A decisão tomada pela rainha das formigas, não foi recebida com simpatia pelos moradores do país de mil e uma maravilhas. Com efeito, a bicharada se reuniu para deliberar sobre os destinos da floresta: as coisas não podiam continuar do modo como estavam. A coruja retirou seus óculos e fez deles uma tiara, colocando-os sobre a cabeça. ‘Estou desistindo de ser o símbolo da sabedoria – disse ela- Tenho investido no futuro de meus filhos, mas não consigo sequer uma vaga nas universidades, porque sou branca.’
O urubu entregou sua carteirinha de gari: ‘não trabalho mais num país em que as vacas magras engolem as gordas e mesmo com sete anos de seca, não pude armazenar nada em meu celeiro: o homem quer reciclar tudo e até os ossos ressequidos são triturados e transformados em farinha para alimentar as vacas magras, que morrem de raiva e de gorda, impróprias por tanto, para serem ingeridas por minha espécie’.
O jacaré reclamou que as piranhas se mudaram para a cidade. A onça abanou a cabeça, em concordância e acrescentou: ‘os veados também’.
Todos reclamaram do pardal que abandonou o cargo de professor e foi mendigar nas cidades, viver das migalhas que sobram na mesa do homem.
O mico reclamou da escassez de resinas, por causa do desmatamento. Enfim, tomaram uma decisão: mudar para a cidade, abandonar a floresta e habitar entre os homens. Restava, no entanto, distribuir o território. Quem ficava onde...
Sem chegar a um censo comum, o rato mudou-se para Brasília. O urubu tomou a liberdade de morar em qualquer cidade suja e a coruja resolveu voltar a morar em cavernas e buracos, onde imperam a escuridão e as trevas.