Papo de padaria
De músico na genética e até no apelido, o Cuíca, atende também por Ricardo. E como sói, pra completar, tem José e Silva. Seu negócio, quando não é pescar, ou tombar gélidas loiras no Arrastão das terças-feiras, não raro bravateiras, contudo, e bem contado, é a padaria, do Pão Nosso de cada dia, que há algumas décadas comparte com o vizinho, também músico, Nirinho. E me arrisco dizer que se não são parentes, são convergentes. Fui colega escolar de ambos, em tempos diferentes.
Sem diferir um dó de um fá, tone-deaf, como se diz na terra dos Beatles, dá-me sempre gosto dialogar com o Ricardo, com quem convivi em bancos escolares de agosto de 58 a dezembro de 61, em Pitangui. Eu havia iniciado minha alfabetização - ou foi alfapetização ? - no distrito operário de São Gonçalo do Brumado, e viera acompanhando a família para a sede municipal. E foram três anos e meio de companhia no já então vetusto Grupo Escolar Professor José Valadares, o grupo véi, ou mais lugrubemente ainda conhecido como o Tangará, por se abrigar no sobradão outrora imponente que pertencera à Maria Tangará, uma condestável da Velha Serrana, de quem se falavam horrores, temores, terrores.
Os reencontros ocasionais com o Ricardo, que é um dos pouquíssimos remanescentes colegas que ainda me é possível achar - os demais, ou revoaram, ou tão inconspícuos se tornaram - servem-nos para afastar o Alzheimer de nós ambos, enquanto é possível. E enquanto o café não esfria...
E modéstia, ou mesmo moléstia, a parte, nossas recordações coincidem quase na totalidade, desde os traços anatômicos promissores daquelas que viriam a se tornar musas para tanto poetar, quanto até o artelho mindinho faltante do Wandeir, irmão gêmeo e mais mau do Wanderley...a dúvida fica só se era do pé direito ou do esquerdo...
Dia desses, desafiei o colega a nomear os pares de irmãos que tivemos como colegas. Partindo dos WW acima, acho que chegamos a uma meia dúzia, como o Eduardo e o Élisson, o Tarcísio e a Maria Raimunda, o João Batista e a Nazaré - do nome dela eu não me lembraria sozinho...,
do Valdir e da Vera Lúcia, do João Batista e da Francisca, filhos do sapateiro Ducha...e, por quê não, de nós mesmos ali com o café já friim da silva...?