Catadores de lixo
Era uma vez... dois meninos que estudavam na mesma sala de uma escola, que ficava no sopé de um morro bem alto e cheio de árvores frondosas e frutíferas. Um deles se chamava Pedro, o outro Paulo. Eram mais conhecidos por seus estranhos apelidos, Soneca e Parafuso. Soneca sempre se deitava na carteira quando a professora estava escrevendo no quadro, já o Parafuso, ficava dando voltinhas nas carteiras dos outros meninos.
Certo dia, quando a professora estava explicando o que era material reciclável, os dois ficaram tão encantados que nem piscaram, tal era o interesse dos safadinhos.
No primeiro domingo após aquela aula, eles combinaram de irem às ruas da região para catarem o que pudesse ser reaproveitado. Assim, foram de rua em rua, colhendo tudo que aparecia: pegavam tampinhas, papéis de balas, pedaços de fitas e até cacos de ossos.
A princípio, eles encheram os bolsos do Soneca. Mas lá para o meio-dia, já sem ter lugar para guardar tanta quinquilharia, o coitado do Soneca começou a pendurar objetos pelo próprio corpo. Inicialmente ele amarrou um cadarço de sapato no pescoço. Olhando para o companheiro Parafuso, disse todo sorridente:
__ Veja o meu colar.
__ Nossa, que bonito! Parece um cordão de prata.
A partir daquele momento, tudo que achavam era motivo de riso e travessura.
Quando já estava ficando tarde, ali pelas dezessete horas mais ou menos, o danado do Soneca já estava todo paramentado, parecia um espantalho maltrapilho. Era tanta bugiganga presa pelo corpo que mal conseguia trocar os passos!
De repente, o danado do Pedro disse:
__ Amigo Parafuso, não aguento mais, está muito pesado para mim.
__ Esta faltando pouco, vamos terminar, só resta uma rua.
__ Tudo bem, vamos lá...
No lusco-fusco o Soneca murmurou baixinho:
__ Não tem jeito, parece que vou morrer.
__ Tudo bem! Como você está parecendo uma bola gigante, vamos fazer o seguinte:
__ Fica quieto, que vou empurrando você ladeira abaixo, deste modo, você não precisa fazer força.
__ Tá certo!
Resmungou Soneca.
Foi assim que entraram pela última rua, uma ribanceira sem fim. Só que quando o Soneca rolou morro abaixo, tudo que era lixo foi ficando grudado nele, sem dó nem piedade. Ele virou um pegador de sujeira ambulante. O amigo, vendo que o moribundo estava em apuros, começou a arrancar tudo o que via grudado nele.
Foi aí que o Soneca começou a chorar. Chorava sem parar!
Uma senhorinha que passava por ali, vendo o desespero dos meninos, começou a rezar. Era só o que podia fazer! Quando ela terminou o primeiro Pai-nosso, as lágrimas do Soneca estavam descolando todo o lixo que havia grudado em seu frágil esqueleto.
Parafuso eufórico Gritou:
__ Aleluia! __ Aleluia! __ Vivas para o meu querido amigo Soneca!
Quando parecia que tudo estava terminado, aquela vovozinha olhou para eles e disse:
__ Vocês foram maravilhosos, mas dá próxima vez não se esqueçam que existem saquinhos de lixo para estas quinquilharias.