O rito da tigelinha
A gente gela até de pensar em grafar ela...afinal é com jota ou gê, vou perguntando procê, antes de entrar no google pra tirar a dúvida de forma cabal. E até nem sei se a posso colocar na categoria das tigelas, pois essa de que falo, azul e de mais denso azul chapiscadinha até tem a sua própria asinha, e tá mais pra rasinha...Mas, definitivamente não é ela uma xícara ou uma bequinha.
Esmaltada, com duas outras companheiras, de colorações diferentes, ela apareceu lá em casa há coisa de sessenta anos, e só não afianço que era da loja do Tisnado por um certo vezo meu em achar que ele era mais pardidário do latão e dos plásticos. Esmaltado era para vendas menos periféricas que a sua.
E se mal comportou um mingau de fubá, uma canjica, na sua lua-de-mel com a criançada, a tigelinha chapiscada encontrou serventia mesmo foi nas mãos de papai, quando substituindo uma similar de alumínio, passou a ser a titular do barbear, ou seja o recipiente onde papai espremia o creme, adicionava um tiquinho de água e com um pincel curto e grosso a remexer, produzia aquele prodígio da espuma, com que, literalmente, enchia a cara.
Uns poucos minutos, sob a nossa espiação atenta, eram o bastante para que a barba se lhe amolecesse e a navalha entrasse em ação, dirriçando macia entre a pele e aquele mundaréu de espuma. Vez por outra, geralmente no escanhoar do queixo uma pintinha rubra podia brotar, e ali papai nos advertia por ai mais by os pirigo da navaia...
E ao cabo da operação, a tigelinha era cuidadosamente lavada e, na companhia do pincel, ao seu recanto de repouso retornada, bem no capital dalguma pilastra ao alcance do velho que, com mais uma loção de barbear, dessas de queimar, estava pronto, de cara limpa, para se aprontar para a ida ao encontro do Criador - que por sinal só acolhera barbados em sua Santa Ceia...a exceção do imberbe João...