DELÍRIO DE PEIXE
Nada afeta, o peixe Betta,
da cauda de leque.
Ele não toca
as beiradas do calcário
e nem vê o moleque,
que espeta os olhos
atrás dos limites do aquário.
O Betta não sente dor ou tensão.
Daltônico, decerto,
não distingue a própria cor,
vermelho coração.
Mas o menino, enquanto breve observa o peixe,
atrás do vidro, delira
e pensa que o Betta para algo se presta.
“Ele quer se abrir como pavão, mamãe!”.
“Ele vai tremular para sempre seu rabo de véu!”
“Ele é um super peixe em ação,
voa no céu e luta mil guelras e peripécias!”
O menino grita, após puxar para trás
a capa encarnada que trazia:
“Apresenta-se o Betta!”
“Eis o grande cação, o maior tubarão branco que resta!”
Mesmo pequeno e vermelho,
o Betta é um tubarão branco.
O menino agora sabe porque nada afeta, o peixe Betta.
DO LIVRO:"CRIANÇA, SUBSTANTIVO SOBRECOMUM"