Omero da Ofriota e a Escripota...
Papai era fã duma diversão sadia com a sua gurizada. Instilou-nos o gosto pelos jogos de palavras, pelas anedotas e sobretudo pelas charadas novíssimas. E tudo quase sempre associado à alguma atividade que estivesse exercendo, da costura à passação de roupas ou a um momento de relaxamento depois do terço. E isso tudo sem contar a sua ocasional cantiga de ninar que invariavelmente era sobre o galo que perdera o bico e não podia mais cantar...e tudo o mais que ia perdendo, o pobre galo, ia-se incapacitando, a não ser na memória de todas as suas aflições ir lembrando...
E se não apanhamos gosto semelhante pelas tarefas domésticas que nos iriam acompanhar vida afora, ou pela reza pra qual nunca há ora - a não ser por parte e arte de mana La Toya, quedou e até cresceu o interesse lúdico, por vezes nada pudico...
E numa determinada ocasião, numa aparente tentativa de inovar o cardápio humorístico ele resolveu ditar para a dita La Toya, que como mais adiantada da turma, recebeu a distinção de ser a anotadora. E da seguinte frase:
Omero da Ofriota para quem fez a Escripota...
E em meio à nossa aguçada curiosidade, o ditador ordenou:
- Agora corte todos os Os que encontrar.
E num piscar de olhos - menos dos nossos, alvoroçados de olho na operação - La Toya cumpriu a ordem, que foi logo seguida por outra:
- Agora, leia em voz alta:
E em meio à gargalhada generalizada, La Toya foi lendo. Mas não ficou só nisso, não, pois logo bradou:
- Mas, papai, não existe essa palavra escripta na nossa língua...!
Ao que papai, de bate pronto, respondeu:
- É verdade, mas antigamente, quando eu era menino tinha sim. E se não vale o dito, publica-se o escripto...