos cinquenta. E a penicilina, naquele vidrinho clássico, com o pó e a tampa de borracha era a maior vedete nas inoculações.

Não me lembra se chegamos a dispor de leite Ninho em nossas prateleiras. O poder aquisitivo da gente brumadense talvez não lhes propiciasse aquele luxo.

Tampouco, e muito menos tivemos lá o Pulvolac ou o Nutrolac. Esses eu só viria a conhecer na nossa mudança para Pitangui, já desfeita a idéia da farmácia, pois papai, entusiasmado a princípio, não conseguiu atender os casos de emergência, das batidas à janela a qualquer hora, sobretudo no meio da madrugada, às vezes por um Sonrisal, ou um Veramon...

Mas o Pulvolac e o Nutrolac, longe de formarem uma dupla de atacantes tchecos, ou búlgaros, eram, ao que me consta, sucedâneos do leite Ninho. Mais populares e integrantes de uma iniciativa de nossas autoridades sanitárias que se empenhavam para fazer o produto chegar à nutrição dos petizes. E só eram encontrados no SAPS.

O SAPS fazia parte de uma estratégia mais ampla, que buscava em cidades maiores, a oferecer cursos de formação profissional, restaurantes populares, recreação etc e tal.

Em Pitangui, contudo, era só a venda, limitada, é verdade, de produtos alimentícios. E por vezes seu preço chegava a ser menos vantajoso do que no comércio local, contrariando o princípio para o qual fora criado.

Era um órgão subordinado, na grande capilaridade, ao MTIC.

Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Anos aqueles duros, mas em que o trabalho, dignificava. E até vinha à frente de seus pares na designação ministerial.

E o SAPS foi extinto em 1967, sob o governo militar de Castelo Branco.

Leite em pó para criança, a partir de então, só o Ninho.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/11/2018
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