DELÍRIO DE PEIXE

Nada afeta, o peixe Betta,

da cauda de leque.

Ele não toca

as beiradas do calcário

e nem vê o moleque,

que espeta os olhos

atrás dos limites do aquário.

O Betta não sente dor ou tensão.

Daltônico, decerto,

não distingue a própria cor,

vermelho coração.

Mas o menino, enquanto breve observa o peixe,

atrás do vidro, delira

e pensa que o Betta para algo se presta.

“Ele quer se abrir como pavão, mamãe!”.

“Ele vai tremular para sempre seu rabo de véu!”

“Ele é um super peixe em ação,

voa no céu e luta mil guelras e peripécias!”

O menino grita, após puxar para trás

a capa encarnada que trazia:

“Apresenta-se o Betta!”

“Eis o grande cação, o maior tubarão branco que resta!”

Mesmo pequeno e vermelho,

o Betta é um tubarão branco.

O menino agora sabe porque nada afeta, o peixe Betta.

DO LIVRO:"CRIANÇA, SUBSTANTIVO SOBRECOMUM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 19/05/2018
Reeditado em 15/10/2022
Código do texto: T6341148
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